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domingo, setembro 8, 2024

Sem água até para engolir o pão que o Diabo amassou

OPINIÃO

Playlist nenhuma, no Spotify, agrada tanto aos nossos ouvidos quanto o barulho das gotas de água despencando sobre a superfície desbotada de um balde quase sempre seco. Nada é tão sensual quanto as curvas úmidas de uma caixa d’água cheia, a ponto de transbordar. Lá em casa batemos com um cabo de vassoura para termos noção do nível de água armazenada. Banhar sob chuveirinho que pai improvisou no quintal é tipo, uma festa de gala. Se o dia foi de trabalho, a noite exige-lhe bastante paciência para esperar a bendita chegar.

Quem não tem tanta é o pé de alfavaca já murcho. O gato que a gente cria se vira como pode. Se de um lado nos fazem comer o pão que o Diabo amassou, do outro nos negam a água para a descarga.

Essa nossa vida real, não tão glamurosa quanto os plenários e seus discursos, já não nos permite esperançar diante dos que apresentam soluções fáceis para um problema que há décadas nos aflige. Nesse contexto, a política cumpre bem seu papel teatral de nos vender ilusões. De certo sei que não ter acesso à água é uma violência, mas quem é tido como culpado por ela? Quem responde pelo descaso?

Dizem que todo azar para pobre é pouco. Errado não estava quem inventou esse dito.

Na quarta, à tardinha, tão logo a água chegara, tratamos de encher tudo o que fora possível. Logo cuidei de tomar banho. Pai, por sua vez, já aguara as plantas que de imediato pareciam ressuscitar. Restava apenas a caixa d´água de 1000 litros. Minutos depois, ao passar pela Avenida Rio Branco, me deparei com um cano estourando bem no centro da cidade. Já era! O custo foi chegar em casa e já não achar água. Neste sábado (24), se quis escrever essa crônica minimamente limpo, recorri à casa de meu avô na Boiada.

Enquanto isso a gente celebra carros-pipas. Por aqui, desde que foi anunciado o envio de mais um, nem sinal de pouso. Cerol resolve?

Quando a falta de água será tratada com seriedade, sem teor panfletário, com transparência e ciência? Mas querem nos fazer crer que é uma questão de bomba, reservatórios aqui e ali. Isso é simplório demais.

Se a CAEMA de Pedreiras (MA) não gera lucro, como me disse um ex-funcionário certa vez, haverá vontade política, que não é nada sem grana, muita grana, por sinal? Me parece nítida a apatia que o Governo do Maranhão tem manifestado ao longo dos anos. Ficar cobrando a CAEMA (Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão) quando soluções a longo prazo passam pelo executivo estadual não nos tem sido a decisão mais acertada.  

Estará o Ministério Público do Maranhão (MPMA) esperando provocação maior que a rotina (lata d’água na cabeça) dos moradores do bairro Goiabal, local em que abriga a Promotoria de Justiça e o Fórum Desembargador Araújo Neto?

O que mais me espanta é a festinha que a gente sempre faz quando alguém do alto escalão do governo vem à Pedreiras. Perde-se um tempo valioso com poses, enquanto parte da população não tem motivos para rir. Ninguém, nem os políticos e seus babões, querem estar confinados em nosso reality show.


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Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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