Para falar algo sobre Samuel Barrêto, escolho um olhar macro: foi escolhido para muitas Missões, e cumpriu muito bem todas elas, se conectando com seu propósito de vida, com seus conterrâneos e contemporâneos, com a natureza e sociedade, deixando em tudo a sua marca.
A última vez que nos encontramos foi antes do começar o isolamento social, em Trizidela do Vale, Maranhão, na casa da poetisa Maria do Socorro Menezes (esse presente de afeto que ele deixou pra gente), onde sempre marcávamos visitas para abraçá-la e receber seu carinho numa sessão de poemas novos, o que me lembrava muito as histórias que ele contava ter vivido com Iracema de Brito, a Poeta do Transwal.
Sua partida marca o início de uma missão para sua cidade e estado natais, e, principalmente para quem acredita que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. É certo que Samuel buscava ajuda, engajamento e parceiros para seus projetos, porém, ele sempre fazia a hora e fazia acontecer! Hoje o patrimônio intelectual, social, literário e artístico que Samuel nos deixou, só não é maior do que a pessoa que ele foi em vida. E todos nos sentimos muito parte dessa missão de cuidar de sua memória – do Latim MEMORIA, de MEMOR, “aquele que se lembra”. Portanto é necessário que nos lembremos para que ela exista.
Em conversa com Paulo Pirata, na ocasião da despedida de Samuel, considerávamos sobre as atitudes que cada artista pode fazer pela memória de seus pares, ao mesmo tempo que também aguarda atitudes que só o poder público pode tomar. Dar preferência à lavra de artistas da terra, consumir seus produtos, acolher não somente a memória, mas a presença. É certo que Pedreiras é uma das comunidades maranhenses que melhor faz sua lição de casa e com certeza, acolherá com atitudes, ações e respeito a memória de seu poeta maior – Falar de Samuel como poeta maior de Pedreiras, pode até levantar polêmicas, mas, se referindo a quem entre os vates, nasceu, cresceu, vivenciou cada minuto de sua vida e palmo de sua terra, com a grandiosidade de sua presença, contribuição e obra, não houve outro.
No último dia 16, ao conferir uma foto de Samuel posando ao lado da estátua de João do Vale, que Chico Viola colocou no Instagran, comentei como sendo uma imagem profética, que talvez num futuro não tão distante seja concretizada. Conhecendo toda a capacidade poética de Wescley Brito, um dos que em Pedreiras podemos dizer que é do mesmo naipe de Samuel Barrêto, não fiquei surpresa, mas extremamente maravilhada pela descrição sobre como pedimos a Deus por sua permanência entre nós, pela definição do “sacerdócio” e missão de Samuel destacando sua capacidade de ajuntamento, acolhimento e projeção para seus pares, até um momento em que novamente pode ser descrito como profecia ou até nuances de uma solicitação inicial, em nome de todos nós ao poder público de Pedreiras:
“Teu legado pra sempre continua
Tua energia nunca passa
Teu nome estará em alguma rua E
teu busto ornará alguma praça”

Ouvir sua família se expressar sobre o cuidado com sua obra, mesmo já tendo essa segurança, deixa a comunidade, o mundo e a arte confortáveis. Traz um sentimento de segurança e satisfação, por alguns dos nossos não terem essa dádiva. É certo que o tempo e a vida colocam tudo em seu devido lugar, porém há missões que nós atuamos como sujeitos principais da ação. Que todos os sentimentos de possibilidades e energias que gerem ações contínuas possam nos levar a retribuir ao Poeta do riso largo – como dizia Elisa Lago – tudo que fez por sua comunidade e por cada um de nós, com atitudes para a memória do maior Poeta Pedreirense contemporâneo.
Por Ana Nerés Pessoa, professora, poetisa, artesã, ativista cultural, pesquisadora, catalogadora de obras literárias, membro da Academia Esperantinopense de Letras e Academia Poética Brasileira.