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quinta-feira, dezembro 12, 2024

A cor do vento

CRÔNICA


Quatro de novembro, o relógio marcava 6h41min. Respirei fundo, fechei os olhos e novamente me permiti sentir aquela onda de sensações que fazia cada poro do meu corpo vibrar em fascínio. Era ele, chegava manso e em segundos fazia uma bagunça gostosa. Sentia seu cheiro ao afagar meu rosto e se emaranhar nas infinitas curvas que desenhavam meus cabelos. Desde a tenra infância o admirei. Não raras vezes me pegava sonhando acordada, imaginando seu cheiro, sua cor, quais as suas feições, me debruçava a contemplá-lo em todas as suas fases, da brisa ao furacão.

Era um grande e interessante mistério aos olhos curiosos, ele tinha o poder de transformar. Era a força em dias ruins, prenúncio de temporal e também seu fim. Era metamorfose constante, o fim e o advento de um novo ciclo. Pensava comigo: se a terra é mãe, decerto ele é pai. Se a terra gera frutos, ele se encarrega de multiplicá-los. É ele a velha-guarda que carrega o dom de conduzir os novos e o faz com esmero. Sabe o momento certo de agir, nos mantém vivos de forma singela. Faz-nos sentirmos vivos! Sempre o desejei.

Não o vemos, tampouco tocamos, mas sentimos. Eu o sinto. Como sinto! Te sinto tão vivo e te vejo e anseio pelo teu afago. Quando brisa, descanso. Em todas as minhas tempestades eu te senti, tal qual um furacão, a soprar para longe de mim todas as minhas angústias. Sempre o amei, em todas as suas formas, do silêncio ao eco, era a minha música preferida. Ainda é! Imprevisível, talvez fosse a parte mais divertida em tê-lo, logo eu tão metódica. Nunca se sabe quando será inverno ou verão, ou se virá como brisa ou furacão, o fato é: sempre o esperei e sempre soube que viria. E veio!

Finalmente chegamos no alto da serra. Ansiosa pelo balanço pois não achava suficiente toda a ventania que alcançava aquelas altitudes, queria mais! O máximo que pudesse tê-lo. Corri em direção ao balanço segurando a minúscula mão que me acompanhava ofegante ante todo alvoroço causado por uma suposta aventura prometida. Sentei e a coloquei em meu colo iniciando o balanço em seguida. Após minutos de silêncio contemplando a vista quase surreal, a pequena, pergunta com uma curiosidade sincera:

– Mamãe, se o vento tivesse cor, qual seria?

– Âmbar. Respondi.

– Qual cor é essa?

– É a mesma cor dos olhos que tu vês antes de dormir.

– Por que o vento teria a cor dos olhos do papai?

– Porque ele te acaricia os cabelos e o rosto antes de dormir, assim como o vento está fazendo agora. E ele está nos impulsionando no balanço…

– Igual papai fez comigo no pé de caju… Então o vento é pai?

– Sim… Pera, teu pai te empurrou de cima do pé de caju?

– Faz dias Mamãe, a gente foi no rio e… – EITA FURACÃO.

Por Adriane Costa

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