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domingo, setembro 8, 2024

Esquizofrenia religiosa, será?

OPINIÃO


Como padre e psicanalista clínico, gostaria de abordar um tema delicado e, ao mesmo tempo, fundamental para nossa fé e saúde mental. Perdoem meu ponto de vista, mas é essencial termos cuidado com essas visões de anjos e recados do além. Nas Sagradas Escrituras, quando um anjo aparece, sempre é para dar uma missão. Isso aconteceu com Abraão, Maria, José e tantos outros. Hoje em dia, porém, parece que há uma proliferação de pessoas vendo anjos que supostamente têm mensagens para transmitir, muitas vezes apenas para mostrar poder e dominar os outros. Não sei se estão assistindo muito Auto da Compadecida, Aladdin, Pokémon ou a própria vida real.

Nunca vi alguém dizer que viu um anjo mandando visitar um presídio, ajudar no Rancho de Benedito, socorrer uma pobre grávida, evangelizar crianças para a primeira comunhão, apoiar um jovem a sair das drogas, ou mudar de vida para julgar menos os outros. Parece que essas visões são frequentemente centradas em reforçar o ego e o controle sobre os outros, em vez de promover o verdadeiro espírito de serviço e humildade que Cristo nos ensinou.

A psicanálise, como ensinada por Freud e continuada por Jung e outros, nos alerta para os perigos das projeções e dos desejos inconscientes. Muitas vezes, nossas visões e experiências sobrenaturais podem ser reflexos de nossos desejos mais profundos, medos, carência afetiva e inseguranças. Jung, por exemplo, falou da importância de integrar nossa “sombra” – os aspectos reprimidos de nossa personalidade – para alcançar a verdadeira individuação e plenitude espiritual.

Como padre, passei de sete a dezesseis anos estudando para entender que Deus se revelou por meio de Seu Filho Jesus. Ninguém viu a Deus senão pelo Filho. Deus nos falou tudo pelo Filho. Não precisamos buscar sinais ou revelações adicionais quando temos a plena revelação em Cristo. Jesus mesmo afirmou que não há outro sinal senão o de Jonas, referindo-se à Sua Ressurreição.

Tenho muito medo que a religião de muitas pessoas se transforme em magia. A fé cristã não é sobre manifestações do além ou ouvir vozes, mas sobre seguir os ensinamentos de Cristo e viver uma vida de amor, serviço e sacrifício. Precisamos voltar à catequese e entender profundamente nossa fé para não confundir a Igreja com superpoderes.

Portanto, antes de nos deixarmos levar por visões e mensagens que alegadamente vêm do além, devemos nos perguntar: estamos verdadeiramente seguindo o chamado de Cristo para servir os outros e viver uma vida de humildade? Ou estamos buscando poder e controle sobre os outros? A verdadeira fé nos chama a um amor sacrificial e um serviço desinteressado, assim como Jesus nos mostrou.

Pe. José Geraldo Teófilo, reitor do Santuário de São Benedito e pedagogo

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