É inegável afirmarmos o poder de Rachel de Queiroz na literatura nacional, sendo vista como uma figura responsável por quebrar diversos paradigmas em sua época, a fortalezense alcançou variados êxitos em sua vida, carregando o título de ser a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Dona de uma opinião forte e relativamente polêmica, a escritora possui como uma de suas marcas a representação feminina em seus personagens, onde podemos observar com clareza em Memorial de Maria Moura.
Publicado em 1992 por uma Rachel de Queiroz mais madura, somos telespectadores de uma briga familiar envolvendo herança e disputa de terra logo nos primeiros momentos do enredo. Órfã, Maria Moura se vê desafiada a abandonar o local onde nasceu e se criou após alguns primos afirmarem que possuem direito sobre aquele espaço. É a partir desse momento que percebermos sua personalidade imponente, onde ela se recusa a ceder sem antes lutar, ateando fogo no local quando se vê sem escolhas e posteriormente partindo com um grupo de homens para reivindicar uma outra área, enfrentando alguns impasses pelo caminho.
Ambientado em um sertão onde a seca é presente, apesar do relato da própria Rachel de Queiroz afirmar ter se inspirado em Rainha Elizabeth para desenvolver sua personagem, vemos em Maria Bonita uma grande similaridade, principalmente no que diz respeito a destreza por seus objetivos alinhados ao furto, elemento presente no movimento do cangaço.
Ainda que leve seu nome no título, o núcleo de Maria Moura não é o único explorado na narrativa, onde encontramos em paralelo personagens secundários interessantíssimos, como o Beato Romano, antigo padre que abandona sua batina por conta de um crime e se junta ao grupo.
De fato, o caminho traçado pela autora para nos entregar a história de Maria Moura é instigante, tendo em vista a fluidez da narrativa e o engate certeiro dos acontecimentos que aproximaram o leitor ao livro. Porém, é possível encontrarmos alguns desfalques que ocasionam lacunas, como o desaparecimento de personagens relevantes para o enredo, mas ao meu ver, nada que estrague a experiência sempre benéfica do contato com Rachel de Queiroz.
Por: @leituranasnuvens