OPINIÃO
Perdoe-me a comparação nessa metáfora. Estamos vivendo uma vida medíocre. Há momentos em que precisamos parar, olhar para dentro e reconhecer nossas limitações, não como fim, mas como ponto de partida. Vivemos uma vida medíocre, cercados por achismos, onde o conhecimento profundo cede espaço ao raso, e o esforço de crescer, aprender e evoluir parece secundário. Não é que faltem oportunidades, é que nos sabotamos. Como uma champanhe Sidra Cereser, espalhamos bolhas efêmeras de alegria superficial, celebramos sem realmente compreender o significado do que se passa ao nosso redor.
Crescemos com um pensamento pequeno, sufocados por um negativismo que nos faz acreditar que o pódio é sempre para o outro, que o sucesso não nos pertence, que o sonho é um luxo de poucos. Em vez de nutrirmos a autoestima, permitimos que a falta de confiança se espalhe em nosso ser. Na risada fácil, no comentário vazio, somos espontaneístas, e por que não dizer, “liquidicionistas” – prontos para abandonar qualquer profundidade de pensamento e sentimento em troca de uma satisfação imediata e sem substância.
Quantas pessoas você conhece que se assemelham à Sidra Cereser? Embaladas numa falsa sensação de satisfação, baratas e acessíveis, são consumidas sem a devida apreciação. Nada contra a simplicidade, mas o que essas pessoas perdem ao não se aprofundar nas complexidades da vida? Não há amor pelo conhecimento, pela arte, pela beleza do mundo. O mundo é repleto de museus, pinacotecas, literatura clássica e música sublime, mas são ignorados, deixados de lado como se não fossem importantes.
Sonhamos pouco e nos contentamos com menos. O que seria da nossa vida se tivéssemos o mesmo cuidado e apreço pelo saber como temos pelos prazeres mais básicos? Que diferença faria se ao invés de nos mergulharmos no superficial, buscássemos a profundidade da arte, da cultura, da ciência, das boas atitudes e do desejo de crescimento? Falar um português correto, por exemplo, não é apenas uma formalidade, mas um símbolo de respeito e apreço pela nossa própria língua e história.
Agora pense no Dom Pérignon, a fina champanhe. Requintado, delicado, cuidadosamente elaborado. Assim é a vida de quem valoriza o conhecimento, quem busca a sabedoria em vez da ignorância, quem se encanta com o belo. Essas pessoas vivem com propósito, saboreiam cada momento, apreciam o que o mundo tem a oferecer, seja na leitura de um bom livro, na contemplação de uma obra de arte ou na degustação de uma peça musical. Vivem para além do óbvio, sabem que a verdadeira celebração da vida está no cultivo de uma alma enriquecida, não apenas pelas experiências, mas também pela compreensão profunda delas.
Um chamado para transcender a mediocridade
Vivemos, muitas vezes, como se não merecêssemos mais do que a Sidra Cereser – achamos que o Dom Pérignon é apenas para uma elite distante. Mas será que é assim? Não seria hora de repensarmos nossos desejos e ambições? De elevarmos nossa autoestima ao ponto de acreditar que merecemos sim, uma vida melhor, uma vida cheia de conquistas, de belas experiências e de aprendizados?
Sonhar grande não é errado. Pelo contrário, é essencial. Se continuarmos a nos contentar com o mínimo, permaneceremos presos nesse ciclo de autossabotagem, rindo das nossas próprias quedas e nos convencendo de que nunca alcançaremos o topo. No entanto, o pódio está lá, esperando por quem ousa almejá-lo.
Que possamos então, ao menos uma vez, abandonar o rótulo de Sidra Cereser e nos aproximarmos do Dom Pérignon. Que possamos cultivar o gosto pelo conhecimento, o amor à literatura, o desejo por boas atitudes e a apreciação da música e da arte. Que possamos buscar o belo em tudo e elevar nossas vidas ao nível do sublime. Que nosso viver seja como uma taça de champanhe Dom Pérignon: elegante, profundo, refinado e digno de celebração verdadeira.
Pe. José Geraldo Teófilo, reitor do Santuário de São Benedito e pedagogo.