OPINIÃO
O exercício democrático da política exige muita maturidade de seus atores, para que possam compreender e aceitar situações e acontecimentos que não são de acordo com suas vontades e desejos. Aqui vale a máxima de Voltaire “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”.
O fato de não concordar com o que você diz, não me permite silenciá-lo. Dentro de uma concepção democrática, isso não é possível. Por isso, no jogo democrático é necessário aceitar aquilo que não concordamos, inclusive maneiras controversas de convencimento de pautas eleitorais e do próprio voto em determinado candidato. No entanto, é preciso separar o que é do “jogo” e o que foge dos meios democráticos, para se tornar uma pratica de má fé e até mesmo crime eleitoral.
Muitos grupos de empresários são declaradamente bolsonaristas, e isso não é um problema em si, eles têm esse direito. Tem inclusive o direito de tentar convencer seus empregados em votar nos seus candidatos – prática que já é muito corriqueira em Pedreiras, principalmente nas campanhas locais de prefeitos e vereadores. Agora o que não se pode é confundir convencimento por meio de defesa de ideias e propostas, que é legitimo, com a coação direta e indireta desses trabalhadores, na base da ameaça de perda de emprego ou algo do gênero.
É sabido por muitos que no Brasil, desde o primeiro turno dessas eleições, se intensificou o crime de coação eleitoral de trabalhadores por determinados grupos de patrões e que esse assédio/crime se intensifica com a chegada da decisão em segundo turno, no dia 30 de outubro. É sabido também que o número de denúncias no Ministério Público do Trabalho aumentou bastante nos últimos dias e que já houve até caso de prisão, mas mesmo assim os abusos, assédios e crimes continuam. Inclusive os números de casos devem ser bem maiores que os já divulgados e estimados por sabermos que a grande maioria dos empregados temem fazer a denúncia por medo de represálias e demissão.
É do conhecimento de todos que essa pratica está em todas as partes do país, no Maranhão e em Pedreiras ela também existe. Não é de hoje que muitos empregados do comércio de Pedreiras vêm relatando esses episódios criminosos, chegando a ter relatos de que empregadores anotam dados do título e seção do funcionário e ameaçam que o determinado voto deve aparecer, se não….
A todo instante chegam relatos do tipo apresentado acima, infelizmente esses relatos não estão sendo apresentados nas delegacias, nem no Ministério Público (MP), de forma que os mesmos possam fazer uma investigação. Conhecendo as práticas empresariais de muitos, em Pedreiras, se entende o porquê dessas denúncias não chegarem a tais instâncias.
Depois de tantos comentários nas cidades sobre o tema, fica no ar algumas perguntas:
A CDL sabe dessas possíveis ameaças? Se sabe está sendo conivente ou está fazendo algo pra coibi-las?
Alguma denúncia do gênero já chegou na delegacia de Pedreiras ou no Ministério Público?
Pra finalizar deixo aqui uma sugestão as autoridades clericais de nossa cidade. Sabedores que, acredito, na sua totalidade, os empresários de Pedreiras são cristãos, católicos ou evangélicos, nos encontros religiosos é bom lembrar que no cristianismo verdadeiro, não se tolera ameaças nem perseguições, principalmente aqueles mais vulneráveis na sociedade.
Por Jaime Ribeiro Lopes, professor de Geografia