Leituras e descobertas do mundo
Ocupar praças com livros e uma disposição plural. Não consigo mais delimitar esta disposição. Os anos passam e percebo que estar nas praças, em meio a livros, com crianças, é uma disponibilidade para criar novos sentidos e vivências. Sentir o vento. Ouvir os pássaros. Escutar as palavras. Imaginar a cada livro ou peripécia da narrativa. Experimentar uma certa paz.
Ocupar praças com a isca de livros fez-me pescar outras motivações para meus finais de semana e para a vida. Na ausência de crianças leitoras, no primeiro sábado de agosto de 2024, na Praça dos Orixás, descubro que há muitos movimentos do viver. Inclusive a ausência de crianças. Também nossa presença. Os livros tremulam sobre as mesas sob efeito dos ventos de nossas manhãs de agosto. Suas páginas tremulam outras vidas, outras disponibilidades.
Uma criança, na Praça São Raimundo Nonato, explicou-nos que encontra paz em nossos encontros. No dicionário, paz é traduzida como “estado de calmaria, de harmonia, de concórdia e de tranquilidade; calma”. A calma da manhã na Praça dos Orixás, em silêncio, sem crianças; a paz da tarde, no Parque Wall Ferraz, com nossa roda repleta de crianças. O projeto Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo é bem mais que uma biblioteca; ou, talvez, uma biblioteca é bem mais do que aparenta (“coleção de livros que se dispõe de maneira ordenada; edifício público ou particular onde é possível consultar, ler ou pegar emprestado, livros”).
Continuo navegando. Aberto às possibilidades do universo, sem certezas. Apenas com um leque de disponibilidades sem travas. Cada criança leitora que frequenta nossa biblioteca de vida pode encontrar um campo aberto para a paz. Eu também.
Por Luciano Melo, educador
