A prova mais esperada por aqueles que desejam ingressar em uma universidade pública é o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que teve seu primeiro dia, neste domingo (21), marcado por questões, que para muitos, foi pretexto para uma série de críticas ao governo de Jair Bolsonaro. O exame, trouxe como tema da redação a “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, logo de início, internautas nas redes sociais questionaram o tema como complexo a estudantes de escola pública, por outro lado, ampliou críticas ao governo.
No twitter, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) Iago Montalvão, enfatizou a dificuldade de pessoas trans e travestis obterem o nome social, o que invisibiliza este grupo e dificulta o acesso à cidadania. “Uma das principais invisibilidades em registro civil e que prejudica muito acesso a cidadania no Brasil é o fato da dificuldade de trans e travestis obterem seu nome social! Essa é a triste realidade, e se for essa a prova com a cara do governo, Bolsonaro falou a verdade”, escreveu em seu perfil pessoal no Twitter.
O tema abre discussões para as mais diversas formas de invisibilidade. “Para garantir o acesso ao registro civil no Brasil é obrigatório se pensar em políticas públicas que incluam a população LGBT, povos originários e pessoas que estão em locais isolados. E a pergunta que fica: quanto o governo Bolsonaro fez?”, questionou Bruna Brelaz, presidenta da UNE.
Neste ano de 2021, período em que o ENEM atravessa uma crise “sem precedentes” no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), após a saída de 37 funcionários às vésperas da aplicação da prova e em um momento em que o presidente declara ser esse um ENEM com “ a cara do governo”, algumas questões chamam atenção.
Na parte de ciências humanas, o caderno traz questões sobre racismo. Em outro enunciado um trecho da música Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho. A canção, lançada em 1979, leva a uma reflexão sobre os anos de ditadura, embora “gado” seja também muito associado à figura dos eleitores e seguidores do presidente. Por isso, a temática geral da prova chegou a surpreender muitos candidatos. Qualquer semelhança seria mera coincidência? “O Enem é fruto da resistência dos servidores. Não podemos parar de repetir isso. Não podemos parar de defendê-los”, disse o professor da USP, Daniel Cara.
A falta de acesso à internet, tecnologia e à educação diante da pandemia e do olhar e suporte do poder público, tornou este, o ENEM com o menor número de candidatos inscritos (com cerca de 3,1 milhões), por isso, muitos consideram esta edição como o “Enem da Desigualdade”, uma vez que, estudantes pobres, pretos e indígenas, em sua ampla maioria, não se inscreveram.