Há pouco mais de um ano, o mundo registrava o primeiro caso de Coronavírus, em Wuhan, na China, local denominado como o epicentro da doença que assola o mundo. O vírus que resultou mortes, desavenças, teorias e evidenciou os problemas estruturais de uma sociedade desigual no nosso país, Brasil. Em uma ampla dicotomia subdividida em dois termos: ciência e senso comum, ambos voltados aos conflitos nutridos por um governo que divide opiniões partidárias entre a esquerda e a direita.
Mas apesar do surgimento de um vírus da noite para o dia, o cenário de um Brasil desestabilizado e afundado nesta serie de conflitos se desenvolve no decorrer do tão abissal 2020, principalmente em meio aos inúmeros posicionamentos do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, sobre a sua forma de solucionar esta miríade de demandas que envolvem a saúde pública, a economia, a educação e principalmente a vida dos mais de 200 milhões de brasileiros expostos ao mesmo problema, mas trajando a luta, imersos em realidades distintas.
Confirmado e noticiado, no dia 27 de fevereiro de 2020, o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Homem de 61 anos, morador de São Paulo, realizou o exame após apresentar os sintomas ao retornar da Itália, no início de fevereiro. Logo o amedrontamento, a ansiedade e a sensação de insegurança à exposição de um vírus, que mata, foi se intensificando. O isolamento social se torna a principal alternativa. Não há mais diversão em conjunto e viver é relativizado à sobrevivência, pois para alguns nem vida restou. Assim, o único sentimento que fica é a criação de uma vacina que trouxesse de volta a normalidade.
Em meio à minimização da doença, desde o primeiro caso no Brasil, Bolsonaro, defensor da cloroquina no tratamento contra a covid-19, inicia o que chamamos de “negacionismo”, indo totalmente contra a ciência e apresentando soluções a partir de sua própria experiência e visão de mundo. Logo, no mês de setembro, quando o surgimento de uma vacina começa a se concretizar, os efeitos de seu pronunciamento sobre a “não obrigatoriedade” e a afirmação: “não vou tomar a vacina e ponto final”, foi o passo inicial para a grandeza dessa dicotomia.
Confrontar o senso comum, algo que “demanda alinhamento da consciência teórica e prática de determinado grupo” de forma questionadora e crítica, sempre foi enxergado pela direita partidária como uma ação da esquerda radical e revolucionária que entende a ciência como avanço de qualidade de vida para além do entendimento da natureza das coisas. O professor da Universidade de São Paulo, Ernane Xavier da Costa, ressalta a importância de politizar a ciência, como forma de desenvolver a economia de um país, entretanto, a despolitização da mesma pode custar um preço altíssimo, a exemplo: 186 mil vidas.
O senso comum surge como um efeito dominó, em sua maioria trazendo desinformação que se propaga instantaneamente. Diferente da ciência, suas teorias não são comprovadas e nem avaliadas, elas são estereotipadas, a exemplo: teorias conspiratórias de cunho xenófobo, contra a vacina Coronavac, produzida na China. Essa é uma das muitas ‘afirmações’ propagadas sem comprovação, mas embasadas no “parece ser”.
Podemos identificar inúmeras características do senso comum na produção discursiva do Presidente da República, desde uma suposição de que o efeito colateral da vacina ocasiona “virar um jacaré” até a afirmação de que a cloroquina cura o Covid-19, baseado somente em sua experiência com o medicamento, uma vez que o mesmo medicamento não provoca o mesmo efeito em toda população. São enunciações que provocam sentidos, principalmente em meio aos conflitos que nos cercam.
Entenda sobre a corrida pela vacina no Brasil
Não há esforços e nem pressa do Governo Federal pela vacina, como mencionou o presidente da República, há 5 dias, em uma entrevista conduzida por seu filho, Eduardo Bolsonaro. “A pressa pela vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas”, disse o presidente ressaltando que a pandemia está “chegando ao fim”. Enquanto isso, governos estaduais se mobilizam em busca de parcerias para a compra.
Segundo a agência DW Brasil, Até o momento as possíveis vacinas que poderão chegar ao Brasil são:
Vacina de Oxford
Produzida pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a Universidade de Oxford, a vacina ChAdOx1 nCoV-19 está em teste no Brasil desde junho, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo informações da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), o imunizante criado no Reino Unido conta com 10 mil voluntários brasileiros e será fabricado no Brasil pela Fiocruz em sua unidade produtora de imunobiológicos Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro.
Coronavac
A vacina da empresa chinesa Sinovac é testada no Brasil pelo Instituto Butantan, para o qual deve ser transferida a tecnologia para produção do imunizante no país. Com mais de 13 mil voluntários brasileiros, a Coronavac está em fase final de testes e aguarda o registro e autorização da Anvisa para uso.
Vacina de Pfizer/Biontech
Fruto da parceria entre a Pfizer, farmacêutica multinacional sediada nos EUA, e a alemã Biontech, a vacina BNT162b2 começou a ser testada no Brasil em junho, em pouco mais de 3 mil voluntários. Ainda não foi firmado acordo para a transferência de tecnologia para o Brasil.
Vacina da Janssen
Desenvolvida pela belga Janssen-Cilag, que faz parte do grupo Johnson & Johnson, a vacina AD26.COV2.S está sendo testada em 28 centros de pesquisa no Brasil, distribuídos em 11 estados, segundo a farmacêutica.
Sputnik
Vacina russa não testada no Brasil. Segundo a Anvisa, para esses casos, é preciso que devidos procedimentos para registro sejam cumpridos.
(Fonte: Agência DW Brasil)
O que prevalecerá?
Mais de 200 milhões de brasileiros aguardam a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de um dos imunizantes apresentados acima (exceto a vacina Sputnik). A Coronavac, testada pelo Instituto Butatan, o principal produtor de imunobiológicos do Brasil, é uma das cotadas e fechou acordo com o estado de São Paulo para obter as doses. Devido à demora na aprovação, a Câmara emitiu uma Medida Provisória que estabelece um prazo de cinco dias para a liberação da vacina pela Anvisa.
Seria este o momento ideal para contrariar a ciência e deixar o nosso senso comum fluir em meio à instantaneidade de informações em um curto período de tempo? Fica o questionamento.
Por: Mayrla Frazão