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terça-feira, janeiro 21, 2025

Profissionais da educação em tempo de pandemia

Ninguém discute a importância que tem a educação formal na sociedade. Neste caso, ninguém discute a importância dos profissionais da educação na formação social e acadêmica das novas gerações. No entanto, essa área está cada vez menos prestigiada em diversos países, como exemplo, o Brasil.

O piso nacional do magistério é de R$ 2.886,15 com relação ao último reajuste que se deu no ano de 2020. Sendo que esse valor, por conta da legislação não ser muito clara, é entendido que é obrigatório apenas para quem trabalha 40 horas semanais, fazendo com que na prática, educadores que trabalham 20 horas recebam metade desse valor. E ainda é sabido que em muitos municípios, com pouca fiscalização, se paga valores ainda menores, principalmente a funcionários contratados.

Então, não é de hoje que os educadores sofrem por falta de investimento na educação, em todos os setores que envolvem a atividade, desde recursos para equipamentos, estruturas adequadas às escolas, falta de treinamento e formação continuada. Portanto, não é de se espantar que os nossos indicadores não sejam os melhores do mundo. Isso é decorrência, principalmente do baixo investimento dos governos (federal, estadual e municipal) na área.

Nesse momento de pandemia, ficou mais evidente o descaso com os profissionais da educação (coloco aqui profissionais, porque não se limita exclusivamente aos professores, como em muitos textos e reflexões é abordado, pois esse descaso é também com diretores, supervisores e coordenadores), que muitas das vezes não são sequer ouvidos sobre decisões que irão impactar diretamente suas vidas, como abertura ou não de escolas, nesse momento em que se encontra o país, com cada vez mais números de infectados e mortos pelo coronavírus.

Os profissionais da educação sempre estiveram sobrecarregados e no momento estão ainda mais, já que são obrigados a lidar com situações e ferramentas no qual não receberam formação adequada ou nenhuma formação, principalmente aqueles que possuem mais tempo de trabalho. As universidades nunca pensaram essa realidade, como tão pouco as instituições governamentais. A formação do magistério nunca foi pensada para o desafio que se dá no contexto atual de aulas remotas, muito menos nesse cenário de grandes dificuldades por parte de professores e alunos. Situações que desnudam as desigualdades sociais e as inseguranças que esses profissionais são submetidos nas suas atividades.

Há uma grande dificuldade para adaptar aulas presenciais a realidade das aulas remotas (online). Tem que saber usar Youtube, Google Meet, Canva, Google Classroom, entre outras tantas ferramentas e aplicativos. Devido à inúmeras realidades, que vão desde a dificuldade em trabalhar a tecnologia, os aplicativos, e até mesmo falta de equipamentos adequados, internet rápida, as aulas muitas vezes não possuem a qualidade merecida. Isso não é culpa dos professores e gestores, mas sim das circunstâncias e do pouco investimento que a educação e esses profissionais recebem. Essa pressão constante, vindo parte da sociedade e parte dos governos, está afetando cada vez mais a saúde mental dos educadores.

São inúmeros relatos que demonstram um trabalho para além daquilo que é o seu dever como profissional. Servidores utilizam recursos próprios e dispendem um tempo maior que sua jornada para atender melhor os educandos, e infelizmente parte da sociedade não reconhece esse esforço. Não existe essa ideia de que professor não queira a volta das aulas na antiga modalidade, como é atribuído muitas vezes nas redes sociais, ao contrário, pois as aulas presenciais são menos desgastantes psicológica e emocionalmente. O que se quer é apenas o respeito para que esses profissionais possam escolher não serem contaminados e receberem o mínimo necessário para desenvolverem seus trabalhos da melhor maneira possível.

É inadmissível aceitar o que está ocorrendo em muitos estados, aonde esses profissionais não podem sequer emitir opinião sobre a retomada das aulas. Isso é definido nos gabinetes de governadores e prefeitos ou mesmo de um juiz. Felizmente no estado do Maranhão, nesse aspecto, deu exemplo aos demais, já que realizou inúmeras escutas a comunidade escolar, o que não vemos em muitos outros estados.

Nesse sentido, é natural querer voltar à normalidade das atividades apenas quando os indicadores negativos da pandemia diminuírem. No entanto, não é o que se observa, principalmente no setor particular, aonde se tem uma grande pressão dos empresários, donos dos empreendimentos escolares, para que os mesmos voltem a funcionar.

Agora mais do que nunca, é necessário àqueles que defendem verdadeiramente a educação de qualidade e transformadora, estarem do lado desses profissionais, tão pouco reconhecidos, muitas vezes cobrados além de suas atribuições e que só querem não ter que escolher entre a eminente morte e seu salário, que já é tão pouco para o trabalho que se propõe a fazer – mudar a sociedade com a educação.

Por Jaime Ribeiro Lopes, professor de Geografia

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