Por Joaquim Cantanhêde
Há uma África no Brasil, por muito tempo silenciada. Imperava nos livros de história a narrativa colonizadora e simplista que reduzia os negros arrancados do continente africano à mera mão-de- obra. Engano é supor que as práticas, o conhecimento milenar e histórias de vida não lhes tenham acompanhando rumo à terra de seu “holocausto”. Com os negros escravizados vieram memórias, simbolismos, crenças e potencialidades que outrora constituíam “(…) um patrimônio cultural material e imaterial inscrito nos objetos, hábitos, textos orais e escritos, rituais e muitas outras, saberes que dizem respeito a diversas áreas” (DUBIELA; WAMBIER, 2016, p. 02).
Nos quilombos, espaços de resistência, esses saberes foram preservados e diante das imposições dos colonizadores brancos se fizeram resistência. No entender de Nilma Gomes (2003), o refletir sobre as influências das práticas culturais africanas no Brasil deve levar em consideração seu comportamento frente a outros modos culturais desenvolvidos no Brasil. Em contato, essas práticas se perpassam, se reconfiguram e hoje sedimentam um país culturalmente diverso e ainda substancialmente desigual, fenômeno que também assimila questões étnicas. Nossa musicalidade, literatura popular, forma de vestir,
práticas religiosas, entre outros exemplos, confirmam a importância da cultura africana na constituição da identidade nacional brasileira.
A série fotográfica “Tenda Santa Bárbara: o humano e o sagrado”, documenta os processos de resistência e memória da ancestralidade africana através da prática religiosa da comunidade quilombola, Morada Nova, em Lima Campos, Maranhão. Traz recortes visuais dos encontros entre o visível e o invisível, a religião como espaço de vínculos e protagonismo social. Valoriza o movimento, o envolvimento, as feições e cores. É também um convite para a tolerância e a contemplação de uma prática religiosa cujo simbolismo não se restringe ao diálogo sobre espiritualidade. Em um país marcado pela intolerância religiosa, crer a seu modo é um ato político. Nesse aspecto, os terreiros se estabelecem como espaço de fala, cultura e educação. Através da fotografia reafirma-se a força de nossa pluralidade em detrimento dos desafios sociais que a interpõem.
REFERÊNCIAS
DUBIELA, Jayme Leonardo; WAMBIER, Sandro Marlus. O reconhecimento e a valorização da cultura africana no Brasil. Disponível em <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_ pde/2016/2016_artigo_hist_ufpr_jaymeleonardodubiela.pdf>. Acesso em: 24.ago.2019.
GOMES, Nilma Lino. Cultura negra e educação. Disponível em: < http://www. scielo.br/pdf/rbedu/n23/n23a05.pdf >. Acesso em: 25.ago.2019.