“Por ironia do destino, no mês de dezembro, logo bem no início, recebi a notícia da minha demissão ”, diz técnica em enfermagem que teve seu trabalho, durante a pandemia, visibilizado nas redes sociais, há um ano
Começamos essa cobertura de quinta-feira (24), com uma história difícil de ser contada. Nela a técnica de enfermagem Marilene da Silva Carvalho, 39 anos, é a personagem central. Em 2021, no exato mês de março, sua lida diária como linha de frente da pandemia ganhava visibilidade nas redes sociais, tanto da prefeitura de Pedreiras, como no feed da gestora, Vanessa Maia. Na emblemática fotografia, ela, acompanhada de outras duas profissionais da saúde, em meio às águas do período chuvoso, levando vacina aos idosos do povoado Eira.
“Diante de um momento tão difícil que enfrentamos, crises sanitária, econômica, psicológica, nos deparamos com cenas como essa, de entrega, de empatia, de resiliência, de força de vontade, de amor ao próximo, nos faz ter cada vez mais certeza que nós só conseguiremos vencer essa pandemia se estivermos juntos. Em nome desses profissionais das imagens, quero parabenizar a todos os servidores da saúde de Pedreiras. Todos, sem exceção, meu muito obrigada por não medirem esforços para levar esperança às pessoas. Essa cena me emocionou muito e eu não poderia deixar de dividir com vocês. Nossos guerreiros da saúde!”
Disse a prefeita Vanessa Maia na época.
Um ano depois o “reconhecimento veio”, mas não o esperado. Marilene, em função de sua vocação, não pôde ficar em casa, se protegendo do perigoso vírus. Dos trabalhos delas e de suas companheiras dependem muitas vidas, inclusive, residentes no Povoado Barriguda do Insono. “Uma equipe muito boa, profissionais excelentes… Eu também me via assim, uma ótima profissional, esforçada, pontual, não deixava nada a desejar. Assim falo e sei que meus amigos da equipe acham o mesmo. Mas por ironia do destino, no mês de dezembro, logo bem no início, recebi a notícia da minha demissão. ”
Com um filho na faculdade e distante do lar, Marilene está desempregada, “dependendo da ajuda da minha mãe, que é aposentada”, explica. Depois de sua saída, conforme apuramos, a comunidade deixou de ser assistida por uma técnica de enfermagem. Sua saída desaguou na vacinadora, que agora cumpre as duas funções na UBS Martins Morais Rego. Seu caso, longe de ser isolado, exemplifica um reconhecimento que se verbaliza, mas não se pratica. Até quando?
“Em outras ocasiões, também fomos fazer visitas à comunidade, de casa em casa, para pessoas com hipertensão e diabetes, pois tem que haver esse acompanhamento sempre”, relembra Marilene.
Que esteve com ela na luta, em meio às águas, sol, partilha do sentimento de preocupação. O emprego de Marilene era uma importante fonte de renda. Como diz minha vó: a corda só arrebenta do lado mais fraco! Infelizmente só me resta orar para que Deus abra uma porta de emprego para ela”, lamenta uma amiga dos dias de luta.