“Quando você chegar é só me procurar, vou tá na beira rio ajudando um amigo”, mensagem enviada por Jardel Silva dos Reis (34 anos), às 6h45 da manhã de sábado (19/09). Dessa forma, acompanhando a instalação da rede elétrica para atender a um balneário, às margens do Mearim, encontramos o campesino que acompanha o prefeito Antônio França na controversa disputa pela reeleição.
“De onde saiu?”, indaga a terra tão complacente com quem vem de fora. “Traque”, “bucha de canhão” e até de “moleque” foi chamado após ter sido confirmado como pré-candidato a vice, na convenção do Democratas, realizada em Pedreiras (MA), na quinta (17/09).
Quem é Jardel Reis? Apenas um migrante de Poção de Pedras, com seis anos de idade, fugindo da miséria? De que modo passou de candidato a vereador a compor à chapa para o segundo cargo mais relevante? Detalhe importante em um contexto onde Antônio França se acha sem os apoios de outrora. Em sua residência, cujo o laranja das paredes deve ser substituído pelo azul, nos próximos dias, Jardel, com nítido bom humor, recebeu O Pedreirense.
“De início falei para ele que não. Passou na minha cabeça como as pessoas iriam recebê-lo como candidato a vice-prefeito e o que falaria para elas naquele momento”, descreve Aldenires Maria de Lima Silva, sobre os momentos que antecederam o anúncio do nome do esposo. Ela o observa durante a entrevista, ao lado dos filhos e de amigos.
O Pedreirense: Como se deu o processo que culminou com sua escolha para candidato a vice na chapa encabeçada por Antônio França?
Jardel Reis: É uma coisa incrível. Saí de casa como pré-candidato a vereador. Chegando lá, um amigo chamado Josiel pegou na minha mão e disse: “O Antônio quer falar contigo urgente”. Do Clube W10 fui para o Castelo. Antônio estava em uma reunião e disse: “Deus vai colocar um vice no meu coração hoje à noite e vamos para o W10”. Saindo de lá ele pegou na minha mão, olhou pra mim e perguntou: “Quer ser o meu vice?”. Respondi: “Antônio, eu não tenho nobreza pra isso. Aí tem médicos, vereadores, empresários, pessoas com mais influência do que eu”. Ele: “Eu tô te perguntando se tu quer ser meu vice”. Aí falei: “Se for para o bem do grupo, para seu bem e ajudar nosso povo, estou disposto a aceitar”. “Pois fica perto de mim, pois tenho outra coisa em mente”, ele disse. Fomos para o W10 e quando ele viu aquela multidão que o abraçou, acolheu, aquela alegria toda, em cima do palco me abraçou e falou: “Jardel, você é meu vice”. É uma coisa que não esqueço. “Antônio, tu é doido” e ele: “Senta lá atrás, fica tranquilo, que quando for o momento exato te chamo”. Naquele momento passou várias coisas pela minha cabeça. “Senhor, dei-me sabedoria, me prepara para esse momento”. Então ele deu aquele discurso emocionante, de desabafo, decepcionado com algumas pessoas. Ele falou: “Leva o Jardel para o meio do povo”. Estava um pouco apreensivo. A gente pega um baque. Daquele trajeto, de onde estava até o palco, de onde anunciou “Jardel Reis”, não ia caminhando, era Deus que ia me levando. Estava anestesiado, minha mente limpou e Deus colocou as palavras no meu coração.

OP: Antes de ser anunciado na convenção já se cogitava essa possibilidade? Você se imaginava vice?
JR: No domingo, cheguei na casa do Antônio França e Katyanne Leite disse: “Antônio, tu tá procurando um Pokémon, coisa que não existe. O teu vice tem que ser o Jardel. “Calma que Deus me dará um vice”, disse ele. Entraram num debate os dois. Ernesto, um grande amigo meu, disse: “É tu Jardel, não tem outro”, isso no domingo. Não! Se nos bastidores o pessoal estava sabendo, mas eu estava “inocente”. Não sabia.
OP: Por que foi o escolhido?
JR: Tenho certeza que é uma obra de Deus. Ele não escolhe capacitados, mas capacita os escolhidos. Antônio disse que Deus iria colocar o vice no coração dele. É uma obra de Deus, algo que vem para o bem de todos e ele tá preparando o melhor para todos nós.
OP: Como sua família recebeu a decisão?
JR: Ficou muito feliz. De primeiro momento, foi uma coisa incrível para todo mundo. Ficaram felizes, me parabenizaram. Minha comunidade, outras comunidades, todo mundo tá, “Parabéns! Nós vamos ter um vice-prefeito da zona rural”. Minha esposa no momento ficou, “Jardel, é uma responsabilidade muito grande”. Ela tremia. É aquele ditado, Deus escreve certo por linhas certas. Ela só coloca uma pessoa em um lugar, onde ela deva estar.
OP: Temos seis candidatos a vice-prefeito de Pedreiras. O que você tem de diferente dos concorrentes? De que forma pensa em somar caso seja eleito?
JR: Primeiramente, sou da zona rural, venho de família humilde. Tudo o que tenho aqui sempre foi trabalhando com muito suor. Quem me conhece sabe. Pé no chão junto com minha esposa. Tudo o que temos conseguimos juntos, mérito meu e dela. Vim para somar, fazer o que for melhor por Pedreiras. Não vim para barganhar nada, ou seja, não quero nada em troca. Não vou me corromper, não serei um vice de gabinete, serei o vice da zona rural. Quem quiser me procurar poderá vir à minha casa. Quero ser diferente dos que já passaram por lá: vices, prefeitos, vereadores. Se Deus tá me colocando é para fazer isso. Quero ser uma luz no túnel, na vida das pessoas, da zona rural e da cidade.

OP: Temos um histórico de vices apagados, sem nenhum destaque. O contribuinte paga um salário considerável para eles, atualmente R$ 11.00,00. O que fará de diferente em relação ao vice atual, Everson Veloso, e os que já passaram?
JR: Muitas vezes um vice não termina um mandato por querer ser o prefeito. Serei o vice da zona rural, o vice de Pedreiras. De tá na minha caminhada, na rodoviária para tomar café, num ponto de moto táxi, de ir na igreja, uma coisa que é natural. Não posso perder minha essência, minhas raízes. Tenho que manter minha origem. Ser o vice do povo. Não um vice de gabinete, que não faz nada. Por que não faz? Por não ter interesse de fazer e se esconder nessa história de que o vice não tem poder, não pode fazer. Pega os vereadores, coloca um projeto na câmara, leva para a zona rural. Se “colocar a cara a tapa” ele pode. Serei esse vice. Sempre digo: sou Jardel, não mudei. Se quiser alguma coisa vá lá em casa, me procure. Serei o vice do povão.
OP: Quando você enfatiza que é um vice da zona rural, campesino, muita gente diz que você quer se fazer de coitadinho. Como recebe esse tipo de interpretação?
JR: As críticas vão existir, isso é fato. Terei que saber engolir e digerir. Não estou me fazendo de coitado, inocente, estou falando minha realidade. Agora por ser um vice da zona rural eu não sou um pobre coitado, um qualquer. Tenho minhas qualidades e origens. Sou tranquilo, honesto. “Sou um coitadinho”, para que vou dizer isso? Não tenho necessidade e nunca tive. Agora se me perguntarem de onde sou e minhas origens, vou dizer a verdade. Ou vou dizer que sou um fazendeiro, igual perguntaram? Não! Sou filho de dois lavradores, trabalhei na roça, fui motorista, ajudante de pedreiro. Sou Jardel Reis da zona rural. Conhecido, por vezes líder comunitário, jogo bola, vou aonde quero.
OP: Ser do campo é um azar ou uma virtude?
JR: Uma virtude.
OP: Por quê?
JR: O campesino nasce com essência, transparência e aprende a verdade. Não tem que fazer nada para querer se enaltecer. Penso que as pessoas, os empresários, a “elite de Pedreiras”, tem que parar com essa ideia que só pode ser um vice-prefeito se for um empresário, um médico. Porra, não! Por que nós não podemos ser vice, chegar à prefeitura? Será se a gente tem uma coisa diferente? Nós da zona rural não temos o direito? Para que existe a democracia? A gente pode chegar lá. Será se naquele momento Antônio França tivesse anunciado um médico as pessoas teriam ficado tão felizes? Teria havido uma repercussão tão grande? Creio que não! Muitas pessoas me parabenizaram. Não quero que isso suba pra minha cabeça. Peço a Deus sabedoria e conhecimento para fazer o melhor pelo povo.
OP: De onde vem esse contato com a política?
JR: Começou numa campanha para deputado. Por sempre estar à frente de algumas coisas, mutirões, você sabe, os políticos procuram o líder comunitário. Como sempre tive essa vontade de fazer acontecer, as pessoas me procuraram. Entrei como pré-candidato a vereador em 2016, fazendo 182 votos, andando numa moto pop com minha esposa. A gente não tinha uma base. Fui incentivado por pessoas influentes em Pedreiras, “Jardel, entra na política”, e às vezes você se deixa levar pela emoção. A política vem trazendo coisas boas na minha vida e espero fazer ainda mais através dela.
OP: A gestão de Antônio França tem sido muito questionada, contestada por uma parcela considerável da população. Você acredita que é possível que vocês revertam isso e transformem uma insatisfação popular numa reeleição?
JR: Acredito que sim. Antônio sempre trabalhou por Pedreiras e se preocupou. Ele vai devolver a coroa que a princesa do Mearim perdeu. O erro dele foi ter acreditado em pessoas, ter feito acordo com gente que não tinha interesse por Pedreiras, pelo seu crescimento, mas sim por afundá-la. A gente vai sim devolver a coroa e dar à princesa o rumo que ela merece.
OP: Após a homologação de sua candidatura, na convenção, começaram a circular fotos suas em grupos de WhatsApp. Em uma delas você segurava um litro de cachaça, acompanhada de comentários pejorativos. O que há de errado em tomar umas? Por que se faz disso uma arma para manchar imagens, em especial, de figuras que não fazem parte da elite política local?
JR: nosso mundo há quem haja muito de má fé. Quando não tá feliz, ele não quer ver o próximo feliz (risos). Aquilo é minha vida particular. Não tenho o direito de ser uma pessoa que brinca? Por que não posso ser? Vou deixar de beber por ser vice-prefeito? Se estou com meus amigos, na resenha, tenho que tomar uma cervejinha. Era uma imagem do meu Instagram e as pessoas pegam pra agir de má fé, sujar minha imagem. Tem empresário que bebe, faz bagunça, eu não! Vou ter aquilo sempre, não vou parar.

OP: Quem é Jardel Reis?
JR: Uma pessoa simples, bastante conhecida aqui na zona rural. Onde você chegar vão sempre falar da pessoa que sou, pelo que faço, por gostar de ajudar e pela minha transparência. Uma vez um rapaz me disse assim: “Jardel, para você ser político tu tem que mentir” (risos). Pois vou largar, porque comigo é sim ou não. Se der eu faço, sempre foi assim na minha vida. Falo a verdade quando preciso, o sim e o não. Prezo muito pela minha família e amo meus amigos verdadeiros. Sou o Jardel do povoado Pacas, Alto de Areia, Marianópolis, Trindade, Angical e São Raimundo. Sou o Jardel da zona rural e agora serei o Jardel de Pedreiras, de todos.
OP: Já se encontrou com Antônio França após a convenção?
JR: Depois da convenção tive muito pouco contato com ele. Houve um acontecido e ele teve que ir à Teresina. Ele disse: “Rapaz, tu me abandonou” (risos). Vamos sentar e conversar.
OP: Ao ter seu nome divulgado você foi criticado por comentaristas de política. Esses espaços midiáticos que dialogam sobre a política local já te chamaram para conversar sobre suas ideias e perspectivas políticas?
Não! Até agora não fui convidado por nenhuma emissora de TV, rádio, nada da comunicação. Acho que é porque não sou um popstar, um empresário ou médico. Eu tenho direito! Se me convidarem as portas estarão abertas. Estarei sempre à disposição para falar. Se não tiverem interesse, não tem problema. Vou seguir minha caminhada, meu propósito, aquilo que Deus tem pra mim.
Por Joaquim Cantanhêde