OPINIÃO
Quem diria que a obra “1984”, de George Orwell, iria ser uma obra profética do atual momento que estamos vivendo. No livro, é visto que o ditador conhecido como o Grande Irmão criava fatos alternativos para a população da Oceânia. Notou alguma semelhança com a nossa realidade? Bem-vinde a era da pós-verdade!
Escolhida a palavra do ano de 2016, a pós-verdade, que teve como difusor o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, nada mais é que um contexto no qual os fatos objetivos e verídicos não tem mais importância e perdem espaço para as emoções e crenças. O apelo emotivo são as palavras-chave. Em outras palavras, aquilo que não confirma as crenças de algum sujeito é, simplesmente, rejeitado e descartado. E o processo eleitoral passa a ser um ninho da pós-verdade, bem como Trump nos EUA, e Jair Bolsonaro no Brasil. Ambas vitórias estão ligadas ao disparo de fake news.
É nesse cenário que as fake news ganhem espaço. E não é por acaso, pois em um ambiente de profunda descrença nas instituições políticas e jornalísticas fica mais fácil reverberar o caos. E é nesse caos que Bolsonaro desgoverna. Dados da agência de checagem Aos Fatos totalizou 5.140 declarações falsas emitidas pelo candidato à reeleição à presidência. Pelo que parece, todo dia é 1º de abril pro dito cujo.
Não é à toa que as fake news se transformaram em instrumentos políticos da extrema-direita, pois, segundo dados do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), às fake news são compartilhadas 70% mais do que as notícias verdadeiras. A partir disso é possível afirmar a eficácia das fake news em contribuir para um cenário de profunda desinformação. Com isso, são criadas diversas agências de checagem de fatos ao redor do mundo, e no Brasil, podemos citar as principais no combate efetivo da desinformação: a Lupa, Aos Fatos, Comprova, Fato ou Fake, por exemplo.
Em vista disso, o Tribunal Federal Eleitoral (TSE) está realizando ações de combate à desinformação, principalmente, às vésperas do resultado das eleições do segundo turno. Entre essas ações podemos destacar: reunião com as plataformas digitais; punição contra a Jovem Pan (que em nenhuma hipótese faz jornalismo); e dentre outras medidas contra o compartilhamento de fake news.
“Nós avançamos muito no primeiro turno. Tivemos, graças ao apoio das plataformas e redes sociais, um primeiro turno bem dentro do razoável, talvez até melhor do que todos nós esperávamos. Mas estamos tendo um segundo turno piorando cada vez mais neste aspecto. E isso, da parte do TSE, vem demandando medidas mais duras”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes. É de bom tom ressaltar que as ações do TSE no combate daqueles que compartilham fake news, que é um crime, não é nenhuma espécie de censura, e sim, uma forma legal de assegurar o cumprimento da Lei.
À respeito disso, a extrema-direita e apoiadores de Bolsonaro vem promovendo o discurso de “censura” sobre as medidas de combate à desinformação tomadas pelo TSE, bem como usando o direito de liberdade de expressão para poder justificar a tamanha cara de pau em promover mentiras. Como muito bem lembrou a pesquisadora e doutoranda em Ciências da Comunicação na Universidade de São Paulo (USP), Renata Mielli, ao Brasil de Fato: “a liberdade de expressão não é um direito que está acima de outros direitos. E tampouco é um direito que abriga manifestações homofóbicas, racistas ou outras violências”.
O relatório “Calar Jamais!” compartilhou dados que apontam cerca de 110 casos de violações à liberdade de expressão durante o desgoverno de Bolsonaro, como o ataque misógino contra a jornalista Patrícia Campos Mello; a contratação de serviços de monitoramento por parte da secretaria do desgoverno para vigiar jornalistas e influenciadores, que são vistos por Bolsonaro como “detratores”, “neutros” ou “favoráveis”; a tentativa de arrombamento da sede da Repórter Brasil, dentre outros. “Nos últimos quatro anos, o Brasil retrocedeu ao período pré-Constituição de 1888, quando o país vivia o fim do regime militar”, avaliou o documento.
Esse presente texto não tem como objetivo se aprofundar nessa temática tão complexa e que gera discordância até mesmo dentro do ambiente acadêmico, mas jogar à luz no debate e provocar inquietações críticas. Agora, reflita e pesquise a fundo sobre essa distopia na qual estamos vivendo!
Por Thiago Henrique de Jesus Silva, jornalista, pesquisador e mestrando em Comunicação pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Contato: thiago.silva@ufpi.edu.com.