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segunda-feira, junho 23, 2025

Bebê Reborn: os bonecos que embalam carências humanas

COLUNA DO PE. JOSÉ GERALDO

Vivemos tempos em que as dores da alma, muitas vezes, não encontram escuta. Tempos em que a solidão veste gravatas ou pijamas, mora em mansões ou barracos, e onde o vazio caminha disfarçado nas multidões.
Somos, cada vez mais, uma humanidade cheia de lacunas. Lacunas afetivas, familiares, espirituais. E é dentro dessas ausências que algumas presenças simbólicas surgem como forma de consolo entre elas, o bebê Reborn.

Não se trata apenas de uma boneca ou boneco. É uma experiência afetiva, quase terapêutica, para muitos.
Parecem reais, respiram pelas mãos dos que as seguram. Têm nome, cheiro, peso e roupinhas como um recém-nascido. Mas são, no fundo, reflexos da necessidade de se apegar a algo que alimente a afetividade negada pelo mundo real.
Uma tentativa de manter viva a esperança de acolhimento em tempos de desamparo.

A reportagem do Fantástico realizada domingo, sobre os bebês Reborn não foi apenas sobre bonecos , mas sobre gente. Gente ferida, gente órfã de presenças vivas, gente que procura na arte a reparação de dores que a vida não curou.
Uma mãe que perdeu o filho. Uma mulher que nunca pôde engravidar. Um idoso que vive só. Cada um com sua história, seu buraco interno, sua saudade do que não teve ou do que já foi embora.

A sociedade olha com desdém. Ri. Julga. Mas não enxerga. Não vê que por trás de cada bebê de silicone há um grito mudo de carência, uma busca por sentido, por toque, por colo. Numa época em que tudo é virtual, onde as relações se esfriam e as emoções são postadas como filtros, há quem prefira um afago que, mesmo sendo artificial, parece mais verdadeiro do que os abraços apressados do cotidiano.

Vivemos num mundo de faz de conta, onde a fantasia não está apenas nos brinquedos, mas nas máscaras que usamos para fingir que estamos bem. E nesse mundo que não leva a sério a dor silenciosa dos outros, os bebês Reborn surgem como um reflexo fiel do que estamos tentando esconder: estamos carentes, exaustos, carcomidos de afeto.

Não se trata de dizer se é certo ou errado. Trata-se de ouvir. De olhar com empatia. De compreender que, quando a alma está vazia, até um boneco pode ser abrigo. Talvez, mais do que rir dessas pessoas, devêssemos perguntar: por que o mundo se tornou tão árido a ponto de obrigar alguém a inventar o afeto?

Os bebês Reborn não são o problema. São sintoma. Sintoma de uma sociedade que precisa, urgentemente, voltar a tocar-se com ternura. Talvez quando aprendermos a cuidar uns dos outros de verdade, essas bonecas deixarão de ter função. Mas, até lá, seguem embalando os braços e os corações que a vida deixou vazios.

Por Pe. José Geraldo Teófilo, reitor do Santuário de São Benedito, pedagogo e psicanalista clínico.

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