Final de semana com uma boa “Leitura nas Nuvens”
Entre as décadas de 60 e 80 o Brasil viveu um dos momentos mais sombrios de sua história. Marcada pela censura, autoritarismo e crueldade, a ditadura militar desencadeou inúmeros atos que jamais devem ser repetidos, mas nunca esquecidos. Nossa resenha de hoje é sobre um livro ambientado nesse período, porém com foco no Chile, nosso vizinho da América do Sul que também foi vítima desse regime autoritário.
Tendo a característica da objetividade em sua narrativa, o dia em que a poesia derrotou um ditador nos apresenta dois núcleos em seu enredo. O primeiro deles é com foco em Nico, que vê seu pai, um professor de filosofia, sendo levado pela polícia durante uma de suas aulas. Com os sequestros e desaparecimentos sendo recorrentes naquele momento, o adolescente inicia uma busca para tentar libertar o pai, recorrendo aos escassos meios que possui a sua volta.
O segundo foco do enredo está inserido dentro do ciclo que encerrou o comando do ditador Pinochet. Após mais de uma década de repressão e por uma intensa pressão política, uma eleição onde a população decidiria se o Chile continuaria ou não sob um governo militar estava para acontecer. Enquanto isso Adrián Bettini, um publicitário de renome, é convocado para trabalhar ao lado da oposição com o intuito de livrar o país do regime autoritário.
Apesar do livro estar localizado em um denso momento histórico do Chile, a sutileza da qual o autor decide tecer sua narração se encontra do lado oposto desses acontecimentos. Sua escrita é fluída, com o eixo central da trama estando posicionado em um tom de leveza, optando por abandonar a tensão ditatorial em alguns momentos. Dessa forma, pode decepcionar aqueles que esperam encontrar um aprofundamento na ditadura militar chilena.
Podendo ser enquadrado em uma leitura rápida, a intercalação entre os dois enredos da trama é um dos pontos altos da obra, mesmo que certas circunstâncias levem o leitor a desenvolver um interesse maior por apenas uma delas, mas nada que torne a experiência desagradável. Por fim, Antonio Skármeta nos agrada com o sentimento de esperança em sua narrativa, uma ótima opção para quem acredita que dias melhores virão e nem tudo está perdido.
Por: @leituranasnuvens