Leituras e descobertas do mundo
Ler é um ato solitário. Especialmente, quando se trata da leitura de livros. O leitor experimenta um estado de solitude genuíno. Tudo que é e vive o acompanha naqueles instantes com um livro. Para muitos, uma interiorização necessária, pois, naquela situação, a pessoa leitora se percebe. Sim. A pessoa leitora, pela mediação das palavras, volta-se para si. A literatura, em particular, estimula este envolvimento consigo.
Quando estimulamos esta leitura de livros e si, pela mediação da literatura, buscamos promover esse encontro das crianças leitoras consigo mesmas. As crianças e o mundo se encontram mediante a ação livre de ler. Estes encontros são próprios de cada criança. Cada uma experimenta, ao seu modo, abrir-se ao mundo para envolver-se consigo mesma. Umas, timidamente; outras, curiosamente; outras, desinteressadamente; outras, resistentemente…
Estes movimentos potencializam uma criança autêntica. A autenticidade é a vida genuína. Aquela amplitude que somente cada ser percebe e, por vezes, compreende. É uma entrega à natureza essencial de cada ser. Não a percebe sempre pois vive-se num mundo com tantos apelos e imposições que, muitas vezes, somente se replica. Os outros invadem o ser e dominam-no. O ser permanece cego ou com uma percepção de si bastante comprometida.
Ao ler, a criança leitora é tocada para voltar-se ao seu eu genuíno. Suas emoções. Seus desejos. Suas fantasias. Suas verdades. E percebe-se em movimentos contraditórios com o mundo. O ser desperto compreende-se num mundo de limites e potências. Descobre que precisa fazer escolhas. Sente que precisa sentir-se para não se fazer um replicante. Embrenhar-se no viver não mais desavisadamente. Descobre-se ser criativo e autônomo. Descobre-se…
Por Luciano Melo, educador