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Pedreiras
sexta-feira, outubro 4, 2024

Olho D’água: a distância entre o nome e a realidade

À passos curtos, mas com pressa de chegar, os moradores do povoado Olho D’água, localizado na zona rural de Pedreiras, Maranhão, caminham em busca de melhorias no acesso de um importante recurso natural: a água. Em um trajeto comumente descrito pelo chão de piçarra coberto por pequenas pedras avermelhadas, acompanhamos, naquela tarde de terça-feira, 04 de agosto, a articulação dos moradores da comunidade em manifesto, simbolizado na expressividade de suas vozes, na rima de uma poesia e no erguer da faixa “contra 60 anos de calamidade”, reivindicada por àqueles que, há anos, enfrentam as dificuldades do irregular serviço de abastecimento de água.

Assim, os moradores protestam por melhorias na infraestrutura do poço que canaliza água para os setores da comunidade, atualmente sob responsabilidade da gestão do prefeito Antônio França. “Cobramos na manifestação a troca da encanação e solicitamos uma nova bomba para o poço, porque a que temos não supre. Em no máximo 45 dias ela queima e é mandada para o concerto, mandam de volta e desmantela de novo. O povoado Olho D’água cansou, agora vai começar a cobrar”, afirmou Francisco Herleson, 19 anos, à frente do movimento.

Manifestação dos moradores do povoado Olho D’água (Foto: Francisco Herleson)

Elzanir Gomes da Silva, 29 anos, percebeu na poesia uma oportunidade de chamar a atenção das autoridades e protestou, descrevendo na arte das rimas a situação que os moradores enfrentam diariamente pela falta de acesso à água. “Eu pensei que com a poesia, poderia chamar a atenção das autoridades. Mas até o momento aguardamos a visita do senhor prefeito”, lamentou a moradora que relembra, dentre as várias reuniões organizadas pela comunidade, a presença do Prefeito Antônio França em uma delas, onde o mesmo assegurou aos moradores a compra de uma bomba para suprir a demanda da comunidade, mas a promessa ainda não se concretizou.

Poesia escrita por Elzanir Gomes (Foto: Joaquim Cantanhêde)

De acordo com Herleson, a articulação deste manifesto partiu da comunidade. “Em uma noite de sexta-feira sentamos para discutir com alguns moradores sobre nossas necessidades e decidimos cobrar nossos direitos por meio de uma manifestação”, relatou. Cerca de vinte moradores participaram do movimento. Jucélia da Silva, 30 anos, afirma: “estamos falando do que é nosso por direito, estamos lutando por isso”, declara a moradora que enfatiza a dificuldade que enfrentara no dia anterior pela ausência d’água. “Levantei 5h da manhã pra lavar roupa e não consegui, porque a água não chegou”, indagou a moradora.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, o Nordeste é uma das regiões mais afetadas pela ausência de água, frequente em regiões semiáridas, que sofrem com a falta de chuvas e dependem de cisternas e caminhões-pipa para o abastecimento, principalmente na zona rural. A falta de investimentos na infraestrutura dos poços dificulta a rotina dos moradores. Maria Heloisa do Nascimento relata a principal dificuldade que enfrenta à espera da água: “tenho que estar atenta! chegou água, tenho que encher (os reservatórios) e pronto. Se não encheu, fico sem água”, contou a moradora.

Uma das alternativas utilizadas pela população que sofre com a ausência da água é a perfuração de poços artesianos nas próprias residências, mas nem todos os moradores dispõem de condições financeiras para isso. Francisca Gomes Viana, 60 anos, conseguiu, com ajuda de um amigo abrir seu poço, mas enfatiza a importância da união pela luta dos direitos básicos da comunidade. “Eu tenho meu poço, graças a Deus, mas muita gente não tem e se ficarmos calados vamos perder por completo o único acesso à água encanada que temos. Estamos atrás de melhoria, por isso fomos para a estrada pegar poeira na cara”, finalizou a moradora.

Geralmente, é necessário fazer o acompanhamento frequente da qualidade da água dos poços artesianos a céu aberto, para identificar possíveis contaminações, por isso, de acordo com os moradores, sua utilização é voltada somente para lavar as roupas, mas devido à péssima qualidade e resíduos na água, acaba sujando ainda mais as roupas.

O escape da comunidade está na espera do caminhão-pipa, que abastece as caixas d’águas das residências com água potável. Acertado para abastecer dois dias da semana. “Às vezes passa de semanas sem abastecer, pois eles alegam que o carro quebra”, informou Jucélia.

Moradora Jucélia da Silva e sua Filha (Foto: Joaquim Cantanhêde)

O Secretário de infraestrutura de Pedreiras, Francisco Florêncio, afirma que a comunidade do Olho D’água “dispõe de um sistema de água encanada que chega a todas as residências, apesar da qualidade da água não ser das melhores, o serviço prestado pela prefeitura não impossibilita o acesso à água nesta região”. Ele reitera que para a melhoria do serviço “estamos com um projeto em parceria com a Caema e prefeitura de Pedreiras, onde nos disponibilizamos a comprar algumas bombas pra resolver o problema de alguns locais afetados”, concluiu o secretário.

Em resposta ao protesto dos moradores, o secretário de infraestrutura afirmou que o movimento “não passou de politicagem” para “atingir” a imagem do atual prefeito. A declaração provocou revolta nos moradores. “Não gostei nada desse comentário. Nunca saí de casa pra fazer politicagem pra ninguém, eu fiz muito foi ajudar eles, pois todos os anos eu voto para aquela pessoa que diz que vai fazer ‘isso’ e passa quatro anos, vai embora e não faz. Isso cansa!”, finalizou Francisca Gomes Viana, 60 anos

Moradora Francisca Gomes Viana (Foto: Joaquim Canatanhêde)

Estrada de terra, poeira, sem água para molhar

“Para os políticos é tudo muito fácil. O senhor Prefeito passa pelo povoado de carro, eu queria que ele passasse como nós passamos, todos os dias, alguns a pé, outros de motocicleta ou bicicleta. Queria que ele passasse dessa maneira para ele ver como as pessoas daqui sofrem com a poeira da estrada”, relatou a poetisa Elzanir Gomes.

Na manhã do dia 11 de agosto, funcionários da prefeitura trabalhavam na ampliação e recuperação da estrada, fazendo a “raspagem” com o auxílio de máquinas retroescavadeiras. Os moradores afirmam que este processo agrava ainda mais a ausência de água, uma vez que, “quebra os canos que liberam água pros demais setores da comunidade”, relatou uma moradora que não quis se identificar.

A reinvindicação na estrada é sobre a pavimentação, em virtude da poeira que invade as residências e dificulta o trajeto. Na falta de asfalto, molhar a estrada torna-se a principal opção, se não fosse pela ausência da água. Os moradores que participaram da manifestação reiteram a importância da união da comunidade. “A união faz a força! Se for só alguns e outros não, como teremos força para pedir alguma coisa?”, questionou a moradora Jucélia. “Querem misturar nossos direitos com politicagem, e não é isso. Estamos falando do que é nosso por direito, estamos lutando por isso”, finalizou.

Por Mayrla Frazão

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Mayrla Frazão
Mayrla Frazãohttps://www.opedreirense.com.br
Jornalista - Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão (UniFacema)
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