“Já devem ter percebido que eu amo sorrir, não é? E vocês, o que fazem vocês sorrirem? Não aqueles sorrisos tímidos. Aquelas gargalhadas mesmo…(risos). Vai, me conta aí”, publicou Vanessa Maia, nas redes sociais, em postagem ilustrada com fotos da prefeita, mãe e mulher sorridente.
Pauleana também é mulher, mãe, mas não é alegria que estampa em uma manhã de sábado (05). Estivemos na residência que a abriga nos piores dias de sua vida. A dor que lhe rasga e não lhe deixa dormir, tem nome, Benjamim, o único filho homem, que chorou por tão pouco tempo e tão cedo se foi. Em função da reportagem que produzimos, não adentrarei os meandros que permeiam o caso. Basta dizer que a família acusa os envolvidos de negligência.
Ao longo de um ano e dois meses de governo, não foram poucas as acusações de negligências direcionadas à forma como é gerido o Sistema Único de Saúde (SUS) em Pedreiras, Maranhão. Os que respondem pela missão, negam ou se calam. Quando o bicho pega, as notas de esclarecimento são cartas na manga. O tempo faz o clamor e a indignação arrefecer, mas não apagam os traumas, o luto e no caso de Pauleana, não trará Benjamim de volta.
Nas redes sociais, Vanessa é bem assessorada. Vende a imagem de política conectada às pautas de nosso tempo. Quando lhe convém, se manifesta sobre questões da atualidade, em especial, demandas das mulheres. É justo que assim seja, mas a Vanessa engajada, repleta de sororidade, sumiria se, de uma hora para outra, acabassem com o Instagram.
A Vanessa Maia, que faz questão de frisar sua maternidade, escolheu como pauta, de sábado, o seu sorriso, que graças ao poder aquisitivo que possui, pode ser bem tratado. De fato Vanessa tem motivos para sorrir: uma casa como poucas na cidade vizinha; condições para ter acesso a bons pediatras, mesmo de madrugada; sua vida é abundante e deduzo que lhe seja mérito e não sorte. A única coisa que Pauleana tem tido em abundância, nos últimos dias, é o leite materno com o qual nutriria seu rebento.
Não conheço Vanessa para além do cargo e o que ela me diz, dele investido, me faz dar graças a Deus por isso. Como jornalista, jamais me esquivarei de dialogar com ela, é do ofício, mas como cidadão percebo sua desumanidade política, seu revanchismo, algo que o sorriso se esforça para esconder. Uma líder, não com natureza de líder, mas como um arranjo de projeto de poder, que desconhece a dimensão de um gesto. Uma mulher que entrou em tantas casas para pedir votos, não tem sororidade suficiente para visitar outra, aos prantos e questionando a conduta da parte mais sensível de sua gestão . Por sinal, segundo Paula, ninguém que integre o governo entrou em contato para ofertar o suporte necessário, ainda mais diante da repercussão do caso.
A cara da gestora só é mais agradável que a de seu mentor político, mas seus gestos e ausências são extensões de quem, mais de perto, lhe apadrinha. A política que Vanessa conhece é essa: teatral e circunstancial. Sua sensibilidade é uma raquítica camada de gelo sobre um lago. Uma observação mais longa e desencantada, traz notável nitidez.
Não há humanidade na ausência de uma líder incapaz de fazer uma simples ligação e para além dos ritos do cargo, dizer que se importa. Não há humanismo numa reconstrução carente de amor, afeto e solidariedade. Pauleana sente na pele os impactos da política sem amor. Não é só uma mãe em luto pelo filho, é uma cidadã descrente do SUS e descrente do poder público. Não nos interessa aqui, Vanessa Maia nas horas vagas, mas a Vanessa prefeita é problema nosso. Ela é parte deste poder público.
Em um sábado difícil para ser jornalista, o choro de Pauleane é o que há de verdadeiro, mais pedagógico que qualquer sorriso.