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domingo, fevereiro 9, 2025

O santo e o coroné

Ao contrário do que ventilou o blogueiro Carlinhos Filho, o mastro não foi uma invenção da igreja para o ícone do “new coronelismo”, Fred Maia, carregar. Dos relatos que me chegam sobre a festa de Benedito, em tempos salvos pela oralidade popular, já foi nitidamente marcada pela influência quilombola, com seus símbolos, ritos e tambores. Natural, já que nosso padroeiro é preto. O mastro é parte disso. Pode ser verificado em outras festas pela redondeza. A chegada de certas lideranças católicas marcaram distanciamento e certas práticas culturais cultivadas por séculos, foram obrigatoriamente abandonadas.

O Festejo de São Benedito é um momento marcante. A cobertura da Alvorada, na semana passada, marcou-me profundamente. O patamar repleto de gente a fim de entrar na igreja, foi uma cena mui simbólica. Retrata o poder que a fé e crenças exercem sobre a vida de um povo, em especial os pedreirenses. Nos eventos evangélicos, ainda que com diferenças doutrinárias, se percebe entrega semelhante.

Cada um atribui ao festejo um sentido diferente. Para dona Tereza Parga é uma coisa, para o coroinha outra, o bispo e por aí vai.

Fred Maia cuida de dar ao festejo o seu próprio sentido. Ele não fala pela igreja. Ele não é o Santuário de São Benedito. Apenas imprime uma tosca perspectiva em suas redes sociais. É natural contudo, que a conduta da própria igreja seja por parte dela questionada. Mesmo a fé católica é composta por gente que pensa diferente. A individualidade não fica em casa quando se vai para a missa. Não é de hoje que religião e política provocam estrondos. Mas já faz tempo que entendo o adorar, também como um ato político. Quando alguém enfatiza que Benedito é um santo preto, isso é um ato político. Lindo e necessário, por sinal.

Voltando para a política… Que sentido Fred Maia dá ao Festejo de São Benedito? Refrescando a sua cabeça leitor: Fred é pré-candidato a deputado estadual. Não há honra, palavra e princípio que o deterá em seu projeto de poder. Poder, é nisso que ele pensa- dia e noite. Ao contrário do invisível Antônio França, quando prefeito, Fred procura estar em todos os lugares e sabe aquele velho ditado “quem não é visto, não é lembrado”? Ele entende e quer evitar essa máxima.

Fred quer ser o centro, jamais figurante. Não quer só observar. Quer ser parte, aparecer nas fotos. Na atualidade, é aquele que melhor simboliza a política do “salvador”, que aparece para apaziguar nossas dores. Mas o Fred que carrega o mastro não é o mesmo dos bastidores e dos relatos que ouço, nenhum deles é agradável. Dizem que ele não costuma rezar, ainda mais se o assunto é dinheiro.

Fred não imagina uma sociedade que não dependa dele. Do dia para a noite acordou com ideia de que, entre cerca de 40 mil pessoas, deveria ser ele o nosso representante na Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão. Com a gestão de sua esposa em alta e o fracasso político dos Louros, que não terão o que mostrar na cidade mãe, deve garantir boa parte da fatia eleitoral de Pedreiras, mas não depende só dela.

Há quem morra de encantos pela política que o ex-prefeito pratica. Mas ela joga por terra o que há de mais vital na política e na democracia: o protagonismo popular. Em 2022, caso não vença, Fred carregará o pesado mastro de Benedito? Ele não era o único fazendo isso, mas o sentido do ato, as razões, são diferentes e com possível incidência na urna. Fred, que é de Natal – Rio Grande do Norte, interpreta, com maestria o que se tem por “político da terra”.

Mas a natureza do mesmo é essencialmente coronelista. Uma vez na política, Fred faz dela fetiche. Vive pelo poder. É o que abre o teatro e ao mesmo tempo encena. Todas as luzes devem apontar para ele. Hoje, legitima sua tendência imperialista na democracia. Numa comunidade com expressiva presença católica, nada mais representativo do que uma foto com cara de cansaço, carregando o mastro de São Benedito. Isso fica no imaginário e é dele que parte dos fiéis eleitores deverão se lembrar no ano que vem. Mas quando ele se insere num rito que não é de seu cotidiano, usurpa do povo seu protagonismo e autonomia. Fred é um colonizador, mas não o único.

Tenho dito e reforço: a ideia da democracia da representatividade, que é o que temos de melhor no momento, tem trazido, como efeito colateral, a ideia de que a ação das comunidades são dispensáveis. É desse sentido que políticos como Fred Maia se nutrem. Sua política se fundamenta na dependência. Infelizmente, acalenta-se a ideia de que os assuntos políticos não podem ser tratados na vida cotidiana. É coisa exclusiva das câmaras e assembleias. As lideranças não surgem da vivência comunitária, mas das negociatas de calada da noite. Numa terra que tanto fala de Benedito, o deus dinheiro é quem manda na coisa pública. Urgente não é eleger um coronel. É formação política popular, diálogo e fortalecimento das bases, articulação comunitária, onde todos assumam a parte que cabe no protagonismo. Num palco plural e não de um homem só.

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Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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