25 C
Pedreiras
quinta-feira, dezembro 12, 2024

Palácio do Planalto: depois de um dia longo a morte tem para onde voltar

É difícil digerir o arrependimento de parte dos eleitores de Bolsonaro, gente como o cantor Fagner, que disse “parece que está em surto”, referindo-se ao Presidente da República. Mas o intérprete da célebre “Borbulhas de amor” se esquece que a vida política de Bolsonaro sempre foi um surto, alicerçada numa distopia mui distante da realidade. Fagner e os outros integrantes da trupe de arrependidos eleitores do “Mito”, jogam panos mornos no fato de que o Bolsonaro deputado é a mesma figura em decomposição que comanda o maior país da América Latina.

Bolsonaro só é um personagem quando o assunto é anticorrupção. Veste uma carapuça que não lhe cabe, mas sua sagacidade é tamanha que convenceu Moro, o vulgo mais ilibado dos brasileiros. A máscara caiu quando o ex-juiz viu sua autoridade declinar ante os interesses, nada republicano, do chefe da nação, em prol de seu filho, o Senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

“O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, disse o ministro na ocasião do anúncio de sua demissão.

O plano de fundo da ruptura seria a interferência da Presidência da República numa das mais respeitadas instituições, a Polícia Federal, isso em um país onde até a mais alta corte, o Supremo Tribunal Federal, é desacreditada. O objetivo seria salvar a pele do rebento senador no caso das “rachadinhas”, que acabaram por envolver não somente Flávio e o famigerado assessor, Fabrício Queiroz. Nas redes sociais, até hoje, uma pergunta continua sem resposta: “Por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro, primeira-dama do Brasil?

Quando se trata de Bolsonaro não existem desavisados.

A indigesta cena de sua fala, quando deputado e na ocasião da votação do impeachment de Dilma Rousseff, foi o sinal mais claro, em rede nacional, sobre a natureza de um ser cujas palavras são sempre um eco da morte.  “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim”, proferiu naquela altura o deputado Jair Bolsonaro. Foi a esse ser execrável, que um contingente expressivo de brasileiros delegou o destino da nação. O presente cumpre sua função e o peso da escolha recai para além dos arrependidos. Estes argumentam que não imaginavam um Bolsonaro cruel para além das palavras, ledo engano.

A pandemia da Covid-19 tem sido a oportunidade perfeita para que Bolsonaro transforme suas retóricas em ações concretas. É um genocida, fala como e se orgulha disso. Subestimou a crise, demitiu ministros da saúde por não concordar com a ciência, que apontava como melhor saída o lockdown. Acostumando a não dar trela para os números da ceifa pandêmica, culpou a imprensa por divulga-los diariamente. Morte e democracia são opostos.

Bolsonaro faz do seu corpo, em decomposição moral, um hospedeiro da morte, institucionalmente tão letal quanto o próprio vírus. Ambos caminham no mesmo sentido: exterminar. Faz isso quando minimiza a crise, quando diz aos quatro ventos que a cloroquina é o remédio contra o vírus, à revelia de um posicionamento da ciência, quando alardeia que não tomará vacina e questiona sua obrigatoriedade, mas não o faz amparado na história.

Comporta-se desta forma por compreender a força que sua oratória, afoita, tem sob uma parcela social que abarca, inclusive, a fatia dos arrependidos, prontos para abraçar qualquer argumento insalubre que mitigue o peso do voto manifestado na urna. Travam uma luta interna ao perceberem que elegeram a pior opção posta no pleito de 2018.

A morte encontrou no “Mito” um servo bom o fiel. Alguém que sabe ser inoportuno no que faz e fala. Não se contenta em testar sua popularidade enquanto come pastel causando aglomerações. Vai além. No primeira segunda-feira do ano (4), sem máscara, foi tomar aquele banho de mar no litoral paulista. Pousou para fotos, abraçou banhistas, isso tudo quando o mundo passou a temer variantes do vírus com capacidade de transmissão potencializada. “Lockdown no Reino Unido: os números alarmantes que fizeram o país decretar novo confinamento”, diz uma das manchetes do portal G1 no dia 05 de janeiro. No mesmo dia em que a Agência Brasil informa, “São Paulo confirma dois casos da variante inglesa do novo coronavírus”.

No Brasil o número diário de óbitos cresce e rapidamente batemos a marca de 200 mil mortes por Covid-19 no país. Estamos apenas atrás dos Estados Unidos, nosso modelo de felicidade. Bolsonaro tem parte nessas mortes. Sua postura cotidianamente debochada é o retrato mais fiel de alguém que há tempos deixou de cumprir os juramentos feitos perante a Constituição Federal. Não fosse os contrapontos dos governadores, as baixas seriam maiores.

Bolsonaro não é louco, não age como uma criança, é na verdade um genocida com ampla ciência das consequências de seu não estadismo, sem apreço pelos brasileiros e nisso faz jus à aqueles que lhes inspiram.

Sob Bolsonaro os brasileiros morrem, o Brasil morre, a Amazônia morre, o Pantanal também. “A maior floresta tropical do mundo perdeu no último ano 11.088 quilômetros quadrados de área, o recorde em 12 anos. Ibama, que em sua ‘melhor fase’, em 2009, tinha 1.600 pessoas zelando pelo cumprimento da legislação ambiental brasileira, agora não tem nem 700”, informa uma reportagem do El Pais publicada nessa semana. A Amazônia sem uma fiscalização atuante é terra fértil para todo tipo de crimes ambientais. A floresta e seus povos padecem.

Estes são fatos isolados, a raiz dessas trevas é Bolsonaro e sua agenda pró-morte. Por menos, muitos menos, Dilma caiu. Mas apesar dos conflitos com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a queda de Bolsonaro não é uma realidade palpável. O mais incrível é que tem mantido sua popularidade. Em decorrência do Auxílio Emergencial? Acredito que não!

Bolsonaro é uma dor de cabeça que não passará tão logo e o eco de suas ações e omissões, enquanto presidente, ecoarão por longos anos ainda. É um flagelo à democracia. Foi sendo aceito, naturalizado, inclusive pela mídia, que diariamente ele adora confrontar.

A morte achou em Bolsonaro uma ótima companhia.  

- Publicidade -spot_img
Colabore com o nosso trabalho via Pix: (99) 982111633spot_img
Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
- Publicidade -spot_img

Recentes

- Publicidade -spot_img

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Notícias relacionadas