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domingo, outubro 26, 2025

Da antecipação eleitoral de 2026 às manifestações histéricas de uma realidade paralela

COLUNA


Esse segundo semestre de 2025 será lembrado por historiadores, sociólogos, jornalistas, analistas políticos, entre outros profissionais que se debruçarão para entender, falar e escrever sobre o que vem ocorrendo no país desde as eleições de 2022, quando então parte do chamado “centrão” e a “extrema-direita” brasileira saíram derrotados. Pelo menos dois episódios trágicos escancararam o que de pior tem na politica brasileira e que possuem estreita relação com a derrota citada acima: A PEC nº 3/21 (Proposta de Emenda à Constituição (PEC da Blindagem; leia-se:  PEC da bandidagem) e a Medida Provisória (MP) de 2023 que defendia a taxação dos BBBs (Bancos, Bets e Bilionários).

Em relação à PEC da bandidagem, veja o que a mesma defendia. Para que o Supremo Tribunal Federal (STF) pudesse processar um parlamentar, seja ele deputado ou senador, a Câmara ou Senado deveriam autorizar previamente (em votação secreta), tal procedimento. Essa blindagem foi uma iniciativa de partidos da oposição, direita e centrão, sob a justificativa de ser uma resposta a supostos “abusos” e alegações de perseguição do STF. A PEC ampliaria a proteção de parlamentares contra investigações, processos criminais e civis (mesmo que tenham cometido crimes graves como assassinato, roubo, pedofilia e violência doméstica) e além disso, poderia blindar uma série de congressistas que são investigados atualmente no STF por desvios de emendas parlamentares e por atuação contra a soberania do Brasil. Noutras palavras, quem é contra a justiça é fora da lei.

Diferentes setores da sociedade e artistas mostraram-se contra a PEC e foram às ruas do país. Os protestos surtiram efeito. Primeiramente devido à má repercussão, vários deputados (as) pediram desculpa por voto a favor do texto. Depois o Senado, por unanimidade rejeitou a proposta, arquivando-a.

Quanto à MP que previa taxação dos super-ricos, os deputados federais do centrão e extrema-direita, a derrubaram. Se quer, foi colocada em votação. Na proposta derrubada pelo Legislativo, o governo tinha elevado imposto sobre bets, fintechs, entre outras ações. A derrubada da medida traz consequências para o governo. Mas é justamente aqui que se justifica o título desse texto. O objetivo da derrubada da MP foi colocar em xeque o governo, que terá problemas para honrar os compromissos, os investimentos e tentar equilibrar as contas neste ano e as previstas para 2026. Não por acaso, isso ocorre justamente no momento em que o atual presidente da república (Lula), segundo pesquisas eleitorais, ganharia de qualquer um nas eleições de 2026, se as mesmas fossem agora.

Os diversos setores representantes da elite empresarial e industrial brasileira se manifestaram apoiando a decisão do parlamento. Não poderia ser diferente. Enquanto isso, a classe trabalhadora, que realmente sustenta o país e que gera a riqueza dos ricos, continuará sendo sobrecarregada com impostos e a jornada de trabalho 6X1. Já os bilionários continuarão desfrutando de privilégios tributários. O governo foi golpeado.

A aprovação para quem ganha até R$ 5 Mil Reais ficar isento de IR, guardava de forma maquiavélica a real intenção dos congressistas, ou seja, retirar a taxação sobre super-ricos. O que de fato ocorreu. Chamou a atenção do mundo, a forma como os congressistas comemoraram a retirada da MP. Parecia uma final de campeonato. Muitas orações. O pior é que essa manifestação histérica dos deputados da oposição – entendo oposição ao povo brasileiro – foi acompanhada por parte da população que desde 2018 fazem ecoar gritos de patriotismo, muito embora carreguem nas costas a bandeira dos EUA e no peito a Magen David.  São eles que ainda continuam à espera de uma interferência extraterrestre para solucionar os problemas do Brasil. Enquanto isso não ocorre, se contentam com sua própria derrota. Sim, para muitos destes, sobretudo os mais pobres a derrota governista, serve como uma espécie de manipulação alimentar diária. Parecem mesmo viver em uma realidade paralela, distante da sua própria. Pepe Mujica foi feliz e assertivo ao dizer: “O pior inimigo de um pobre é outro pobre que se acha rico e que defende aqueles que os tornam pobres”.

Parece trágico, mas é essa a realidade de milhões de brasileiros ludibriados por um falso discurso, capitaneado pela mídia e por alguns que se dizem líderes religiosos, mas que no fundo são empresários da fé alheia. Pelo exposto, o cenário político brasileiro apresenta-se marcado por uma crescente antecipação eleitoral para 2026, com movimentos estratégicos, retóricas polarizadas e discursos de ódio envoltos em narrativas que ultrapassam os limites tradicionais de um  período pré-eleitoral. As eleições do passado colocavam em lados opostos adversários políticos de esquerda e de direita. Agora não. O que há é ódio pelo outro.

Há uma oposição entre os que defendem a democracia e os que defendem o autoritarismo político. Essas manifestações não são apenas reflexo da competição partidária, mas revela tensões latentes nas instituições, nos discursos públicos, desvios de caráter e nas expectativas populares. Esse congresso que temos atualmente é sim “inimigo do povo”. É o pior de toda a história da redemocratização. A realidade paralela é assim, explícita, sendo marcada por muita desinformação ou percepções exacerbadamente negativas e equivocadas, a partir da disseminação de fake News por parte daqueles que não engoliram a derrota nas eleições de 2022.

Por José Edson da Silva Barrinha, professor de Geografia do IFMA e Doutorando em Políticas Públicas na UFPI.

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