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sábado, abril 20, 2024

No reflexo de um espelho: “Tudo na vida tem dois lados”, Rwanyto Oscar

Olhar para si é olhar para sua história. No espelho, o reflexo expressivo de quem, por muito tempo, arrancou gargalhadas e gerou emoções do outro lado da televisão. Agarrado à arte audiovisual, construiu, entre cores e traços, a marca de sua trajetória, revelando seu próprio enquadramento.

É como cineasta “do povo” que o pedreirense, Rwanyto Oscar Santos, 34 anos, descreve a arte de sua profissão. Reconhecido por seus trabalhos ousados e fora do padrão seriedade, movimentou o mercado audiovisual de Pedreiras, Maranhão, no início de sua carreira (2004), aproximou o telespectador da telinha e marcou uma geração, com produções de comerciais e apresentação de programas voltados para seu público alvo: o povo.

Rwanyto marcou, não somente a televisão local, mas a cultura de Pedreiras, cidade em que nascera e que a denomina: escola. Em entrevista ao O Pedreirense, ele descreve sua trajetória profissional, relembra nomes que ajudaram na construção de sua trajetória, e discorre, com saudades, sobre a (in) esquecível cultura pedreirense.

O Pedreirense: No início de sua carreira, você se destacou pela produção de comerciais de Tv, que fugiam do padrão seriedade. Você levava o humor, a ficção e até a realidade do interior para as telinhas. Como você descreve sua trajetória profissional em Pedreiras?

Rwanyto Oscar: Tudo começou quando conheci Cícero Filho (cineasta maranhense) e fui convidado a participar de um filme dele. Foi o meu primeiro contato com a TV. Logo após, eu já sabia que aquele seria o meu caminho. Dias depois, comecei a trabalhar pra ele (Cícero), juntamente com o Wescley Brito. Com a mudança do Cícero para Teresina, não tinha mais o cara que gravava filmes, em Pedreiras. Foi quando eu aprendi a manusear uma câmera e a filmar. Fui aprendendo a dirigir comerciais, escrever meus roteiros. Como não tinha cursos pra profissionalização nessa área, assistia a rede Globo, não como uma televisão ou um entretenimento e sim como uma vídeo-aula. Após um tempo, comecei a dirigir e atuar em comerciais, sempre tentando trazer a dramaturgia para as minhas produções, foi quando em 2004 o Wescley Brito me chamou pra fazer o comercial do arroz vantajoso e deu certo. Na época foi uma febre aqui na nossa cidade. Logo após, o Maxilio Ximenes, muito inteligente, viu a importância do comercial para o marketing de uma empresa e começamos a produzir conteúdos. Quanto mais fazíamos, mais o nome ‘Mearim Motos’ ficava em alta e a loja crescia, então começamos a fazer muito mais.

OP: Dificuldades sempre atravessam nosso caminho, principalmente quando estamos em busca do que sonhamos. Que desafios você enfrentou no início de sua carreira?

RW: Tudo na vida tem dois lados, bons e ruins. O dom que Deus me deu é sempre olhar o lado positivo, eu sei que tem o negativo, mas eu quero olhar o positivo. Quando as pessoas dizem que eu não vou conseguir, eu sempre olho para o lado positivo. Dificuldades existem, sempre irá existir. Tapas na cara e pessoas para te humilhar, mas o segredo de tudo é realmente levantar a cabeça, sorrir e acenar, pois uma coisa que aprendi na vida é que ‘os humilhados serão exaltados. ’ Como diz Wescley Brito: ‘o homem tem que ser feito de força, fé e fome’. Força para poder lutar e correr atrás. Fome para poder desejar. Fé pra acreditar que você vai conseguir tudo que almeja.

Cineasta Rwanyto Oscar (Foto: Joaquim Cantanhede)

OP: Você participou de vários programas nacionais. Como foi essa experiência?

RW: Minha primeira participação foi no programa Ídolos, em 2008. O programa aconteceu em Salvador-BA. Alguns amigos me ajudaram com o dinheiro da passagem e hospedagem e fui. Quando cheguei lá, vi que a televisão é totalmente uma novela, com um roteiro, onde a gente realmente tem que estudar tudo que vai ser feito e como vai ser feito. Tive uma ótima experiência, ganhei destaque após movimentar a fila dos participantes e me jogar no mar de Salvador (se não tiver essa loucura, a gente não conquista. Temos que ser ousados e abusados, insistentes e persistentes.). Depois disso, comecei a criar estratégias para participar de outros programas, como Altas Horas e programa do Jô. Em todos que passei fiz questão de levar o nome da minha cidade, foi uma experiência incrível estar lá e levar a cara de todo mundo de Pedreiras.

OP: Você sempre se diferenciou pelo trabalho criativo e ousado em suas produções. Qual era a fonte de tanta inspiração?

RW: Quando trabalhava em Pedreiras, as minhas inspirações eram lúdicas. Cresci assistindo Aladim, Show da Xuxa, a turma do Chaves e desenhos animados. Eu me inspirava muito nisso para poder trazer sentimentos. Eu utilizo a arte no meu trabalho justamente para mexer com o público, que as pessoas vejam, se identifiquem e tenham a emoção roubada.

OP: Como você lidava com as críticas?

No início da minha carreira, as críticas partiam de pessoas que tinham um pouco de inveja, mas também consegui o respeito de muita gente, do prefeito, na época, de apresentadores de TV, de nomes como Lucilene Veras e Rony Alberto, graças ao meu trabalho. Mas quando as pessoas me criticavam, eu tentava, com a positividade, mostrar que estou aqui pra somar. Ninguém cresce sozinho. Por trás do Rwanyto tem um Eduardo Geovane, um Conrado Fernades, um Elton Carlos, e quando falo neles até me arrepio, porque são pessoas que somam, acreditam no meu talento. A gente tem que saber diferenciar o que é crítica construtiva e destrutiva, por isso, mostrei para essas pessoas que com a positividade e a humildade de levantar a cabeça com um sorriso no rosto, a gente vai longe.

OP: Como você visualiza a história do seu trabalho em Pedreiras, em termos de reconhecimento?

RW: Eu sou muito feliz com o trabalho que realizei em Pedreiras, porque tudo que eu aprendi e fiz, nessa cidade, está me levando para a vida. Sou muito feliz com o legado que construí aqui, pois é uma injeção de ânimo, saber que além do meu trabalho, consegui levar um testemunho de vida de como agradar o público. Amo minha história, amo a minha cidade. Pedreiras têm muitas histórias para contar. Fui feliz, aprendi muito e eu acho que nasci na hora e no lugar certo. A cada dia que passa, consigo dar um passo a mais para ser um Rwanyto melhor.

Cineasta Rwanyto Oascar (Foto: Joaquim Cantanhede)

OP: Você encontrou grandes parceiros de profissão que fizeram parte da construção da sua história. Uma parceria marcante foi com Elton Carlos.  Para você, quem é Elton Carlos e como você descreve essa parceria?

RW: Somos mais que irmãos, eu tenho um grande carinho por ele. Lembro-me da primeira vez que o vi, na TV Atenas, ele estava indo gravar uma matéria sobre uma peça teatral, juntamente com Wescley Brito. Quando eu o vi dançando, fazendo ‘marmota’ já me identifiquei. Anos depois tive a honra de trabalhar com ele, um grande parceiro que se eu pudesse defini-lo em uma palavra seria: simplicidade. Ele consegue roubar sorrisos, emoções e te deixar à vontade.

OP: O mercado audiovisual vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente quando o assunto é marketing digital. Como você avalia este mercado audiovisual em Pedreiras?

Rw: Está faltando uma maior valorização do trabalho, tanto de quem recebe quanto de quem produz. Antes de sair de Pedreiras, muitas pessoas já estavam trilhando o caminho audiovisual, fazendo comerciais e VT’s, então já era pra estar mais evoluído. Acredito que, de 2012 pra cá, Pedreiras parou no tempo, e isso parte do poder público, quando eu morava aqui todos os projetos que apresentava à prefeitura, voltado para a cultura, eram assinados embaixo. Tem que ter o poder público, não pode ser só o comércio para valorizar, incentivar e capacitar.

OP: Você abriu a própria empresa e atualmente trabalha com grandes artistas. Como se deu essa mudança?

RW: Tudo começou em 2012, quando Tony Guerra veio fazer um show em Pedreiras e eu aproveitei a oportunidade para oferecer a ele a produção de um clipe, só para levar o meu nome, e minha cidade ter orgulho, pois na época era a banda mais famosa da região (Nordeste). Depois de muito insistir ele aceitou. Quando o clipe ficou pronto, ele me ligou dizendo que estava muito bom, e logo após, fui convidado para trabalhar na banda e claro que eu disse sim para a oportunidade. Agradeço demais ao Tony, pois consegui em um ano fazer um grande trabalho, ganhando um bom salário, conhecendo vários lugares, mas comecei a me questionar e me motivar a sair da minha zona de conforto para trilhar novos caminhos, pois eu não quero me contentar com o básico se eu posso ter mais. Então, após um ano, pedi demissão. No início não foi fácil, mas em cinco meses comecei a fazer o meu nome em Fortaleza e a expandir a minha empresa.

OP: Que experiências de sua vida profissional em Pedreiras, você levou quando iniciou este novo ciclo? Quais delas ainda permanecem?

RW: As maiores lições eu aprendi com Wescley Brito, ele foi um pai profissional na minha vida. Às vezes, ele brigava tanto comigo, que eu até chegava a ficar com raiva, mas depois me percebi que o que ele me falava era ensinamento pro meu bem. Outra coisa que aprendi em Pedreiras, foi a agarrar as oportunidades e fazer o meu trabalho bem feito. O que eu podia fazer, eu fazia. E fazia bem feito.

OP: Você se descreve na biografia de seu instagram como “Cineasta do povo”. De maneira reflexiva, o que é ser um “Cineasta do povo”?

RW: Sou Rwanyto, filho de comerciante, que cresceu no mercado central, que brincou com estivador. Eu sei como é a essência do povo, sei o que o povo gosta de ver, sei a magia que temos pelo estrelato. Quando vou fazer meus trabalhos eu gosto de fazer visando este público. É fazer algo para o povo de onde eu vim. Graças a Deus todos os trabalhos que eu faço tem uma boa aceitação. Porque penso na massa.

Cinesta Rwanyto Oscar (Foto: Joaquim Cantanhede)

OP: Filmar é de algum modo incluir e excluir. O cinegrafista tem a responsabilidade de definir o que irá ser enquadrado. Que critérios são importantes numa composição?

RW: Quando vou fazer um roteiro já alinho a fala pra não ficar cansativo, pra ser objetivo pra quem está assistindo. Gosto de dar a informação ‘mastigada’ para o público, só no ponto de ‘digerir. ’ Ser objetivo quando for passar a informação, esses são os detalhes que vão somando para um bom resultado.

OP: Como você vê a relação audiovisual e a chegada da internet? Houve uma popularização de seu trabalho?

RW: Sim, e isso foi a melhor coisa que aconteceu. Eu faço meu trabalho, mas o mundo não gira à minha volta. Tem público para todos os gostos. O bacana da internet é que ela trouxe um oceano onde todo mundo pode navegar. Vai de você, preparar um barco bom para que todos possam ver. A internet agrega muito e deu voz ao funk, que está crescendo. Além disso, graças às lives consegui acompanhar a cultura da minha cidade e os artistas da terra como Rony Alberto e o saudoso poeta, Samuel Barreto. A internet veio pra dar voz par quem não estava sendo ouvido.

OP: Que reflexões você faz sobre o atual cenário de crise econômica em tempos de pandemia, uma vez que, afetou diretamente o mercado audiovisual?

RW: Sempre tentando olhar o lado positivo, passei 65 dias sem nenhum cliente, quando isso aconteceu, eu não me abalei, comecei a editar meu filme. Sabemos que essa pandemia trouxe muitas mortes, é triste e lamentável, mas o importante é ter o pé no chão e tentar extrair alguma coisa positiva nesse momento.

OP: Quais os planos para o futuro? Pedreiras está em seus planos?

RW: Tenho um projeto em fortaleza de um filme chamado: “Seu desejo é uma ordem”. Uma comédia com a participação do Elton Carlos, Jaqueline e das obras de Wescley Brito. Pretendo lançar daqui para o próximo ano e quando lançar eu tenho certeza que vai ser uma vitrine pra a gente poder se projetar a nível nacional e começar a produzir mais dramaturgia. Gostaria de trazer mais projetos para minha cidade, principalmente por vê-la parada, desde quando saí. Na época do Lenoilson a gente via a cultura viva, atualmente não está sendo bem administrada.  Dois mandatos passando e a cidade na mesma, minha mãe fala: ‘Rwanyto, Pedreiras parou no tempo’, essa é a frase dela.

Por Mayrla Frazão

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Mayrla Frazão
Mayrla Frazãohttps://www.opedreirense.com.br
Jornalista - Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão (UniFacema)
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1 COMENTÁRIO

  1. Excelente entrevista!
    O pedreirense tem humanizado figuras locais que, apesar de seu notável talento, eram distantes da maioria da população, vistos em muitos momentos como passado. Muito feliz em ver a cultura pedreirense viva, não graças à administração pública, mas apesar dela.
    Que a história de descaso com a cultura não se repita, como foi com João, e que não se perpetue com o por vir. Que o caminho da redenção seja pavimentado por um jornalismo sério e humano como este.

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