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quarta-feira, novembro 6, 2024

Brasil verde e amarelo e a cegueira moral

Queremos um Brasil que seja justo para todos. Um Brasil que perceba e incorpore o meio ambiente como parte de nossas vidas


Próximo do bicentenário de independência (07/09/2022), o Brasil parece não ter o que comemorar, e parece não haver interesse, pois parece estar ainda sob constantes ataques, só que agora os inimigos não são ultramarinos, eles são autóctones. Os ataques são contra a própria história do país, contra a república, contra a democracia, contra a natureza, contra o povo. Não há o que comemorar mesmo. Talvez protestar seja a saída. O Brasil está há três anos diante de um caos político, econômico e social e de desrespeito às instituições que fazem dessa nação um país democrático e de direitos. O desemprego, a inflação e a fome formam uma tríade assustadora. A pobreza aumentou. Dados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) apontam o trimestre encerrado em maio/2022 com o maior índice de miséria, com taxa de desemprego de 14,6% e subutilização de 29,3% da mão de obra. A subutilização soma desempregados, pessoas que gostariam e estavam disponíveis para trabalhar mais e quem tinha potencial para trabalhar.

Há uma tendência de alta no preço dos alimentos que se observa há pelo menos três anos. Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontam que entre 2018 e 2021 os alimentos ficaram, em média, 43% mais caros para o consumidor final. A pandemia e políticas econômicas ineficazes agravaram esse cenário. O mesmo ocorreu em relação ao desemprego. Portanto o cenário, sem pessimismo é assustador. Um estudo  recente (2022) da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), aponta que 116 milhões de pessoas — mais da metade dos lares brasileiros —  estavam em situação de insegurança alimentar e 19 milhões passavam fome.

Diante do exposto parece realmente não ter o que comemorar nesse bicentenário de independência. Talvez protestar seja a alternativa. Mas, é importante destacar que nem tudo é tão ruim que não possa melhorar. Teremos ainda esse ano dois importantes acontecimentos: a Copa do Mundo de Futebol que será realizada no Catar e as eleições no Brasil. Quanto à sede da copa do mundo, seguem algumas informações relevantes.

O Catar (Qatar) é um país árabe da península arábica, independente em 1971, sendo um dos mais ricos da região, devido às receitas oriundas do petróleo e do gás natura. A riqueza e o padrão de vida do Catar se comparam com os dos Estados da Europa Ocidental, tendo o país o maior PIB per capita no Mundo árabe de acordo com o Fundo Monetário Internacional (2006) e o maior PIB per capita (com base na paridade do poder de compra) no mundo segundo o Cia World Facebook. Com nenhum imposto de renda, Catar, juntamente com o Bahrein, é um dos países com as menores taxas de impostos do mundo.

Em relação ao Brasil, país latino-americano e da camada Pré-Sal[1], que está a pouco mais de três meses de um momento histórico, as eleições 2022, nos é delegado, elegermos senadores, deputados federais e estaduais e presidente da república, juntamente com seu vice. As escolhas que faremos repercutirão no Brasil que queremos. E que Brasil queremos? O Brasil do descaso com o meio ambiente e com os que o defendem? O Brasil da miséria e do desemprego? O Brasil da chacota internacional? O Brasil do autoritarismo e do retrocesso? O Brasil de armas nas mãos? O Brasil do genocídio dos povos originários e de seus defensores? O Brasil da deseducação? O Brasil da anti-ciência?

Aqui as respostas é que movem o mundo ou melhor o nosso país. Queremos um Brasil que seja justo para todos. Um Brasil que perceba e incorpore o meio ambiente como parte de nossas vidas. Um Brasil educado e transformado ratificado nas palavras de Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.  Queremos um Brasil progressista, não reacionário. Queremos um Brasil como potência econômica e social. Queremos um Brasil com saúde para todos (Viva o SUS). Queremos um Brasil de perspectivas e possibilidades sem notícias falsas (fake News), mas de informação que conduza a desalienação. 

Esse Brasil que se aproxima do seu bicentenário de independência, só depende de nós. O Brasil não depende de ecos palacianos ou congressistas e seus mandriões, nem de buzinas ensandecidas de motos de luxo (de poucos) durante as motociatas que queimam não somente combustíveis (caro, por sinal), mas o sonho daqueles que um dia iludidos, depositaram confiança e esperança. A legião de apaixonados por essas motos, não são motoboys ou moto taxistas. Eles representam uma parcela bem reduzida que desembolsam valores para adquiri-las que custam acima de R$ 30 mil, com modelos que passam de R$ 120 mil. Nada contra os passeios para quem pode. O que se repudia é a cegueira moral, visto que mesmo no período mais sombrio da pandemia (São quase 700 mil mortos no Brasil), esses passeios eram rotineiros e soavam como comemoração. Essa cegueira moral, conforme Zygmunt Bauman (2014) é a “perda da sensibilidade em relação aos outros. É o mal que assola nossa época e nos anestesia perante o sofrimento alheio”.

O Brasil que queremos vai muito mais além das motociatas. O Brasil que se quer é o da inclusão social, econômica, cultural, religiosa. Queremos um Brasil com funk, reggae, axé, samba, forró, rock, nossa música popular, do bumba meu boi entre tantas outras manifestações. Queremos um Brasil onde todos os credos e crenças sejam respeitadas. Queremos um Brasil com terras e moradia para todos. Fechar os olhos para o caos em que se encontra nosso país, repito, nos torna cegos moralmente. Mas o grito rouco das ruas se aproxima. Ele é igualmente assustador, pois representa um grito de esperança e quem sabe de liberdade. Atacar, agredir, denegrir imagem de outrem não é liberdade. Atacar poderes institucionalmente constituídos é agressão. Isto posto, finalizo com Santo Agostinho “Mais vale aquele que me critica porque me corrige do que aquele que me elogia porque me corrompe. Apropriado, não?

Por José Edson da Silva Barrinha – Professor de Geografia do IFMA – Campus Pedreiras


[1]camada de pré-sal é formada por grandes reservas de petróleo e gás natural, que se encontram em imensas profundidades sob um depósito de sal. Possui uma extensão de aproximadamente 800 km entre Espírito Santo e Santa Catarina, representando uma das maiores regiões petrolíferas descoberta nos últimos cem anos (https://www.infoescola.com/geografia/petroleo-na-camada-pre-sal/)

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