O coroné é populista. Não lhe bastam as vidraças dos carros, quer estar na boca do povo. Nestes tempos, em que se avizinha o sacrilégio da ida às urnas, não perde um dia de feira. Na terra de Benedito, ele, como bom jacaré, camufla sua impiedade. Ergue a lona do teatro de si, para vender uma imagem na qual nem ele acredita.
O coroné adora um jargão. A oratória, que pode ser aprimorada, se vale de frases de efeito. Nesse país governado pelo capitão de coisa alguma, é uma aposta inteligente, pois ainda surte efeito. Resquícios de uma educação que legitima a repetição e condena o refletir. É graças a ela que jacarés se criam, expulsando onças do pé do lajeiro.
“Se Deus é por nós, quem será contra nós? ” Diz o coroné por onde passa, à sombra de um chapéu que leva seu nome. Haja autoidolatria! O Deus que o coroné reconhece não está no céu, mas um pouco abaixo do peito. Na terra de Benedito está para nascer um remake de Padim Ciço.
Mas esse apego do coroné ao divino só engana os distraídos. A sabedoria popular bem discerne esse tipo de artimanha. Numa terra de tantos líderes políticos capengas, fica fácil, ao coroné, se colocar como o milagreiro. Neste caso, facilmente desmascarável. O WhatsApp está aí para isso. Não existe milagre na política. A política é o milagre, produzido por mulheres e homens em uma vereda comum.
Nas nuvens, a autoestima do cidadão o impele a supor que o destino de um povo dele dependa. Cai na armadilha que um dia vitimou os agora esquecidos da política local. Lembra-me um outro figurão que teve como lema de campanha, “Salve Pedreiras”. Sábio, da parte dele, seria olhar para nossa história recente. A prepotência não vai muito longe nestas terras banhadas pelo Mearim. O povo que acolhe também vomita.
Ele insiste em trazer Deus para debaixo de sua lona. Na sua boca Jeová vira avalista. Mas quem acompanha essa sina sabe que é um bolsonarista em busca de poder. Numa terra com forte simbolismo religioso, ele, ‘o ungido do senhor’, frequenta missas, cultos e terreiros. Isso tem nome: oportunismo.
Merece nossa gente tão pouco? Nosso povo, de alma grande, pode ser representado por tão mesquinho projeto de poder? Em que momento da história aceitamos caber em uma embalagem tão medíocre?
Sua ‘política pública’ é um palanque eterno. Num constante desafio aos que enxerga como inimigos. Mas ele não é unanimidade e achará resistência. O seu projeto não é sobre nós, não é sobre democracia. Ele apenas a suporta, mas na penumbra é o que sempre foi, o que aprendeu a ser.
O coroné não é o escolhido de Deus. É parte de uma safra de políticos que fazem da política trampolim para conquistas não coletivas. Me recuso a acreditar que Deus seja cabo eleitoral de um cidadão que usa a política para sua alto promoção. Deus é do povo. O coroné se coloca entre o povo por oportunismo. Ele só é mais um.
Cresci ouvindo dizer que somos um povo diferente. Então, em que momento passamos a nos encantar por tão pouco? Em que momento, esta terra que pare gente grande, se converteu em feudo de coronés importados? Nossa política força as correntes ou as fortalece? Essa terra fértil, chamada Pedreiras, não precisa de heróis que caem do céu, basta um pouco de chuva. Política não é um presente, não é favor, não é uma face, é uma semente plantada por muitas mãos, responsabilidade nossa. O coroné é egocêntrico demais para entender. Como bem cantou Zé Ramalho, “Falo da vida do povo. Nada de velho ou de novo”.