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domingo, fevereiro 16, 2025

Doutrina Monroe e Destino Manifesto: os fundamentos para o expansionismo estadunidense

OPINIÃO


A Doutrina Monroe foi proclamada pelo presidente dos Estados Unidos, James Monroe, em 1823, estabelecendo a política de oposição à interferência europeia no continente americano. Sob o lema “América para os americanos”, essa doutrina visava impedir a recolonização das nações recém-independentes na América Latina e afirmar a liderança dos Estados Unidos no hemisfério ocidental. Ainda em meados do século XIX, o conceito de Destino Manifesto emergiu como a crença de que os Estados Unidos tinham a missão divina de expandir seu território e disseminar seus valores de liberdade e democracia por toda a América do Norte. Essa ideologia justificou a expansão territorial para o oeste, resultando na deslocação de populações indígenas e na influência sobre países latino-americanos que buscavam sua independência.

Sem necessariamente defini-las, é importante dizer que muitas outras doutrinas fizeram parte da política externa estadunidense, notadamente o Big Stick/1901-1909(continuidade da Doutrina Monroe), a Doutrina Truman/1947 (contenção comunista), Doutrina Carter/1980 (Proteção dos interesses dos EUA no Golfo Pérsico), Doutrina Reagan/1980-1991 (Final da URSS), Doutrina Bush/2001 (Guerra preventiva ao terror). As doutrinas podem ser definidas como um conjunto de princípios que servem de base a um sistema e relacionam-se a disciplina, ensinamentos.

Neste início de 2025, o mundo se depara com uma nova doutrina, a Doutrina Trump, numa referência ao presidente eleito Donald John Trump. Essa doutrina apresenta semelhanças com as anteriores, mas também é possível identificar algumas diferenças. Em comum, observa-se a ênfase no expansionismo e na afirmação da pretensa supremacia estadunidense, bastante presente nas campanhas de Trump para a presidência dos EUA (2016 e 2024) e representada pela afirmação “Make America Great Again ou Torne a América Grande de Novo”. A sigla bem que pode ser um trocadilho “MAGA”(algo pouco abundante).

A Doutrina Trump, conforme delineada pelo “Projeto 2025”, elaborado pela Heritage Foundation (Instituto de pesquisa e de políticas públicas conservadoras), propõe a expansão do poder presidencial e a promoção de uma visão social ultraconservadora. Entre seus objetivos estão restaurar a família como centro da vida americana, desmantelar o Estado intervencionista, defender a soberania e as fronteiras da nação, e assegurar o direito divino dos indivíduos de viverem livremente. Além disso, a Doutrina Trump busca expandir a influência dos Estados Unidos em regiões como Panamá, Groenlândia e até mesmo no espaço sideral, marcando uma nova era do imperialismo deles. Assinou também uma ordem executiva para mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América. Como se não bastassem, em pleno cenário de mudanças climáticas, eles grandes emissores de poluentes para atmosfera, anunciaram a saída do Acordo de Paris (Acordo Climático) e da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Todas essas abordagens refletem de certa forma, a crença de que a força dos EUA lhes confere o direito à expansão, alinhando-se ao conceito histórico do Destino Manifesto. Aliás, quando “eles” (os americanos do norte) se intitulam “nós somos a América”, a impressão que tentam passar é a de que os americanos do centro (América Central) e do sul (América do Sul), não existem, são apenas extensões ou apêndices de seu imperialismo.

Como diferença da Doutrina Trump, em relação às outras, pode-se dizer que ela apresenta uma postura mais assertiva em relação à redefinição de políticas internas e externas dos Estados Unidos, ou seja, aponta os “alvos” diretamente. A ordem exclusiva que baniu ações afirmativas (políticas públicas voltadas para grupos que sofrem discriminação étnica, racial, de gênero, religiosa). Essa ordem visa desmantelar programas sociais já estabelecidos desde a presidência de Lyndon Johnson, que se estendeu de 1963 a 1969. Ao tempo em que promove um  sistema de contratação baseado no mérito, também estabelece a ordem para que o governo reconheça apenas dois sexos, buscando eliminar políticas de identificação de gênero.

Diante do exposto e de outros absurdos não apontados aqui, mas noticiados na imprensa mundial, cabem muitas, mas façamos uma pergunta:e o mundo vai assistir calado a mais essa política imperialista expansionista dos estadunidenses?

Bom, a resposta não é muito fácil. A comunidade internacional tem demonstrado preocupação e descontentamento em relação à política expansionista dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump. Líderes globais têm apelado à “cabeça fria” para evitar a escalada de tensões, enfatizando a importância da cooperação e do diálogo diplomático. A União Europeia, por exemplo,  e outras organizações expressaram o desejo de colaborar com os Estados Unidos, enquanto países como China e Rússia aguardam oportunidades para melhorar as relações futuras. No entanto, as ações expansionistas dos EUA, justificadas pela retomada da doutrina do “destino manifesto”, têm potencial para intensificar as tensões internacionais, especialmente em áreas estratégicas como o Canal do Panamá e a Groenlândia. Dessa forma, embora a comunidade internacional não esteja assistindo passivamente às políticas imperialistas dos Estados Unidos, as respostas variam entre apelos à moderação, busca por cooperação e preocupações sobre possíveis escaladas de conflito. Mas há também aqueles que já esbravejaram entoando “aqui não”, casos da diplomacia canadense (ameaça de taxação tarifária) e da Dinamarca (tomada da Groenlândia).

A postura do Brasil, um dos alvos dos EUA abaixo da linha do Equador, é marcada por cautela e pragmatismo. A fala de Trump em entrevista de que “não precisa de nós e que nós precisamos mais deles” parece desconhecer que somos a 6ª economia do mundo (após ultrapassar Canadá e Alemanha) e com mercado consumidor gigantesco. Nesse momento é preciso separar questões ideológicas dos interesses comerciais, visando manter um relacionamento equilibrado com os EUA.

Temos que ver até quando essa política diplomática dos estadunidenses se sustenta. Afinal, ela pode conduzir o país a um certo isolacionismo em tempos de globalização. Práticas isolacionistas podem dificultar o relacionamento entre os países. Possíveis barreiras comerciais e  aumento do dólar podem dificultar a situação econômica do mundo e do Brasil. Diante desse cenário, parece ser necessário que o Brasil considere o fortalecimento do multilateralismo nas suas relações comerciais, especialmente com a China, hoje, seu principal parceiro. O BRICS original (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) pode ser, quem sabe, uma das formas de se tentar mitigar possíveis impactos negativos decorrentes das políticas norte-americanas e até buscar mais espaço nas decisões internacionais.

Por José Edson da Silva Barrinha, Professor de Geografia do IFMA/Campus Pedreiras

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