OPINIÃO
Nas últimas semanas ataques sistêmicos às mulheres chamaram minha atenção, fazendo com que eu me manifestasse publicamente demonstrando que as formas de violências contra as mulheres são frutos de uma estrutura machista de dominação e subjugação.
Do estupro à difamação, mulheres são diariamente atacadas. E evidentemente toda forma de proteger, justificar e defender os abusadores é disseminada por seus pares.
A última que escutei é que um abusador, que finalmente fora preso, estava sendo, na verdade, vítima de racismo.
Ora, o racismo estrutural é uma marca INEGÁVEL em nossa sociedade, a maioria da população carcerária do nosso país é composta por homens negros e isso se dá, principalmente, pela discriminação racial.
O racismo impede inclusive na identificação de criminosos, pois, comumente é apenas a cor considerada, tornando possível que se confunda indivíduos totalmente diferentes. É nesse ponto que a ideia preconceituosa que todo negro é um criminoso é reforçada. Ora, quando um indivíduo branco comete um crime, não se atribui o erro a toda a população branca, mas o contrário constantemente acontece.
É preciso combater essa ideia! E para tanto, jamais se deve utilizar desse elemento para proteger um criminoso, ainda mais se o crime cometido se trata de violência contra mulher, estupro e homofobia! Homens Negros não fogem à lógica patriarcal e machista da sociedade e o letramento contra a cultura do estupro, contra a violência à mulher também deve pautar as ações antirracistas.
Na imensa maioria dos casos o estuprador é alguém próximo e conhecido da vítima, e quando este é um homem negro, que não corre o risco de ser confundido, não cabe o discurso racial! Ao contrário, utilizar-se dele para proteger um abusador é leviano, inconsiderado e preconceituoso; é ir contra todo o ideal do movimento antirracista.
Ao atacar o feminismo, e principalmente o feminismo Negro, de mentiroso e de perseguidor de homens negros os indivíduos defensores de abusadores, dito antirracistas, reproduzem a lógica violenta de inferioridade e subjugação que tanto afirmam combater.
Não se trata de modificar os sujeitos que estão no poder se o sistema preconceituoso e discriminatório permanecer o mesmo!
A luta antirracista é contra privilégios, contra as desigualdades, contra uma estrutura de sociedade violenta, desumana e separatista. Do mesmo modo a luta feminista pauta a garantia dos direitos das mulheres e tem como finalidade desconstruir o sistema patriarcal, o sexismo, o machismo e todas as formas de violência e opressões submetidas as mulheres e especialmente as mulheres negras, que carregam e que sofrem as violências por raça, gênero e classe.
Ao defender um abusador e difamar a vítima, você reproduz a cultura do estupro!
Ao utilizar a carta do racismo para ato tão abominável você desonra todos nossos ancestrais que lutaram, deram suor, sangue e a própria vida pelo direito à liberdade e vida dignamente!
É sempre bom lembrar que ao lado de Zumbi estava Dandara e tantas outras que foram excluídas das histórias por ato racistas, machistas e sexistas!
Hoje somos nós, as mulheres, que majoritariamente as trazemos de volta, que investigamos, pesquisamos e as divulgamos! Pois é preciso existir representatividade.
Representatividade feminina e Negra.
Assim, diversas pesquisadoras trazem a luz da história mulheres como DANDARA DOS PALMARES, TEREZA DE BENGUELA, AQUALTUNE, LUÍSA MAHIN. MARIA FILIPA DE OLIVEIRA, MARIA QUITÉRIA, ROSA PARKS, CAROLINA MARIA DE JESUS, MARIA FIRMINA DOS REIS…
São mulheres falando de outras mulheres, combatendo o machismo empoderando-se, empoderando outras mulheres e principalmente meninas, através da educação feminista e antimachista. E talvez, justamente por isso, essas mulheres também são constantemente atacadas. Pegam nossas frases, nossos atos, nossas vidas privadas e as subvertem em discursos imorais que visam pôr em xeque a competência e o profissionalismo não apenas daquela mulher, mas de seu gênero como um todo.
Uma mulher no poder incomoda e amedronta diversos homens que temem perder seus status de macho alfa. Sentem-se castrados em suas masculinidades frágeis e por isso atacam violentamente.
Não vamos esquecer os ataques de violência política que uma legisladora municipal sofreu em plena câmara de vereadores da cidade de Pedreiras, ou ainda o que a 1º ministra da Finlândia passou, por ter sua vida privada exposta, em um momento em que se divertia com os amigos e dançava!
Sim, dançava!
Ora, é crime ter uma vida privada quando ela é uma chefe de estado? Ou uma mulher, em posição de poder, não pode ser séria e competente no trabalho e na sua vida pessoal se divertir? Chefas, presidentas, diretoras de departamentos, CEOs, professoras não podem dançar?
Pois dançamos! E até sambamos nas cabeças misóginas e machistas que querem cecear nossas liberdades! Nossos corpos e nossos direitos!
Através da Educação verdadeiramente democrática, seguiremos firmes e militantes na luta antimachista, antirracista, anti-homofóbica.
QUEREM NOS CALAR! MAS SOMOS MAIS FORTES! PARA CADA MULHER ATACADA OUTRAS SE LEVANTARÃO!
ESTUPRADORES NÃO PASSARÃO, ABUSADORES NÃO PASSARÃO, MACHISTAS NÃO PASSARÃO!
Por Nila Michele Bastos Santos, Historiadora, Psicopedagoga, Especialista em Formação de Professores. Mestra em História Social pela Universidade Federal do Maranhão. Doutoranda em História pela Universidade Estadual do Maranhão. Professora do Instituto Federal do Maranhão IFMA – Campus Pedreiras. Coordenadora do LEGIP – Laboratório de estudos em Gênero do Campus Pedreiras.