OPINIÃO
A saga vivida pelos moradores do bairro Maria Rita não é de hoje. De um tempo em que nem WhatsApp existia. O conhecimento histórico de quem acompanham está saga não me permite esquecer disso. Se enquanto cidadão pedreirense comemoro a alvorada da tão sonhada obra, sei, enquanto jornalista, que acompanhá-la de perto é fundamental e não me furtarei em hipótese alguma.
Não resido no Maria Rita, mas como morador de um morro historicamente esquecido – até que um dia fora afastado – sei da importância de infraestrutura na vida das pessoas. Sim, também é sobre dignidade. Isso tem reflexos na autoestima da população e incidência na saúde, por exemplo. Nenhum ambiente é plenamente saudável tomado por poeira e lama.
Com a criação das redes sociais, mais especificamente o Whats, comunidades passaram a discutir suas demandas através do aplicativo. Foi neste contexto que surgiu o grupo do bairro Maria Rita. Que até onde sei, não é o único criado para tratar desta localidade.
Diante das demandas da população pela visibilidade de sua luta, em diferentes gestões municipais, fui, como outros colegas da comunicação, inserido no grupo. Inclusive, em um dos debates ocorridos lá, ficou certo que profissionais da imprensa permaneceriam. Foi o que aconteceu. Isso torna mais prático o acesso dos profissionais à fontes, diante de fatos de interesse daquela comunidade.
Minhas interações foram mínimas, mas sempre mui respeitosas. Na maioria das vezes compartilhando informações publicadas pelo jornal O Pedreirense. Nunca chamei ninguém de “vagabundo”, fato que certa vez ocorreu, de um político (que permanece) em relação a um morador idoso.
O jornalismo que fazemos esteve ao lado da população, por exemplo, quando em um sábado pela manhã, estenderam uma faixa cobrando a referida obra, que se bem executada, mudará a relação da população com o lugar. Ciente de minha missão, procurei ecoar a luta de parte dos moradores, que decidiram ir além de queixas em espaços virtuais. O jornalismo é isso mesmo e continuará sendo.
Contudo, a saga do Maria Rita é atravessada também pela desinformação. E não, ela não tem nada de imparcial. O governo da vez tem espalhado a retórica de que qualquer um que acompanhe de perto, que fiscalize, é inimigo da obra ou basicamente não quer que ela saia. O que chega a ser ainda mais absurdo é que membros da imprensa, alinhados ao governo, fazem ecoar essa tese distorcida. Não se pode confundir o trabalho da imprensa com oposição. São duas coisas distintas. Parte expressiva da população do bairro parece concordar com essa tese. Falam, inclusive, em parar e indagar qualquer um que apareça filmando a obra. Um deles, mais extremista, diz que os que fiscalizam o fazem a serviço do Diabo.
Com a obra iniciada, o grupo “Moradores do bairro Maria Rita” deixou a retórica queixosa de lado, abraçando quem antes criticava (o que faziam com toda razão) e se voltando contra qualquer um, cujo trabalho, inclusive da imprensa, poderia resultar em uma outra paralisação. É como se o início da obra fosse a garantia de uma totalidade que ainda não existe. Segundo a placa só em dezembro.
Neste domingo (09), logo após compartilhar uma postagem desfavorável ao governo, foi excluído do grupo. O que não é um fato isolado, é fruto de um discurso que começa bem longe do bairro, sobre os pisos emadeirados do Palácio Municipal.
Respeito a decisão, que não sei se foi coletiva ou individual, mas reflito sobre ela a ponto de percebê-la tão antidemocrática. Está fundamentada no medo que foi plantando, de que qualquer movimento pode resultar na paralisação da obra e para evitar que isso ocorra, até críticas à gestão devem ser cerceadas. Continuo jornalista, à disposição para ouvir as divergências, ouvir moradores quando seus direitos não forem garantidos, mas lembro, jornalismo é para dias de luta e dias de obra.