Em outubro, em alusão ao dia das meninas, escrevi um texto falando sobre a desigualdade de gênero que estas sofrem e como isso já começa na infância. Pois, bem! Este mês eu gostaria de retomar o tema, entretanto por outra perspectiva.
Se seu filho pedisse uma boneca, você compraria? Se ele se encantasse pelos “brinquedos de meninas”, você compraria? Qualquer que seja a resposta a explicação dela passaria pela perspectiva de gênero. Mas a grande questão está no fato dos meninos também sofrerem, desde a sua primeira infância, as marcas do machismo, que além de oprimir e segregar mulheres, cria um conceito de masculinidade e heteronormatividade que contribuem para a perpetualização de preconceitos. Voltemos a nossa pergunta. Se por acaso a sua resposta foi: “NÃO, eu não compraria!”. Eu perguntaria o porquê.
Será que as crianças já nascem sabendo sua sexualidade? Será que um menino de 4, ou mesmo 6 anos, que se encantou com uma boneca, tem a noção das identidades de gênero? Será que ele não quer apenas brincar de ser PAI? Aliás, porque ensinamos nossas meninas desde cedo a brincar de ser mãe, mas não ensinamos nossos meninos a brincar de ser bons pais? Porque induzimos nas meninas brincadeiras imaginárias de donas de casas com afazeres domésticos e não fazemos o mesmo com os meninos?
O fato é que também oprimimos nossos meninos desde a 1º infância. Ensina-se que ele deve ser forte, aguentar as dores, que deve falar mais alto que os demais, que não pode mostrar seus sentimentos, afinal: “MENINO NÃO CHORA”.
Percebam a maldade dessa frase! O quão carregada de estereótipos e malefícios ela contém. Ela suprimiu um direito básico e natural que é o chorar! Ao pronunciar essa frase como um dogma, está se ensinando ao menino que suas dores devem ser engolidas, aliás, quem nunca ouviu a fala para uma criança, “ENGOLE O CHORO!”? Pois, longe de ajudar, essas verdades condicionantes contribuem para problemas psicológicos mais à frente e os meninos vão acreditando que o padrão a ser seguido é o do MACHO ALFA, que não expõem fraquezas e sentimentos. Ao educar dessa forma depositamos uma pressão tão absurda em nossos meninos de modo que eles devem saber de tudo. Ele deve ser o provedor, o experiente sexualmente. Mostrar-se sempre o mais forte, mais corajoso, não pedir ajuda. Ele não pode ser questionado, ameaçado ou contestado. Pois, se por acaso isso acontece, ele precisa tomar uma atitude, pois deve garantir sua posição de poder. É aí então quando temos namorados e maridos controladores, violentos e abusadores. É assim que surgem os companheiros que não aceitam términos de relacionamentos e mantam suas companheiras por isso.
De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupava, em 2013, o 5º lugar entre os 83 países em que mais havia feminicídios. São 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, em que quase 30% dos crimes ocorrem nos domicílios. Além disso, uma pesquisa do DataSenado (2013), revelou que 1 em cada 5 brasileiras assumiu que já foi vítima de violência doméstica e familiar provocada por um homem.
Uma educação segregadora desde a infância acaba contribuindo para uma masculinidade tóxica que maltrata e mata!
Esse tipo de masculinidade prejudica até o próprio homem, que carregado de preconceitos não se permite enxergar as questões de sua própria saúde. O que nos leva a 2º parte desse artigo: O machismo também mata os homens!
Os homens vão menos ao médico, vão menos aos psicólogos, fazem menos terapias. Os homens morrem mais de acidentes de trânsitos, por discussões nas ruas ou em bares, por reagir a assaltos… Serão os homens mais imprudentes? Mas por quê? Culpa de quem? Quem os educou para serem assim?
Segundo dados do Instituto de Câncer (INCA) estimam-se 65.840 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020 – 2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens. O alto percentual de morte pode ser consideravelmente evitados se o diagnóstico for precoce e para isso o número de exames de próstata precisa aumentar, contudo, esse exame para além das dificuldades financeiras e da dificuldade em consegui-lo pelo SUS (tal qual acontece com as mamografias, novamente o número de atendimentos disponíveis é inferior à necessidade) há ainda o preconceito masculino em fazer o exame de toque retal, que ainda consiste em um importante método de diagnóstico do câncer de próstata.
O preconceito surge, pois, de algum modo foi associado que a penetração é algo destinado apenas às mulheres. Submeter-se a isso é contestar sua masculinidade.
Assim com o objetivo de combater esse tabu e quebrar o preconceito masculino de ir ao médico e, quando necessário, fazer o exame de toque que foi criado o Novembro Azul, sendo o dia 17 de novembro escolhido para celebrado o Dia Mundial de Combate do Câncer de Próstata.
Este dia, este mês é tanto um chamamento para que os homens se olhem mais e cuidem de sua saúde, quanto para que reflitam sobre como uma ideologia machista adoece física e psicologicamente toda uma sociedade, independente do gênero.
Portanto, precisamos acabar com o machismo! Pela vida das Mulheres, pela saúde dos Homens
Levantem-se Homens! Essa luta também devem ser sua!
Por Nila Michele Bastos Santos, Historiadora, Psicopedagoga, Especialista em Formação de Professores. Mestra em História Social pela Universidade Federal do Maranhão. Doutoranda em História pela Universidade Estadual do Maranhão. Professora do Instituto Federal do Maranhão IFMA – Campus Pedreiras. Coordenadora Geraldo NEABI – IFMA / Campus Pedreiras e do LEGIP – Laboratório de estudos em Gênero do Campus Pedreiras. Instagram: @nilamichele