EDITORIAL
Pedreiras, Maranhão, vive um estado de insegurança. Rotina de violências sob enquadramento das câmeras de videomonitoramento. Diante das cenas nítidas de nossa decadente realidade, o jornalismo local acumula horas dedicadas à cobertura dos fatos que chegam à delegacia. São incontáveis. Não faltarão, à imprensa local, corpos para contar, nomes para citar e suspeitos para interrogar.
Mesmo a mais empírica observação, grita que temos falhando enquanto sociedade. Ações isoladas, aqui e ali – algumas de natureza política–, se mostram ineficazes ante o mundo paralelo do crime que por aqui também é organizado e com regimento próprio. Há uma realidade paralela que opera nas barbas do Estado. Longe de ser um problema tão somente das forças policiais, há de se reconhecer que o crescimento do crime organizado é uma chaga brasileira distante de qualquer cicatrização.
Enquanto, como sociedade madura, não dialogarmos, com a devida seriedade, sobre a violência em Pedreiras, o caos que bate à porta das delegacias ocupará boa parte do itinerário jornalístico. Sem integração das forças, sem ciência e sem números, nos sobrará apenas o apelo, a alguma divindade, por proteção.
O jornal O Pedreirense acredita que uma cobertura séria, sobre segurança pública, vai muito além da produção de conteúdo factual, que tantas vezes reforça estigmas sobre minorias e lugares, sem constranger as forças do Estado calcadas pela inércia. Como se percebe, o tapete já não cobre o problema.
Assim como a outros setores da sociedade, cabe ao jornalismo chamar a ameaça pelo nome, mas sem engajamento social e comprometimento dos poderes da República, localmente representados, tratar a questão de forma mais aguda é colocar em risco profissionais. Quem está seguro e quem garantirá, ao jornalismo, ir além do factual sem ser este o próximo alvejado?
Diante deste quadro que assombra, o conselho editorial deste jornal decide que O Pedreirense não mais fará a cobertura factual relacionada à segurança pública. Escolhemos preservar nossos profissionais e mostrar as potencialidades de nossas comunidades. As contradições existem e precisam ser abordadas da maneira mais responsável possível. Essa não é uma tarefa que caiba apenas ao jornalismo. É preciso disposição e equilíbrio. A posição não é o abandono da temática, mas um movimento para que esta seja tratada de outra forma.
A decisão, longe de ser uma negativa da realidade, ratifica nossa disposição para o diálogo. A cobertura que desejamos fazer sobre segurança pública é a de ações que passem longe da porta das delegacias, que sejam de fato eficazes e envolventes. Nosso jornalismo estará à disposição quando houver, de forma sincera, uma movimentação para a busca de soluções viáveis e duradouras.