OPINIÃO
Tenho para mim que as palavras são peças em um guarda-roupa. Há expressões que cabem, outras não. Tenho cisma (lembrei de minha vó) com algumas. Intelectual é uma delas. Sim, como adjetivo atribuído a alguém. Em Pedreiras se tem um fetiche com essa expressão, só perde para o tesão por diploma.
O termo me remete a alguém que ao longo da vida acumula conhecimento sobre determinado campo e a sociedade reconhece isso. Neste sentido, Pedreiras está farta de intelectuais. São tantos que não cabem nas prateleiras. Não, o Joaquim não está criminalizando este acúmulo de conhecimento, inerente a todos. É tão natural quanto respirar. Mas o sentido de intelectual, cotidianamente reproduzido, sugere um distanciamento, um encantamento ilusório.
No popular, intelectualidade soa como superioridade. Acho patético. Seu João, lá na roça, com seus saberes não é também intelectual, ou só será se tiver publicado um livro e fizer parte de alguma organização que de concreto só enfeita biografias? Seu saber é menor?
Intelectualidade é bolha.
Acumular conhecimento para quê? Levar consigo ao túmulo? O conhecimento que te atravessa impacta o mundo de que forma? É tua ilha? Prefiro ser nascente e ao mesmo tempo ser o sedento. Um ciclo constante e perene. Sabe aquela história de que até o último suspiro aprender é possível. Creio nesta premissa com muita força. Mas não aprender para acumular e não dividir. Não um saber para ser intelectual, ter ciência sobre algo mais do que outros e nisso me achar superior. Aprender pra dividir, pois assim a caminhada é mais bonita e fraterna. Na aridez de uma sociedade individualista, repleto de intelectuais, eu quero ser água de poço.
