Nesta sexta (10), Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Dom Tomás Balduino (Cedoc/CPT) divulgou dados parciais do relatório Conflitos no Campos, com informações que compreendem ao período de 01 de janeiro a 31 de agosto de 2021
Os dados parciais apontam um aumento nas “ações de resistência dos povos, comunidades tradicionais e movimentos sociais, após o primeiro ano de pandemia. O número de famílias em ocupações e retomadas registrado em 2021, teve um aumento de 558,57%, passando de 519 para 3.418, o que já corresponde a mais que o dobro do número total de famílias registrado em todo o ano de 2020 (1.391)”.
Os dados mostram que em 2021 foram registrados, até aqui, 26 assassinados com relação a conflitos no campo. Um aumento de 30% no número de assassinatos em comparação com 2020. “Das 26 vítimas de assassinatos, 8 eram indígenas, 6 sem-terra, 3 posseiros, 3 quilombolas, 2 assentados, 2 pequenos proprietários e 2 quebradeiras de coco babaçu”, destaca o relatório.
Neste ano, 103 pessoas morreram, o que representa, em termos percentuais, um aumento de 1.044%. Destes 101 eram indígenas Yanomamis – 45 deles crianças.
Segundo a CPT: “Nos primeiros oito meses de 2021 foram registradas 1.278 “Manifestações de Luta”, com a presença de 360.781 pessoas. No mesmo período de 2020 foram 768 Manifestações de Luta, um aumento de 66,40%. As Manifestações de Luta que abordaram a Questão Indígena tiveram um aumento de 146% em comparação com 2020. De janeiro a agosto de 2020 foram registradas 46, já no mesmo período de 2021 foram registradas 113 Manifestações de Luta com essa temática”.

O advogado Diogo Cabral, da Federação dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares do Estado do Maranhão (Fetaema), classificou o cenário como brutal. Em suas redes sociais fez referência aos dados do relatório. “Dados parciais da @cptnacional apontam que, dos 26 assassinatos por conflitos no campo este ano, 21 ocorreram nos estados da Amazônia Legal. Somente no Maranhão, ocorreram 9 assassinatos, 1/3 do total. Brutalidade!” disse ele.
Nem o governo federal sob regência de Jair Bolsonaro e nem o governo estadual do Maranhão, que tem como gestor Flávio Dino, se manifestaram sobre os dados.
“Tem sido recorrente. Há anos o Maranhão sofre, estando entre os estados com mais violência, ameaças e conflitos no campo. Estamos numa conjuntura nacional muito difícil em todo país. Nesse período pandêmico as comunidades sofreram ainda mais ameaças. Em tempo, as comunidades se organizam para se proteger do vírus e também das invasões de seus territórios. Essas invasões acontecem por empresas, fazendeiros, com o avanço do agronegócio, nessa fronteira agrícola de MATOPIBA”, destaca Lenora Rodrigues, coordenadora da CPT- Maranhão.
No âmbito nacional, a CPT, criada em junho de 1975 (nos nebulosos anos da ditadura), por ocasião do Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia, numa convocação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), se faz presente nos territórios em luta. “Com sua pastoralidade, espiritualidade, solidariedade e afetos. Caminhando com os povos: comunidades tradicionais que estão em luta no Brasil”, destaca Lenora, enfatizando que o acompanhamento também é feito com formação para organização e articulação dos territórios em via de resistência.
Detalhes e gráficos no link no site da CPT.