COLUNA
Esse segundo semestre de 2025 será lembrado por historiadores, sociólogos, jornalistas, analistas políticos, entre outros profissionais que se debruçarão para entender, falar e escrever sobre o que vem ocorrendo no país desde as eleições de 2022, quando então parte do chamado “centrão” e a “extrema-direita” brasileira saíram derrotados. Pelo menos dois episódios trágicos escancararam o que de pior tem na politica brasileira e que possuem estreita relação com a derrota citada acima: A PEC nº 3/21 (Proposta de Emenda à Constituição (PEC da Blindagem; leia-se: PEC da bandidagem) e a Medida Provisória (MP) de 2023 que defendia a taxação dos BBBs (Bancos, Bets e Bilionários).
Em relação à PEC da bandidagem, veja o que a mesma defendia. Para que o Supremo Tribunal Federal (STF) pudesse processar um parlamentar, seja ele deputado ou senador, a Câmara ou Senado deveriam autorizar previamente (em votação secreta), tal procedimento. Essa blindagem foi uma iniciativa de partidos da oposição, direita e centrão, sob a justificativa de ser uma resposta a supostos “abusos” e alegações de perseguição do STF. A PEC ampliaria a proteção de parlamentares contra investigações, processos criminais e civis (mesmo que tenham cometido crimes graves como assassinato, roubo, pedofilia e violência doméstica) e além disso, poderia blindar uma série de congressistas que são investigados atualmente no STF por desvios de emendas parlamentares e por atuação contra a soberania do Brasil. Noutras palavras, quem é contra a justiça é fora da lei.
Diferentes setores da sociedade e artistas mostraram-se contra a PEC e foram às ruas do país. Os protestos surtiram efeito. Primeiramente devido à má repercussão, vários deputados (as) pediram desculpa por voto a favor do texto. Depois o Senado, por unanimidade rejeitou a proposta, arquivando-a.
Quanto à MP que previa taxação dos super-ricos, os deputados federais do centrão e extrema-direita, a derrubaram. Se quer, foi colocada em votação. Na proposta derrubada pelo Legislativo, o governo tinha elevado imposto sobre bets, fintechs, entre outras ações. A derrubada da medida traz consequências para o governo. Mas é justamente aqui que se justifica o título desse texto. O objetivo da derrubada da MP foi colocar em xeque o governo, que terá problemas para honrar os compromissos, os investimentos e tentar equilibrar as contas neste ano e as previstas para 2026. Não por acaso, isso ocorre justamente no momento em que o atual presidente da república (Lula), segundo pesquisas eleitorais, ganharia de qualquer um nas eleições de 2026, se as mesmas fossem agora.
Os diversos setores representantes da elite empresarial e industrial brasileira se manifestaram apoiando a decisão do parlamento. Não poderia ser diferente. Enquanto isso, a classe trabalhadora, que realmente sustenta o país e que gera a riqueza dos ricos, continuará sendo sobrecarregada com impostos e a jornada de trabalho 6X1. Já os bilionários continuarão desfrutando de privilégios tributários. O governo foi golpeado.
A aprovação para quem ganha até R$ 5 Mil Reais ficar isento de IR, guardava de forma maquiavélica a real intenção dos congressistas, ou seja, retirar a taxação sobre super-ricos. O que de fato ocorreu. Chamou a atenção do mundo, a forma como os congressistas comemoraram a retirada da MP. Parecia uma final de campeonato. Muitas orações. O pior é que essa manifestação histérica dos deputados da oposição – entendo oposição ao povo brasileiro – foi acompanhada por parte da população que desde 2018 fazem ecoar gritos de patriotismo, muito embora carreguem nas costas a bandeira dos EUA e no peito a Magen David. São eles que ainda continuam à espera de uma interferência extraterrestre para solucionar os problemas do Brasil. Enquanto isso não ocorre, se contentam com sua própria derrota. Sim, para muitos destes, sobretudo os mais pobres a derrota governista, serve como uma espécie de manipulação alimentar diária. Parecem mesmo viver em uma realidade paralela, distante da sua própria. Pepe Mujica foi feliz e assertivo ao dizer: “O pior inimigo de um pobre é outro pobre que se acha rico e que defende aqueles que os tornam pobres”.
Parece trágico, mas é essa a realidade de milhões de brasileiros ludibriados por um falso discurso, capitaneado pela mídia e por alguns que se dizem líderes religiosos, mas que no fundo são empresários da fé alheia. Pelo exposto, o cenário político brasileiro apresenta-se marcado por uma crescente antecipação eleitoral para 2026, com movimentos estratégicos, retóricas polarizadas e discursos de ódio envoltos em narrativas que ultrapassam os limites tradicionais de um período pré-eleitoral. As eleições do passado colocavam em lados opostos adversários políticos de esquerda e de direita. Agora não. O que há é ódio pelo outro.
Há uma oposição entre os que defendem a democracia e os que defendem o autoritarismo político. Essas manifestações não são apenas reflexo da competição partidária, mas revela tensões latentes nas instituições, nos discursos públicos, desvios de caráter e nas expectativas populares. Esse congresso que temos atualmente é sim “inimigo do povo”. É o pior de toda a história da redemocratização. A realidade paralela é assim, explícita, sendo marcada por muita desinformação ou percepções exacerbadamente negativas e equivocadas, a partir da disseminação de fake News por parte daqueles que não engoliram a derrota nas eleições de 2022.
Por José Edson da Silva Barrinha, professor de Geografia do IFMA e Doutorando em Políticas Públicas na UFPI.






