CINEMA E LITERATURA
Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff, iniciou o projeto da Comissão da Verdade em que os casos da Ditadura Militar brasileira foram reabertos e investigados. A partir desse momento foi possível encontrar diferentes documentos sobre casos curiosos de sumiço de pessoas que conspiravam contra o governo ditatorial de alguma forma. É nessas histórias, e no livro homônimo, que o novo filme de Walter Salles se baseia para construir a narrativa de Ainda Estou Aqui, estrelado por Fernanda Torres.
O filme de duas horas conta a história da família Paiva, liderada pelo ex-deputado Rubens Paiva, que foi vítima de um dos casos de sumiço dentro do regime ditatorial. O engenheiro é levado um dia de sua casa, na beira da praia do Rio de Janeiro, para ser interrogado e desde então nunca mais retorna ao convivo com sua esposa e cinco filhos. A partir disso a personagem Eunice toma a cena e protagoniza diferentes momentos extremamente tensos dentro do longa-metragem. A personagem faz o possível tentando manter sua família de pé e refletindo sobre a dor causada pelo método de punição adotada pelo governo militar.
Ao assistir Ainda Estou Aqui percebi a importância da individualidade dentro da história. O caso de Rubens Paiva não foi o único que aconteceu dentro do processo de censura militar, mas definitivamente marcou a vida de sua família para sempre, portanto merece destaque e justiça. Em um país em que o período ditatorial está sendo cada vez mais discutido, Ainda Estou Aqui nos mostra como era ser minimamente contra um regime sanguinário que desumanizou diversas pessoas, bem como suas famílias, para satisfazer seus interesses. A atriz Fernanda Torres carrega o filme com sua atuação minimalista, fazendo uma personagem contida e extremamente amável mas que por vezes se exalta devido às circunstâncias em que está inserida.
Toda essa narrativa é marcada por diferentes momentos, o filme começa com um tom nostálgico e alegre que logo é quebrado por um instante de realidade sobre a ditadura e seus meios. Em seus primeiros momentos Salles já entrega o tom do filme, com uma alegria misturada à tensão de estar sobre um governo que está disposto a sacrificar os cidadãos em nome de manter seu poder. Assim, o filme mistura momentos de tensão extrema com questões pessoais emocionantes, bem como atuações bem feitas de diferentes formas a fim de construir uma narrativa que só falha ao final com alguns minutos que poderiam ser cortados. Fora isso, o longa de Walter Salles se configura como uma homenagem àqueles que foram humanos demais durante tempos desumanos, recomendo para consumo pessoal e profissional em caso de educadores, por exemplo. Ainda Estou Aqui é uma homenagem linda aos presos políticos, seus familiares e nossa nação que merece transparência e justiça.
Por: Jonas Vinicius Albuquerque– Formado em Letras – Português/Inglês pela Universidade Estadual do Maranhão, mestrando em literatura na mesma instituição. Caxiense, leitor, resenhista e apaixonado por histórias.