OPINIÃO
No Brasil a pessoa se torna independente quando completa a maioridade, aos 18 anos. É quando, o indivíduo deixa a tutela dos pais e pode ser responsabilizado por todas as suas ações. No entanto, sabemos que não existe independência absoluta, já que viemos de uma família e assim mantemos esses laços, como também porque partilhamos uma sociedade com outros indivíduos.
Quando olhamos para a independência de uma nação, a situação é parecida, no que concerne a questão da não independência absoluta, já que interdependemos de um sistema global e dinâmico, principalmente em relação à economia, fenômeno que tem se intensificado no mundo globalizado.
Embora saibamos disso, toda nação deve ao máximo buscar a sua independência, no que diz respeito a não ser menosprezada a nível internacional e ter pujança econômica e cultural que não inferiorize sua população. Isso só é possível quando valorizamos nosso povo, nossa cultura, nossa tradição e quando buscamos desenvolver e melhorar a vida das pessoas que vivem no país.
A função do Estado, das instituições e dos verdadeiros patriotas é melhorar a vida do seu povo. Por isso, no Brasil ainda temos muitos problemas com o termo “independência”, já que passados 200 anos desse acontecimento histórico, vivemos muito aquém de uma verdadeira soberania e independência.
O Brasil hoje possui 11 milhões de analfabetos e 29% da população de analfabetos funcionais, mais de 10 milhões de desempregados; a grande maioria de famílias pobres sem acesso a saneamento básico; e mata grande parte da sua população negra e as lideranças de movimentos socias da cidade e do campo; sem falar na quantidade de pessoas que hoje passam fome e estão na fila do osso ou sem nenhuma perspectiva de se alimentar. É nesse contexto, de muita insegurança jurídica, social, econômica e da violência, da sabotagem pelo atual governo da nossa política ambiental e indígena e das vendas de nossas riquezas para o capital externo, que não podemos dizer que somos um país verdadeiramente independente. Enquanto parte dessas mazelas não forem diminuídas ou dizimadas, ainda seremos um país muito dependente.
De nada adianta, bradar o lema de patriotismo, de nada vale falar em soberania, quando o principal representante do governo faz continência a bandeira dos Estados Unidos; ou quando vendemos as nossas empresas a um preço irrisório a grupos estrangeiros. De nada adianta grandes paradas militares para exaltar o 7 de setembro; enquanto os cidadãos estão em total desalento e sem perspectiva de futuro. A verdadeira independência é mais que um “grito no Ipiranga”, é mais que trazer um órgão de D. Pedro I à nação outrora Colônia. Ser independente é sair das garras das grandes corporações internacionais e dar verdadeira cidadania ao seu povo.
O Estado brasileiro deve muito ainda a seu povo. No entanto, mesmo com todas as problemáticas citadas, nós ainda temos muito do que se orgulhar desse país, principalmente dos valores de seus verdadeiros patriotas e da sua tão rica cultura. Esse povo que quis sempre ser livre e que através de três matrizes de povos tão diversos, fez surgir esse bonito povo brasileiro.
Enquanto formos a nação da fome nossa independência estará em risco. Mas, enquanto formos resistência nossa esperança permanece.
Por Jaime Ribeiro Lopes, professor de Geografia e militante do Partido dos Trabalhadores (PT).