Na última semana o Brasil acompanhou o julgamento e a sentença do réu André Aranha, acusado de estuprar a influencer Mariana Ferrer, em uma boate em Santa Catarina. A repercussão do caso voltou a ser reproduzido, após o jornal The Intercept divulgar as imagens do julgamento e a sentença em uma reportagem com o título: “Estupro culposo”. Em meio às cenas de humilhação do advogado de acusação contra a vítima, a omissão do juiz que acompanhava o caso e o resultado da sentença que absolveu o réu, o sentimento de revolta por parte da população se intensificou nas redes sociais, alcançando os assuntos mais comentados do mundo no Twitter e mobilizando grupos, em diversos estados do Brasil, em sua maioria composto por mulheres, a se articularem em ato por justiça.
Em Pedreiras, no Maranhão, vozes em prol de Mariana Ferrer e os milhares de casos de feminicídio e Violência contra a Mulher, anualmente, foram ecoadas, neste domingo (08), em uma mobilização no Mercado Central. O ato: “Justiça por Mariana Ferrer”, contou com representantes do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA), Sindicado dos Professores do Estado do Maranhão (SIMPROESSEMA), Centro de Recuperação Santa Maria Madalena (CRESMA), Centro de Consciência Negra de Pedreiras e região do Médio Mearim, Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Pedreiras (SINDSERPE), Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Liga de Mulheres de Pedreiras e a Marcha Mundial para as Mulheres.
Durante o ato, a representante da Liga das Mulheres de Pedreiras e do movimento de consciência Negra, Francinete Braga ressaltou o objetivo do movimento. “Hoje estamos aqui em defesa da mulher, um evento em prol de Mariana Ferrer. Nós, da liga das Mulheres de Pedreiras não poderíamos nos calar, por isso estamos aqui hoje não só por Mari Ferrer, mas por todas as mulheres, por todas as crianças que são estupradas todos os dias. Cada estuprador, cada canalha que estupra uma mulher, tem uma desculpa esfarrapada. Sempre querem culpar a nós mulheres. As vítimas é quem são condenadas pela justiça e isso é inadmissível”, destacou.
Integrantes do MIQCB, se deslocaram de Santana e Santarém, interiores de São Luís Gonzaga, para participarem do protesto. Em sua apresentação, a quebradeira de coco, Maria Dominga compartilhou seu manifesto em forma de música, cantando: “nosso direito vem, se não vir nosso direito o Brasil perde também”, ressaltou em um trecho da música. Logo após, Maria de Jesus, conhecida por dona Dijé, concluiu: “eu sou quebradeira de côco, sou dona de casa, sou mulher, mãe e vó, eu sou de um movimento que defende não só as mulheres quebradeiras, mas todas as mulheres de uma nação. Por isso, quero que essa luta fortaleça”, finalizou dona Dijé, coordenadora do MIQCBM.
Em Pedreiras, os casos de violência contra a mulher e feminicídio são recorrentes, tanto quanto as falhas de uma parte da sociedade que visualiza a mulher como principal responsável de tal acontecimento, pelas suas vestimentas, pelos locais que ela frequenta e no caso de Mariana Ferrer, pelas fotos ela tira. “Nós talvez não vejamos nessa geração a justiça acontecer, mas a semente que nós vamos deixar plantada e o legado que nós vamos deixar aos nossos netos, aos nossos filhos, bisnetos aos homens de bem que existem e que continuam a nos apoiar, vai crescer, vai expandir e vai contaminar. Se engajem nessa luta!”, manifestou a professora Hiarley Silva Corrêa.
Em meio à movimentação do mercado central, típica de uma manhã de domingo, pessoas paravam para apreciar o movimento e alguns para tentar entender o que estava acontecendo. Parado próximo a uma banca de roupas, um senhor, que não quis se identificar, ressaltou não saber o que significava o feminicídio e afirmava que vestimentas dizem muito sobre o caráter de uma mulher. Por isso a mobilização é uma forma de conscientizar autoridades, mulheres e homens sobre o respeito e a justiça.
Outras mobilizações ocorrerão também em vários estados do Brasil, onde milhares de mulheres se articulam na ocupação de ruas e avenidas por justiça. O movimento, organizado principalmente pela Marcha Mundial para as Mulheres, marca as manifestações com vozes de apoio, cartazes, frases de indignação e faixas que carregam dados de vítimas da violência contra a mulher. Representantes do movimento solicitam a obrigatoriedade no uso de mascaras e que cada manifestante leve seu álcool em gel, em virtude da pandemia da Covid-19.
Por: Mayrla Frazão