Homenagem
Quando cheguei em Pedreiras, em meados de 1996, escolhi Raimundão do Táxi como meu condutor particular. Ficamos tão próximos, que tornei-me passageiro exclusivo de seu táxi. Lulu Braúna, quando entrava no táxi de Raimundão, dizia: “Vixe! Catinga de Allan!”.
Ele me tratava por meu filho na intimidade e entre amigos; e por doutor só na frente de estranhos. Dessa forma, no decorrer de poucos meses, Raimundão preencheu meu coração do vazio existencial enorme, que existia, que senti quando voltei a Pedreiras e não reencontrei meu pai, que falecera num acidente automobilístico, no início de meu curso médico no Rio de Janeiro.
Eu nunca imaginei que sentiria tanta falta do meu pai tanto depois de sua morte. Por isso bebia muito e eram porres e mais porres. Raimundão, com seu jeitão todo molengo, afetivo, carinhoso, ia me aconselhando, cuidando de mim, preencheu esse vazio existencial e tomou no meu peito o lugar de pai afetivo.
Tinha autoridade sobre mim. E eu o obedecia. Sabia a hora de me fazer parar de beber, afastava de minha mesa pessoas inadequadas e perigosas, cuidava do meu dinheiro, salvou minha vida inúmeras vezes. Me tratava como um filho. E eu ganhei um pai melhor do que eu tinha antes.
Foi o cupido da minha relação que me levou ao meu primeiro casamento. Seu carro tornou-se local de encontro e de ida ao motel para encontrar-me com minha futura esposa Anaysa. Depois me levava a São Luís para eu me encontrar com ela nas minhas madrugadas embriagado e apaixonado. Foi com ele que fui buscar o meu primeiro carro zero KM que comprei. E foi ele que veio dirigindo e inaugurando o carro de Caxias a Pedreiras, Maranhão.
Raimundão era meu amigo de verdade. Até hoje tenho saudades dos meus tempos do Fiat Elba do Raimundão… De sua companhia, seus conselhos, seus “causos” e suas histórias da primeira casa de Reggae de Pedreiras, a Babilônia.
Raimundão morre comigo em falta com ele… Vida ingrata essa, que em seu curso deixamos para trás pessoas que tanto nos serviram, que nós amamos e nos amam. Tenho uma dívida com ele grande. Não é financeira. É de vida. Nunca o trouxe a SL para comermos um caranguejo e um peixe na praia e ele tinha vontade. Nunca o trouxe no meu AP.
Essa vida é muito curta e nos consome. Parece ontem que voltei a Pedreiras e lá de vão 27 anos… Quanta coisa fiz que não devia e quanta que devia não o fiz, e o tempo não volta atrás.
Nunca mais ouvirei a voz negra, típica quilombola de meu pai afetivo Raimundão. Nunca mais ouvirei suas risadas alegres, já alto de cervejas, suas histórias e “causos”. Nunca mais ouvirei dele declarações de seu amor por mim e seus conselhos “chatos”. Mas também nunca o esquecerei e nunca deixarei de deixar guardadinho seu lugar especial em minha vida. E para sempre.
Que Deus lhe recompense por toda a sua bondade com todos aqui nesse mundo cruel!
Por Allan Roberto Costa Silva – apenas mais um dos filhos postiços do Raimundão do Táxi.