CRÔNICA
Entre carros indo e vindo, passos apressados de um tempo que não pode esperar, dona Laura, com seus cabelos brancos e olhos miúdos, desafiava a agoniada vida urbana. Enquanto muitos voltavam para casa, colocava sua cadeira para fora, na calçada, como quem fosse apresentar um talk show. Tinha sempre um assunto, uma novidade e uma risada.
Como as plantas de sua janela, enfeitava a margem de uma avenida quase sempre barulhenta. Era o gole de quietude que tanta falta nos faz. Um antídoto contra a correria e essa ideia de abraçar o mundo com as mãos. Sempre me comunicou felicidade.
Nossa última prosa foi na porta de casa, não da sua, mas de sua filha. Lá estava pela força do tempo. A saúde fragilizada inspirava cuidados, mesmo sob ela, tão independente. Hoje soube de seu falecimento. A esquina fica mais pobre sem ela e o caos é o que sobra naquele pedaço de rua. Sem cheiro de mão e sem sua clássica pergunta: você ainda está morando aqui? Perco uma amiga de boas prosas sobre política, com aquele aguçado bom humor e pitadas de acidez.
Dona Laura, obrigado por tudo!