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domingo, fevereiro 16, 2025

Violência contra a mulher: as faces de uma agressão

Uma tarde atípica no terminal rodoviário de Pedreiras, Maranhão, construiu um cenário de inquietação e revolta na última terça-feira, dia 18, após a divulgação de um vídeo, onde uma mulher vítima de agressões pelo parceiro era assistida e filmada pelas pessoas que estavam por perto. Um crime, configurado na Lei nº 11.340/06, à violência doméstica e familiar contra a mulher e que apresenta nos detalhes específicos deste cenário, o papel dos envolvidos direta e indiretamente na efetivação do crime.

O caso ganhou repercussão na cidade pelo teor das agressões e pela forma com que as pessoas, presentes no local, assistiam e filmavam sem interferir na situação. No Brasil, onde os casos de violência contra a mulher são alarmantes. Segundo dados do Ministério da Saúde a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por um homem. Geralmente a violência doméstica ocupa a maior porcentagem dos casos, configurada como a principal em casos de feminicídio. Mas quando a violência acontece aos olhos da sociedade há um escape?

“Na verdade, eu não tenho nada a ver com aquilo ali, como é que eu vou apartar uma briga que eu não sei quem é e o que estava acontecendo”, relatou Francisco Fernades, mais conhecido como Ceará. Ele que trabalha há 14 anos no terminal rodoviário de Pedreiras, com vendas de acessórios e aparelhos eletrônicos, teve sua imagem vinculada às cenas que circularam nos últimos dias após segurar a vítima da agressão para que ela não prejudicasse ainda mais sua mercadoria. “Peguei ela pra ela não bagunçar a minha banca, depois o cara chegou e pegou ela”, relatou.

A delegada Silvana Carvalho da Delegacia Especial da Mulher, à frente do caso, em entrevista ao O Pedreirense relata que após tomar conhecimento das agressões por meio do vídeo, encaminhou dois policiais para investigar o caso. “Os policiais conduziram o casal para cá, eles foram ouvidos e liberados”, declarou a delegada. Questionada sobre as agressões, ressaltou: “ficou claro que ele agrediu a vítima, nós a encaminhamos para o hospital pra o exame de corpo de delito e foi instaurado inquérito para a apuração dos fatos, vamos ouvir outras testemunhas do caso”, finalizou a delegada.

Enquanto muitos atribuíram a culpa do crime de agressão à própria vítima, por atitudes cometidas antes da violência. Nas redes sociais, pessoas se solidarizaram e expressaram, através de textos, a revolta contra o agressor e às pessoas que presenciaram o acontecimento. “É preciso muita reflexão. Nós mulheres termos que conviver, em pleno Agosto Lilás, com cenas de brutalidade e desumanidade como as cenas ocorridas na rodoviária de Pedreiras. Mais sororidade”, lamentou uma internauta.

O mês de agosto, também conhecido como “Agosto Lilás”, é uma campanha Nacional que faz referência à data de sanção da Lei Maria da Penha, promulgada na Lei 11.340, no dia 07 de agosto de 2006. O objetivo é conscientizar a sociedade sobre o combate à violência contra a mulher. De acordo com a Secretária da Mulher de Pedreiras, Cícera de Maria Alves é durante este mês que as campanhas se intensificam. “É um mês totalmente dedicado ao combate à violência contra a mulher, porque são 14 anos da Lei Maria da Penha e sabemos que até aqui tivemos muitas conquista, mas precisamos lutar mais ainda para conseguir realmente alcançar o nosso objetivo”, declarou a secretária.

O olhar da sociedade que dificulta o combate à violência contra a mulher

A luta da mulher na sociedade é histórica e carrega marcas. A principal bandeira que representa esta luta é a do feminismo, um movimento que trabalha não somente a violência contra a mulher e o combate ao feminicídio, mas a busca por direitos igualitários que deslegitime os muitos discursos pejorativos que reduzem a importância da mulher na sociedade.

A professora de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Lourdes Maria Bandeira, uma das responsáveis pela elaboração da Lei do Feminicídio e integrante do consórcio que criou a Lei Maria da Penha, afirma que os discursos provocam grande impacto na sociedade e contribuem para a efetivação da violência. “Uma sociedade profundamente patriarcal e racista e isso interfere não só no senso comum como cria uma resistência às políticas destinadas às mulheres. Cria uma resistência ao combate à violência contra as mulheres. Cria uma resistência à credibilidade das mulheres, às denúncias quando elas vão numa delegacia”, declarou.

O combate à violência contra a mulher ainda apresenta uma longa caminhada de desconstrução e práticas sociais. Enquanto uma parte da sociedade busca justificativa para um crime de agressão e brutalidade, outra busca no “grito”, formas de conscientizar a população sobre esta realidade.

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Mayrla Frazão
Mayrla Frazãohttps://www.opedreirense.com.br
Jornalista - Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão (UniFacema)
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