POLÍTICA
Fontes da diplomacia brasileira atribuem a Celso Amorim a sequência de falas desastrosas de Lula sobre a guerra na Ucrânia durante viagem à China e a Abu Dhabi. Mais: se deixou usar pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov —algo que já era esperado.
O presidente não seguiu as orientações do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que tentou conduzir com cautela a visita do chanceler russo a Brasília. O encontro foi articulado por Amorim, que esteve antes na Rússia em encontro com Vladimir Putin.
Ontem (17), Lavrov deixou a conversa com Lula anunciando que Brasil e Rússia têm posições “similares”.
A avaliação é que se antes era difícil que Lula conduzisse o grupo de paz para a Ucrânia e, com isso, levasse para casa um Nobel da Paz, agora o arranjo é praticamente impossível.
Segundo a análise de uma fonte do Itamaraty, Lula caminhava numa linha tênue —mas estratégica— para tentar conquistar a confiança da Rússia, emitindo sinais de proximidade e, assim, negociar um acordo de paz.
A grande jogada, diz o diplomata, estaria em não criar resistência do outro lado do conflito, a Ucrânia e seus aliados, a Europa e os Estados Unidos. “A menos que haja uma articulação que ninguém esteja vendo, Brasília se embananou”, afirma. A aproximação da Rússia e da China teria de ocorrer num combinado com os outros interessados. “Não foi o que aparentemente ocorreu.”
Nesta terça-feira (18), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a proposta de paz do Brasil “merece atenção”e “precisa ser ouvida”. A dúvida, agora, é saber se o outro lado terá a mesma disposição.
Por Nonato Viegas, em O Bastidor