Hoje cedo, vi num programa televisivo, durante uma matéria sobre a filantropa e ativista ambiental que se tornou a modelo Gisele Bündchen, uma coisa que me deixou bem surpreso, sorrindo muito de uma ação compartilhada pela apresentadora. Em meio a entrevista sobre os projetos ambientais que a modelo desenvolve, a entrevistadora mostrou num recipiente, no estilo de uma bacia quadrada, de tamanho não maior que um travesseiro comum, uma coisa que agradou muito as duas. Tratava-se de uma pequena plantação de grama! Que foi justificada pela idealizadora como uma forma de pôr o “pé no chão” dentro do seu próprio apartamento.
Me pus a pensar. A que ponto chegamos nós, Homo sapiens, como toda nossa ancestralidade vinda da terra, da natureza, do verdadeiro “pé do chão”. Hoje trancados em nossos apartamentos, nossas casas, nessas “florestas de concreto” vivendo uma vida, muitas vezes tão ligada às tecnologias que, cada vez mais nos trazem virtualidades:
bate-papo virtual, reuniões virtuais, atendimentos virtuais, viagens virtuais, hoje podemos
visitar museus, praias, andar na ruas, feiras, lojas, até na lua temos tour’s virtuais.
Enquanto rodamos o mundo, falamos com todos, fazemos compras, socializamos, trabalhamos, tudo ali na tela do computador ou celular, nosso pé está ali, no chão de concreto, no piso frio e cinza, sem vida e sem conexão com a Terra.
Me doeu em pensar que, esse cenário é o futuro de todos os nossos filhos, netos, bisnetos
e etc. Que, cada vez mais teremos menos contato com a natureza, que essa virtualidade só
há de aumentar e que chegará um dia que estaremos nós, ali, trancados num cubículo
qualquer, sem sair pra nada, recebendo suprimentos através de máquinas e vivendo num
Matrix real. Esse é o nosso futuro irremediável!
Logo em seguida, me alegro por lembrar que ainda estamos aqui, num mundo real e, que
ainda temos a chance de fazer o que nossos descendentes não terão!
Não quero ser hoje, a pessoa que se alegra em pôr o pé numa bacia de grama, pra poder
sentir a natureza! A pessoa que paga caríssimo num supermercado por produtos chamados
orgânicos ou em resorts pra ter um pequena sensação de viver na natureza.
Eu sei o que eu tenho nas mãos e o que eu posso fazer!
E você?
Quanto tempo faz que não vai na beira do rio, pra sujar o pé de areia? Quanto tempo faz
que não vai num “interior” qualquer ouvir os sons da natureza, com seus passarinhos,
grilos, sapos, folhas secas? Há quanto tempo não ouve a sinfonia natural das águas caindo
na cachoeira do Insono? Há quanto tempo não pesca piaba com uma vara de bambu?
Quanto tempo faz que não sobe num pé de goiaba ou manga na beira da estrada? Quanto
tempo faz que não colhe folhas de cuxá ou acerola? Quanto tempo faz que não banha na
chuva forte no meio da rua, buscando biqueiras e imaginando quedas d’água? Quanto
tempo faz que não admira o nascer ou pôr do Sol em um alto qualquer, admirando a beleza
do Pintor Maior? Há quanto tempo?
Quanto tempo faz que você não põe o pé no chão?
Por Claudinez Lacerda, licenciado em Geografia.