“Dai a César o que é de César”
Isac de Oliveira, Renata Lima e Cláudio Semeão, não dividem os mesmos bancos congregacionais, não dizem amém à oração de um mesmo pastor, mas entendem a Bíblia como regra de fé que os conduzem. Acreditam nas promessas contidas na literatura que norteia o Cristianismo, mas enquanto um “novo céu e uma nova terra” são ainda aspirações, dizem enxergar na política um instrumento capaz de melhorar a vida das pessoas aqui e agora. São exemplos de uma tendência que se nota para além do local: evangélicos cada vez mais inseridos no ambiente político, inclusive o partidário.
O Censo 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) já constatava o crescimento no número de pessoas pertencentes a este segmento religioso no Brasil. Eis um fato político de relevância. “Cresceu cerca de 61,5 por cento em dez anos, com 16 milhões de novos fiéis”, destaca o site Terra.
As urnas dirão amém?
“Muitas pessoas dizem que o crente não deve se envolver com política, mas o bom crente, se não se envolver, a política o envolverá, porque tudo o que nós vivemos e passamos é dependente da política” observa o bacabalense, cria de uma mulher popularmente conhecida como Antônia verdureira e candidato a vereador Isac de Oliveira (Republicanos). Aos 50 anos, fiel da Assembleia de Deus, tenta pela terceira vez ser eleito no município de Pedreiras, Maranhão.
Sua vida foi atravessada por um câncer. O fato, diz Isac, é o pilar de uma luta que promete travar em prol de melhorias para a saúde, caso seja eleito. “Hoje minha prioridade é cuidar das pessoas que tem câncer. Meu sonho é que se tenha uma casa de apoio [gerida pela prefeitura de Pedreiras] lá dentro de São Luís”, diz o candidato, ao ser indagado sobre a bandeira de luta que pretende sustentar.
Isac evitar tecer críticas à atuação do parlamento pedreirense nos últimos quatro anos, observa que houve ganhos e perdas, mas não se atreve a citá-las. Defende, contudo, que o exercício do mandato deva ocorrer com liberdade. “Hoje temos a chance de mudar pelo menos 50% da câmara que está aí”, afirma, jogando a bola para o eleitorado.
É com otimismo que encara o protagonismo crescente de evangélicos na política, mas observa que a politização é ainda um processo em andamento. “Hoje temos vários representantes nas assembleias legislativas de nosso país, na Câmara Federal, Senado e nas câmaras municipais”, comemora.
Ela não vaio sumir
Para Renata Lima, moradora do povoado Trindade, a ideia de “entrar na política” tem como impulso a rotina de ações sociais que ajuda a promover na Assembleia de Deus presente em sua comunidade rural. O esposo, percebendo sua vocação para lidar com gente, é um de seus maiores apoiadores. “Gosto de ser desafiada, me disse meu pastor”, relata Renata. O medo que sente, aos 37 anos, não a imobiliza.
“O mais urgente é a saúde. Está pendido socorro. Estava conversando com a população do Angical. Alguns me relataram e pediram ajuda para um senhor fazer um exame, porque já estava com mais de dois anos que tinha marcado e o exame não saia”, relata Renata, que promete fazer da saúde sua pauta prioritária. Outra situação apontada por ela é a suposta condição precarizada das estradas. “Já rodamos esses interiores como dirigentes da igreja nos povoados”.
Renata afirma que em seu cotidiano de relação com a comunidade também se depara com problemas no abastecimento de água potável, um gargalo sentido por localidades urbanas e rurais. São esses fatores, argumenta, que a impelem a buscar, na política, maneiras mais afetivas de ajudar.
“A população não está muito contente com os vereadores, porque se escondem e aparecem depois dos quatro anos. Estão lá para trabalhar pela população. Quem sabe o que de fato é um cargo de vereador sabe que estaremos lá para ajudar o povo”, ressaltou a candidata do PL (Partido Liberal) que diz não pretender deixar a comunidade, mesmo sendo eleita.
Após a publicação desta matéria, a secretária de Saúde de Pedreiras, Arilene Bezerra, respondeu as perguntas feitas pelo jornal O Pedreirense, no que diz respeito ao acesso a exames por cidadãos residentes no campo.
“As coletas dos exames são iguais para zona urbana. Na zona rural implantamos o serviço de coleta (nas comunidades). O técnico faz a coleta dos exames solicitados e ele mesmo leva para o laboratório, para facilitar ao paciente, devido acessibilidade. O tempo de resultado varia de acordo com a especificidade, mas dentro do prazo”, disse a secretária.
Política não é pecado
Não há quem faça o candidato Cláudio Semeão pedir voto aos sábados. Eis o dia de descanso em meio aos corres de uma campanha em que cada voto conta, para mais ou para menos. O adventista do sétimo dia, aos 51 anos e filiado ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro), tenta convencer parte do eleitorado de que é um bom nome para o parlamento.
Tudo começou, explica, com o convite feito em 2014, por um então candidato a prefeito. No primeiro momento Cláudio não se achou capaz e então relutou. “Não entendo nada. Nunca me envolvi com a política”, teria respondido.
A conversa acabou, mas a ideia continuou ali, como marteladas sequenciais. Uma inquietude grande demais para ser ignorada. O ato seguinte teria sido conversar com a família, de quem teria recebido apoio.
“Comecei a analisar sobre o que faz um vereador, sua principal função”, explica Cláudio.
A julgar pelo que disse, o candidato entende que a função de um parlamentar nada mais é que fiscalizar. “Em todos os lugares existem deficiências”, pontua. Este acompanhamento é o que aponta como carência na atual configuração do parlamento municipal. Para Cláudio há uma clara falta de autonomia dos vereadores em relação ao Pode Executivo. Caso eleito ele pretende cobrar, sem exageros, o governo da vez.
Se nas urnas Cláudio se depara com o desafio de conquistar voto por voto, na relação com seus irmãos de congregação prima pela informação. Com ela tem buscado mostrar que política não é pecado e que todos, de algum modo, são afetados por ela, seja naquilo que se efetiva como direito, ou o que se perde.
“Sendo um Cristão, de verdade, ele tem como manter firme e buscar os interesses da população, que é o importante”. Cláudio acrescenta: “Nos tempos bíblicos já existia a política, pessoas colocadas em cargos que eram tementes a Deus”.