OPINIÃO
Nos tempos áureos do icônico Blog Pedras Verdes, editei uma fotografia do Santuário de São Benedito. O resultado foi deixá-lo com uma coloração avermelhada. Tão logo publicada, a imagem rendeu diversos comentários e já naquela época, vejam só, fui tachado de comunista. Como quase sempre achei a maior graça. Outros atribuíram à obra a pecha de diabólica. Esses e tantos outros episódios me fizeram entender que agradar setores sociais não deve ser o fio condutor da escrita jornalística
Ser jornalista independente em Pedreiras, Maranhão, não posso negar, é desafiador, mas extremamente divertido. Esse contexto micro me permite perceber, com mais nitidez, as paixões, os nichos, as conveniências, as parcialidades, as arbitrariedades e as malícias. Se o rio falasse! Se nossas esquinas clamassem! Por sorte são mudas.
Tenho para mim que o jornalismo e o cardápio compartilham da mesma árvore genealógica. Nem tudo do que estes ofertam é agradável ao paladar. No caso do jornalismo o menu é farto: notícia com sabor de tiro, parrada e bomba? Temos! Jornalismo com pitadas de assessoria? Temos! Com gostinho de lama? Também. Com toque de ironia e deboche? Temos! Agradam a todo mundo? Não! Absolutamente normal. Quem é o melhor? Esse texto não é sobre isso.
Ser jornalista em contextos semelhantes aos de Pedreiras é desafiador. Tudo tem uma maior proximidade. Na praça poderá jantar ao lado de alguém que, minutos antes, denunciou. Se for político com função pública, a depender do que publique, isso resultará na demissão de alguém com quem mantenha vínculos. Seus amigos (nem todos) gostam do seu trabalho, mas curtir e compartilhar nem pensar. Não me será difícil, por exemplo, topar com um dos 300 aprovados no Concurso Público de Pedreiras que não gostaram da minha cobertura sobre o caso. É um direito deles, nada de errado. Sigo não abdicando do meu.
Como repórter procuro me desprender da pretensão de agradar pessoas. Em uma manhã, no auditório da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), não jurei relativizar o papel do jornalista, condicionando meu trabalho ao “gostar ou não gostar” das pessoas. Jurei apurar, ouvir, revisar e publicar, mesmo que ao fazê-lo, entre na lista dos “vilões”. Jornalismo é dizer, ainda que as diferentes interfaces sociais tenham sempre sete pedras nas mãos.
Antes de exercer a profissão por aqui, como cidadão desta terra, sei de suas virtudes e fraquezas. Longe de mim pensar em trocar princípios por abraços, palavras necessárias por falsidades aportuguesadas. Não troco uma consciência limpa por uma companhia na praça.