OPINIÃO
No profundo silêncio, onde as histórias se unem como fios que tecem a mais bonita obra de arte de uma artesã, Jesus nos sussurra uma verdade eterna: “Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos Céus é semelhante a um Pai de família que tira do seu baú o tesouro, coisas novas e velhas.” Neste baú, guardamos as relíquias do passado e também as sementes do futuro, esperando para germinar em corações dispostos.
Silvio Santos, um homem de visão ampla, tornou-se guardião de um baú repleto de sonhos e realizações. Um homem que, com humildade e determinação, traçou seu caminho desde as ruas movimentadas, onde vendia canetas e capas de plásticos, até os palcos luminosos da televisão brasileira. Ele, que não se intimidou pelas críticas, olhou sempre além, construindo uma família e deixando um legado que ecoa em cada canto deste país.
Exímio empresário, Silvio se ergueu como um dos maiores apresentadores de televisão, mas não sem antes conhecer a vida em sua essência mais crua. Foi camelô, locutor de rádio, serviu o exército na escola de paraquedistas, e trabalhou incansavelmente na venda de anúncios. A cada desafio, um novo aprendizado; a cada queda, uma nova ascensão.
A criação da empresa Baú da Felicidade foi mais que um empreendimento, foi a materialização de uma visão onde o sonho do povo se encontrava com a generosidade de um homem que sabia o valor de cada conquista. E nos picadeiros dos circos, onde vendia carnês, Silvio transformou a simplicidade em magia, enfeitiçando os corações com sua presença carismática.
Nos programas da TV Tupi, ele encantou multidões, cantando marchinhas de carnaval que ressoavam como hinos de alegria. E quando a política chamou, ele não se esquivou, aceitando o desafio de ser mais uma voz na construção de uma nação melhor. Em cada “Silvio Santos vem aí”, ressoava a promessa de algo grandioso, um espetáculo que não era apenas entretenimento, mas uma celebração da vida e do trabalho árduo.
“O homem é do tamanho dos seus sonhos”, e Silvio nos ensinou que desistir não é uma opção. Perseverar, mesmo quando as sombras do fracasso nos envolvem, é a verdadeira medida da grandeza. Quase um século de vida intensa, onde cada queda foi uma oportunidade de se levantar mais forte, mais sábio.
Com seu português correto e sua vastidão de conhecimentos, Silvio Santos navegou pelas águas muitas vezes turbulentas da comunicação, com uma ironia fina que nunca depreciava, mas que revelava a complexidade de um homem autêntico. Ele soube tocar corações com sua Porta da Esperança, com o “vem pra cá” que se tornou um convite para sonhos se tornarem realidade, e com o “quem quer dinheiro?” que ressoava como um chamado à prosperidade.
O Santuário, onde histórias são contadas e preservadas, reconhece a importância de lembrar a trajetória de homens e mulheres que, como Silvio Santos, escreveram capítulos de bondade e superação. Pois, em cada história guardada, há um tesouro de coisas novas e velhas, e o Santuário, como um escriba instruído, continua a contar essas histórias, inspirando as próximas gerações a sonharem, a lutarem, e a nunca desistirem.
Pe. José Geraldo Teófilo, reitor do Santuário de São Benedito e pedagogo.