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sexta-feira, outubro 4, 2024

Dona Laura: a calma sentada na esquina da pressa  

CRÔNICA


Entre carros indo e vindo, passos apressados de um tempo que não pode esperar, dona Laura, com seus cabelos brancos e olhos miúdos, desafiava a agoniada vida urbana. Enquanto muitos voltavam para casa, colocava sua cadeira para fora, na calçada, como quem fosse apresentar um talk show. Tinha sempre um assunto, uma novidade e uma risada.

Como as plantas de sua janela, enfeitava a margem de uma avenida quase sempre barulhenta. Era o gole de quietude que tanta falta nos faz. Um antídoto contra a correria e essa ideia de abraçar o mundo com as mãos. Sempre me comunicou felicidade.

Nossa última prosa foi na porta de casa, não da sua, mas de sua filha. Lá estava pela força do tempo. A saúde fragilizada inspirava cuidados, mesmo sob ela, tão independente. Hoje soube de seu falecimento. A esquina fica mais pobre sem ela e o caos é o que sobra naquele pedaço de rua. Sem cheiro de mão e sem sua clássica pergunta: você ainda está morando aqui? Perco uma amiga de boas prosas sobre política, com aquele aguçado bom humor e pitadas de acidez.

Dona Laura, obrigado por tudo!

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Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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