Manhã de segunda (23), o ponteiro se aproxima das oito. Na redação home office, as horas úteis já haviam começado. Uma fonte entra em contato – convida-me para uma reunião que tinha como pauta a arbitrária decisão do governo do Maranhão de mudar o local de instalação do Centro de Referência da Juventude, à revelia do Conselho Municipal de Juventude (COMJUV) de Pedreiras, Maranhão, que ao não ser informado, deixou evidente o descontentamento.
Em uma das salas esbranquiçadas do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), local escolhido para a reunião, encontro, entre os presentes, a secretária de Estado da Juventude, Tatiana Pereira, ao lado de Francisco Herleson, que preside o COMJUV, e Domingos Viana, Secretário de Juventude de Pedreiras.
No centro do diálogo uma conquista das juventudes do Médio Mearim.
“Não foi fácil pra gente conseguir. Estávamos cientes de que a obra seria feita ao lado do ginásio do bairro Goiabal, por que é lá onde se localiza boa parte dos jovens pedreirenses. São poucas as obras que envolvem a questão de juventude”, frisa Francisco Herleson, destacando o diálogo tido com a prefeita Vanessa Maia (Solidariedade), que como contrapartida do munícipio, construiria uma praça, caso o Goiabal fosse o local escolhido para a construção do Centro de Referência da Juventude.
“Queríamos saber por que foi mudada a localidade? Quanto custaria a obra, do começo ao fim, no Goiabal e quanto custará no Parque João do Vale?”, indaga Francisco.
“Esse centro foi uma luta muito grande. Quantos jovens e adolescentes tanto trabalharam, de toda essa região, colhendo assinaturas, pois foi uma disputa. A cidade que venceu foi Pedreiras. Fizemos festa por havermos vencido. Na planta do centro, ele é para ser construído no Goiabal. Aí fico sabendo que o centro será uma sala reformada no Parque João do Vale. Que história é essa?”, indaga a assistente social Nilma Melo, presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA), descrevendo o momento em que soubera da notícia da mudança, em uma clara falta de transparência em torno da decisão.
Adrinaldo Bezerra conhece de longas datas o desafio de angariar votos para que o Centro de Referência da Juventude pudesse se tornar uma política pública concreta. Justifica seu empenho, para além do que o trabalho como funcionário requer, na crença que tem nas juventudes.
“Permaneci por ser funcionário fixo. Só que mesmo assim não tivemos hora extra. Não teve nada disso. Estava lá porque a juventude é quem eu amo”, disse Adrinaldo, que desenvolveu papel importante na mobilização quando o secretário de juventude era Felipe Figueiredo, na gestão de Antônio França. Agora Adrinaldo tem ao seu lado Domingos Viana, outro velho conhecido das juventudes.
É importante destacar que se trata de uma obra estadual, ponto bastante clarificado na fala dos presentes na reunião. É fruto do orçamento participativo, na qual são apresentadas propostas derivadas de prioridades elencadas por cada região do estado.
De acordo com o site Politize: “No orçamento participativo, o poder de decisão passa da alta burocracia e de pessoas influentes para toda a sociedade. Isso reforça a vontade popular para a execução das políticas públicas. Outro benefício do orçamento participativo é a prestação de contas do Estado aos cidadãos”.
No caso do Centro de Referência da Juventude se questiona a mudança de onde seria instalado. O governo Flávio Dino optou por fazer a obra em um espaço diferente do projeto, deixando à margem da decisão o COMJUV e outros atores sociais importantes para o contexto.
“Não é uma salinha! Em nenhum momento a gente disse isso. Desculpa a sinceridade: isso passou um certo desrespeito com o nosso trabalho. Em nenhum momento a gente disse que seria uma salinha. Serão três salas, além de se aproveitar ainda toda a estrutura do parque, que se comunicarão, com o papel fundamental: transformar a vida das pessoas”, argumenta a secretária Tatiana Pereira, que disse ter se sentido ofendida com o uso do termo “salinha” em referência ao futuro centro.Cria do bairro Coroadinho, em São Luís, ela conhece de perto as vivências da vida de um militante. É sobre ela que pesa o desafio de promover políticas públicas para os mais de dois milhões de jovens maranhenses, em parceria com os municípios. Diante das queixas e dúvidas, fala por um governo dito de esquerda, mas com atitudes que andam longe do respeito à máxima “todo poder emana do povo”.
“Quer dizer que 1 milhão não dá pra fazer o Centro de Referência da Juventude? Se não tivesse o Parque João do Vale, o que seria feito? Nada? Porque 1 milhão não dá. Cada um conta uma história diferente. O Conselho de Juventude foi quem batalhou para esse centro vir para cá. Nós nunca fomos convidados pelo estado para dizer que vai ser assim, vai ser aqui. Não tínhamos conhecimento. Terceiros chegavam falando pra gente. Só depois foi marcada uma reunião pra nos dizer que será feito assim, assado. Quer dizer que se o conselho não tivesse chamado vocês para virem aqui mostrar essa maquete (planta) a gente não saberia como seria o centro?”
Nas redes sociais, o secretário Domingos celebrou: “Quando assumi a pasta vi o tamanho do desafio que é lutar para o Desenvolvimento de políticas públicas voltadas à juventude, e essa conquista impulsionará o nossos jovens para o Desenvolvimento.”
Apesar do pedido de ‘desculpas’ pela ausência de comunicação com setores da sociedade que representam a juventude na região do Médio Mearim, Tatiana Pereira pontuou, ao lado do engenheiro Enison Hipólito Rocha, as vantagens da instalação do centro no Parque João do Vale. De acordo com ela, será mais ampla, o que dará ao parque, além da vertente ambiental, um caráter social. O foco, segundo ela, é para a formação das juventudes, focando nas vocações profissionais da região, incluindo parceria com o Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão–IEMA e Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Energia do Maranhão – SEINC. Ela destaca que esse é o primeiro centro destinado à juventude no estado.
O COMJUV tenta agora, acompanhar o término de uma obra, ao qual, por desconhecimento, não pode fazê-la desde o seu início. A tentativa de ir após a reunião foi frustrada, sob a alegação ela precisa ser feita com equipamentos. Rigor não visto em outras visitas.
A juventude tem pressa e o governo também, mas por motivos diferentes. Em Pedreiras já se respira popular “tempo de política”. O governo Flávio Dino é questionado pelo atraso de anos, da conclusão do Hospital Macroregional, que do ponto de vista eleitoral, será inaugurado, juntamente como o parque, no tempo “certo”. O dia 30 de agosto é a data prevista, inclusive para a entrega do Centro de Referência da Juventude, que deve contar com a vinda de Flávio Dino (PSB).
Uma obra dessa importância tem valor simbólico e prático, importante no contexto de realidades periféricas, como o Goiabal. É de uma pedagogia necessária a espaços marginalizados. No fim de tarde a garotada ocupa a área onde seria construído o centro. Faz dele campo, pistas de skate… O sonho dos pequenos moradores do lugar dividem espaço com o alcoolismo de quem definha em bares da redondeza. Há ainda o impacto das drogas nas comunidades do bairro. Peregrinos em busca de políticas para si, Pâmella, Bruna, Paolla, Paulo e outros jovens do Goiabal terão que andar um pouco mais.
