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quinta-feira, dezembro 12, 2024

Vinícius Louro e Fred Maia: líderes sem palavra na terra de Ferreira Gullar

Dois mil e vinte e dois já começou, me lembram os incontáveis carros que passam por mim na avenida Rio Branco, adesivados com o nome “Fred Maia”. Em poucas palavras, Fred, natural do Rio Grande do Norte, fez a vida por essas bandas até entrar na política, com um jeito de ser que gosto de chamar de “new coronelismo”. Foi vice-prefeito de Trizidela por duas vezes, nos mandatos de Jânio Balé, assumindo o posto de prefeito nos oito anos seguintes. Em 2020, emplacou vitórias, diante de seus adversários, nas duas margens do rio Mearim: Dr. Deibson Balé foi eleito em Trizidela do Vale e Vanessa Maia, esposa de Fred, vitoriosa na cidade mãe, Pedreiras.

Sem sombra de dúvidas, no farejo da fisiologia política, o grande perdedor foi Raimundo Louro. A dita ‘maior liderança política da região do Médio Mearim’ não viu o filho, deputado Vinícius Louro, eleito, muito menos a filha, Priscila Louro, candidata a vice na chapa liderada por Dr. Humberto Feitosa. Na ressaca da derrota muitos diziam ser aquele pleito uma pá de cal.

É importante destacar que Raimundo Louro e Fred Maia já estiveram no mesmo saco. Na dita política do interior do estado, deputado tem ares de santo e o povo precisa rezar bastante para ter sua prece atendida pelos ‘deuses de barro’. Pedreiras, que economicamente ocupa importante espaço na região, é penalizada ou beneficiada, dependendo de quem esteja no poder. Trizidela é sempre plano B, mas no mandato de Vinícius Louro passou a ser plano A em virtude da desarmonia entre o deputado e o prefeito Antônio França. O mesmo se deu com o governo do estado, aqui mais representado por Simplício Araújo que Flávio Dino. As muitas obras nesse 2021 dizem sobre a necessidade de separar política da politicagem, mas eles usam outro termo: estratégia.

Quando não há alinhamento – e não ouso chamar de político, mas de projeto de poder– o asfalto não vem, a obra do hospital não é finalizada e não se ouve falar em parque. Não importa se você, cidadão, vai morrer pela falta do hospital, se vai engolir um pouco mais a poeira em virtude da falta de asfalto ou se seu filho não terá um espaço para sociabilizar. O asfalto, o parque, o hospital sempre foram realidades possíveis, mas não são nossas urgências que falam mais alto. Como disse numa mesa de bar, certo dia: isso é crueldade.

No fim das contas, cada um no seu campo de atuação, Simplício e Vinícius seguem a mesma premissa e a ela chamo de crueldade. Uma lógica que não segue nossas urgências. O hospital virá, mas não no tempo de nossas urgências. Será entregue quando os ecos de um ano eleitoral predominam. O parque não surgiu por acaso. Da mesma forma o Corpo de Bombeiros não foi para Trizidela por acaso. Ainda que sirva à Pedreiras, ser sediado na cidade vizinha tem um peso político e diz sobre o momento político que abarcava a relação de Vinícius Louro com os gestores das suas cidade. Entre ele e Fred Maia era só amor.

Esse jeitinho de fazer política, contudo, não permite que o trono seja dividido em dois. Raimundo Louro e seu grupo não conquistaram nenhum e a partir de agora luta para não perder o único com o qual seu sobrenome assenta. Tal qual 2020, ele e seu antigo aliado Fred Maia, estarão em campos opostos e chego ao ponto mais importante deste artigo: nenhum deles é nosso. Ambos lutam por projetos de poder que os enraízem nele, numa alternância de poder de fachada com leniência do judiciário. Primeiro Vanessa Maia, depois os filhos do casal, os netos… Em pleno século XXI seremos regidos por uma oligarquia. A mesma lógica vale para Raimundo Louro e sua prole.

No afã de se manterem no poder, políticos esquecem o que dizem, porque ter palavra não é um princípio importante. Se fosse, Simplício e Fred não estariam no mesmo palanque. É o que acontece agora com Antônio França e Raimundo Louro. Percebam a lógica nefasta com a qual se faz política nessa região: Vinícius Louro, que deixou de beneficiar Pedreiras por desagrado ao prefeito Antônio França, agora o tem como aliado.

“Eu, como ex-prefeito, entendo que para buscar um nome fora da cidade para apoiar seria um pouco complicado, até porque Pedreiras é um município que sempre busca votar num filho desta terra, e hoje o nome mais viável para Pedreiras é o Vinícius. Temos certeza que nós conseguiremos sua reeleição e iremos trabalhar para o futuro, pois acredito que os amigos que me ajudaram na eleição passada também possam me acompanhar não só como eleitor, mas também como um cabo eleitoral, para contribuir com a campanha do Vinícius, assim mostrar a nossa força”, disse o ex-prefeito Antônio França ao jornalista Nilton Lee, destacando os 6.262 votos que conseguiu angariar em 2020. Se esquece que não terá a máquina sob sua destra em 2022.

“Não adianta agora, com a aproximação do período eleitoral, o prefeito querer aparecer com discursos, prometendo emprego, porque isso ele já fez na eleição passada e nada cumpriu. Passei muito tempo calado e somente observando, esperando que as ações da cidade de Pedreiras pudessem acontecer, mas nada foi feito até agora”, disse o deputado Vinícius Louro, na tribuna da Assembleia Legislativa do Maranhão, em 15 de agosto de 2019 .

“A maior perversidade que ele fez com os servidores públicos foi roubar o dinheiro da previdência… O cidadão que se diz moralista, tirando o sono das pessoas. A maior benfeitoria que o Fred fez para Trizidela do Vale foi parcelar em 20 anos a previdência social”, acusou Vinícius, com documentos em mãos, no programa Tribuna 101, em 16 de março deste ano. Fred negou ter cometido tal crime.

É importante lembrar de um personagem que integra a coalizão de Vinícius. Ela gira em torno de Josimar Maranhãozinho (PL) pré-candidato ao governo do Maranhão. O nome do parlamentar é um dos nomes citados em documentos obtidos pela Polícia Federal (PF), na Operação Ágio Final, deflagrada no fim de 2020. Ela investiga “um esquema de extorsão contra prefeituras que foram beneficiadas com as emendas obtidas por deputados. Nos valores totais citados, Josimar teria repassado o valor total de R$ 1.500.000, já a propina cobrada do gestor R$ 375 mil”, informou o jornal Folha de São Paulo.

Arte/Montagem: Joaquim Cantanhêde

Apresentado este prisma, onde não existem santos ou homens de palavra, haverá os que hão de evocar a máxima “deputado da terra”, ainda que estes tenham idoneidade questionada. O grupo de Vinícius circunda um deputado investigado pela PF, o grupo antagonista beija os pés de Fred, que dentre as muitas broncas na justiça, responde pela suposta tortura de um menor, com caso em segredo de justiça. Em sã consciência, não podemos negligenciar estes fatos. Não podemos vender nossa decência em prol dos projetos de poder de figuras tão decadentes. Por isso reitero que um lado ou outro, nenhum deles é o nosso.

E que lado é o nosso? A luta do outro que também é nossa. Nosso lado é às claras, onde o que é dito pode ser ecoado sem medo e sem vergonha. Nosso lado são ideias erguidas sob o testemunho do sol. Nossos sonhos e lutas jamais irão florescer à sombra do alpendre da elite local. Esta é a missão que nos está posta, sob o risco de protelarmos um futuro mais democrático para Pedreiras: construir pontes capazes de suportar todas as lutas de frentes progressistas. A gente não quer só asfalto, mas ter para onde ir: escola, universidade, maternidade, museu e até gabinete. Ainda que eles digam que não, os passos são nossos.

Entre Vinícius e Fred, escolho o povo.

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Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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