OPINIÃO
O que o Hamas fez tem nome, terrorismo. A violência concreta, cruel e histórica, contra palestinos, cometidas pelo Estado de Israel, também é terrorismo. O conflito que os envolve [que não se resume a eles] não é história que se entenda lendo Wikipédia. Mas tão logo foram noticiados os fatos do último 7 de outubro, os juízes das redes sociais já sacramentam o veredito. A julgar pelo posicionamento distorcido, parecia que a guerra havia começado ali, há poucos minutos.
Em situações como essa, como de costume, uma tag se prolifera. A julgar pelo “ore por Israel”, imagina-se que os palestinos assistiam de camarote, tomando suquinho de laranja, com vista panorâmica para um horizonte cinzento. Quem conhece o básico das nuances do conflito sabe que não. Sabemos muito pouco do que se passa do lado de lá da cerca. As vozes palestinas não ecoam no mundo ocidental com a mesma força.
Antes que digam que trago aqui uma justificativa para o que fez o Hamas, destaco que este artigo, sem grandes pretensões, é mais uma reflexão sobre as entrelinhas da dita tag “ore por Israel”. Ela incorpora essa parcialidade midiática que abraça uma visão pós verdade do mundo.
Uma pergunta sincera: alguém consegue contemplar Deus na violência israelita contra palestinos? Ou isso só vale para os atos recentes do Hamas?
Ainda que pesem simbolismos religiosos, o conflito não se restringe a fé. Se o resumimos a isso, cairemos na vala comum das distorções. O silêncio, especialmente nessas horas, é um santo remédio, ainda mais se vier acompanhando de leituras, mas não, você não vai entender esse conflito lendo a Bíblia.
Não consigo ver o amor de Deus na modinha “ore por Israel”. Aliás, chega a ser cruel que hajam, entre professos cristãos, quem ouse ter predileções nesta ou em qualquer guerra, a ponto de ignorar a história. Por sorte, creio: Deus é quem mais sabe da história, ele reconhece a face dos oprimidos, seja na Palestina – que tem o direito de ser um estado, seja em Israel.
Orar (só) por Israel é ignorar a dimensão de um conflito complexo. É negar que do lado Palestino existam, diariamente, mortos e feridos. É negar que o terrorismo desta guerra não começou com o ataque do Hamas. É deixar de ouvir vozes palestinas. É relativizar a dor, a opressão e por fim, relativizar Deus.
Nessa guerra ele tem lado? Hamas, Israel? Penso que não. Dos oprimidos tenho certeza.