A pandemia, iniciada na China, percorreu o mundo, alterou cotidianos e já soma 1.432.047 mortos. Dos grandes centros às comunidades mais isoladas, o coronavírus não enxerga fronteiras. Santo Antônio dos Sardinhas, povoado quilombola pertencente à Lima Campos, interior do Maranhão, pela a primeira vez, em 131 anos, não dará seguimento ao famoso festejo em honra a Santo Antônio, tradição que anualmente leva centenas de pessoas até a comunidade, num rito mescla o catolicismo, linguagem popular e elementos das práticas religiosas de matriz africana.
“O festejo é uma tradição que chegamos e achamos. Veneramos nosso padroeiro (Santo Antônio dos Sardinhas)”, pondera seu Anasete Rosa, aos 81 anos, o mais antigo entre os homens que espreitam a árvore que será cortada.
Ao abrir mão de um momento simbólico e por isso tão importante, a comunidade Santo Antônio dos Sardinhas optou pela cautela, quando já se fala de uma segunda onda e uma parcela da sociedade parece querer vencer o vírus pela via do esquecimento. Contudo, num lugar que exala misticismo, não é a voz da ciência que fala mais alto. O saber ancestral, os laços com o território e a fé regem a vida de seu povo.
No dia 26 de novembro de 2020, durante a passagem do dia para a noite, o céu viu o mastro ser erguido e em sua ponta, uma bandeira com o santo que manda, Antônio, o casamenteiro. Na base do mastro a terra que dá vida ao verde e decompõe a morte. Nela a marca dos pés dos filhos e filhas do povoado Santo Antônio dos Sardinhas, Lima Campos (MA), que dançam formando um círculo em movimento. Maria Mália, já idosa, é uma delas, como se fosse a primeira vez, trazendo um elemento novo, jamais usando em seus 75 anos de vida: uma máscara.
“Antes de derrubar o pau a gente reza um pai nosso, banha a parte de baixo dele (mastro) com cachaça, solta foguete e é essa alegria toda que você vê aí”, explica o fiel Zé Raimundo. A decisão de manter o rito do mastro, erguido em frente a capelinha, veio de longe, não se sabe necessariamente de que lugar do universo, mas foi repassado por uma conhecida da comunidade, residente pelas bandas de Bacabal. A ordem foi clara. O não levantamento do mastro custaria caro para a comunidade e os mais idosos seriam os primeiros a pagar o preço do reboliço que ocorreria em Santo Antônio dos Sardinhas. No povoado ninguém quis teimar. Árvore derrubada, caule no chão, peso nos ombros, pernadas apressadas até igreja, onde os fies fizeram da árvore caída um mastro erguido. A morte se fez vida num canto do mundo onde a pandemia não é bem-vinda.
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