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domingo, setembro 8, 2024

O PT está nu

OPINIÃO


O PT não é uma sigla qualquer. Quem o ama o ama demais, que o odeia o odeia demais. Não sou dado às neutralidades, mas ciente de que partidos são inventos humanos, também não sou cativo dos extremos (quem diz o que são extremos? Papo para outro momento). Vindo da educação pública, lembro que ela, com todas as suas limitações e precariedades, me estimulou a pensar. É preciso questionar e a dúvida é sempre um instrumento importante.

O que não duvido é da importância do Partido dos Trabalhadores para a consolidação da esquerda e de pautas, especialmente as sociais, não apenas no Brasil, mas também na América Latina. Em um país que abriga uma multidão ainda tutelada por elites, um partido feito para os trabalhadores, com trabalhadores, é de uma transgressão das mais poderosas. Dos anais da história, quer se goste ou não, ninguém poderá apagar.

Contudo, a nostalgia não pode nos furtar a dúvida, a capacidade de interpretar o tempo e as coisas. O mundo mudou, o Brasil mudou, o PT também. Para melhor? Quando leio a nota em que o partido chama de “jornada pacífica, democrática e soberana” a opressão de Nicolás Maduro na Venezuela, divido-me entre a saudade e um ainda bem. Saudade de sua história de luta forjada no coletivo, tantas vezes profanada após sua chegada ao poder; o ainda bem diz respeito ao fato de que a esquerda não é só o PT. Houve quem tivesse coragem de sair quando o partido flertou contra aquilo que dizia combater, há quem tenha coragem, permanecendo, de não abdicar da autocrítica.

Deixando claro o que penso: a nota (pensei em usar o termo no diminutivo, mas lembrei-me que se trata do partido do presidente da república) do PT foi uma validação da opressão que violenta parte de um povo, uma expressão política, que também pode ser questionada, mas de que forma? A opressão agora é ferramenta democrática? A força é o caminho? Maduro é um ditador e mil notas petistas não mudarão os fatos. A eleição, como se dá, sem a devida transparência, para citar o mínimo, é o golpe do poder pela permanência nele.

Para ser justo lembro que há, dentro do PT, quem entenda a dimensão das violações de direitos em curso no país vizinho. Notadamente estes são minoria.

Quando entendo que partidos são criações humanas, incluindo o PT, evito o risco da surpresa. É a velha máxima: dê poder e saberá.

O PT mudou, para melhor? Há quem ache que sim. Está mais pragmático e flexível, termos elegantes sempre tirados da cartola quando a sede pelo poder fala mais alto que os princípios, estes sempre necessários quando apontados para oponentes. O PT perdeu a vergonha. Em algum momento a máscara caiu e ficou por isso mesmo. Digo em alto e bom tom: a máxima tem valia no Planalto e no Palácio Municipal de Pedreiras. Uma coisa não falta ao PT, harmonia e fidelidade partidária. Se a alta cúpula escreve nota a favor de quem quer se manter, por décadas, no poder (o imperialismo americano não é solução, ressalto), aqui seus personas tietam as elites políticas paroquiais. O PT mudou de alpendre.

Lembro que trato de um recorte, uma conjuntura. Deprimente? Sem sombra de dúvidas. Longe de mim pregar o fim do PT, ou negar avanços ocorridos em suas gestões (federais e municipais), mas não se trata de escolher entre o que se prega e o que se faz. Não se trata de sacrificar princípios, perspectivas, pelo Minha Casa, Minha Vida. Há muita gente boa, necessária, dentro do PT, inclusive no diretório municipal. Oxalá que tenham força política para devolvê-lo a um rumo mais honesto com aquilo que sedimentou sua criação.

📌 Observação: a opinião é de responsabilidade de seu autor e não representa um posicionamento do jornal O Pedreirense.

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Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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