O que o atual cenário nos mostra: a busca por imunizantes, desde o surgimento da Covid-19, desviou-se da discussão científica e encontrou na atuação política argumentos que, para além da saúde pública, volta os principais esforços das autoridades para um duelo hegemônico, que avança até os dias atuais. A (des) politização da vacina enquadrou-se em um estágio de personificação de ações de parte das autoridades públicas, principalmente do governo federal, na perspectiva negacionista, que muito falou, por meio do senso comum, mas nenhum progresso realizou.
Mas o interesse político é notório, também, na política pró-vacina, que acabou por transformar o início da imunização no país, em um verdadeiro espetáculo de ilusão, durante as solenidades das primeiras doses, quando não há insumos suficientes pelo atraso dos fornecedores, mas a corrida política está à frente. A partir daqui, traçamos o caminho que transformou a vacina contra a Covid-19, desde a sua inexistência à sua efetivação, em um verdadeiro símbolo político mascarado, de um lado “inimigo” e do outro a “esperança”, refletindo a todo o momento contradições e complexidades, de forma (quase) natural.
“O inimigo é um só, mas a forma de eliminá-lo está polarizada e divide a sociedade, de forma que se vacinar ou não virou uma questão de escolha ideológica”, destaca o colunista Bruna Lima ao enfatizar um dos obstáculos que interfere na imunização em massa da população. Nesse contexto, é importante entendermos a relutância do presidente da república, Jair Bolsonaro, como importante objeto de pesquisa na origem destes desafios, que por meio de sua retórica, contribuiu com o negacionismo da vacina, mas que atualmente, após a chegada das primeiras doses, desviou o seu discurso para “a vacina é do Brasil”.
Por vezes, esbarrando nas contradições de suas próprias palavras, o presidente afirmou nesta sexta-feira (22), mais um discurso negando a eficácia da vacina: “não há nada comprovado cientificamente sobre essa vacina aí”, disse o presidente sobre a CoronaVac, aprovada no dia 17 de janeiro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para uso emergencial, em 100% contra mortes e casos graves.
Segundo a médica infectologista Eliana Bicudo, “a politização de qualquer assunto em relação à pandemia — desde o medicamento, o uso de máscara, o distanciamento social à vacina — só atrapalha. Quando isso ocorre, as pessoas mais conservadoras passam a questionar. Quando temos representantes do governo, importantes formadores de opinião como o presidente, banalizando os cuidados, negando-se a tomar a vacina, as pessoas passam a achar que talvez ele tenha razão”, argumenta a média.
Entretanto, se nos debruçarmos no real significado da palavra politizar, notaremos que as ações do presidente caminham no sentido oposto, isso porque, de acordo com o dicionário, politizar é “dar consciência política a alguém, buscando fazer com que essa pessoa entenda a importância de se ter consciência do que ocorre no âmbito político: politizar os novos eleitores”. Deste modo, politizar a vacina é agregar conhecimento sobre sua importância e explanar a discussão sobre o assunto, o que neste caso, enquadra os discursos de Bolsonaro em uma despolitização.
Seja a nível nacional, quanto local, a despolitização da vacina é o principal desafio de frear vírus, mas até mesmo a política pró-vacina carrega lá os seus interesses, deixando os do povo em segunda instancia.
A vacina chegou! Embora, trazendo mais representatividade do que uma maior quantidade de doses para imunização. Agora a discussão é a compra de novas doses e as investigações do Ministério Público (MP) sobre os inúmeros casos de pessoas furando a fila para receber o imunizante, em todo o Brasil. É, não temos um dia de sossego!
Por Mayrla Frazão
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